O que fazer num choque em cadeia

Um choque em cadeia é uma das situações mais perigosas que pode ocorrer numa autoestrada. Saiba como reagir e de quem é a culpa no momento de preencher as declarações do sinistro.

Deficientes condições de visibilidade, com chuva e nevoeiro, pisos escorregadios, degradados e com pouca aderência e trânsito intenso e compacto, são um caldo explosivo em autoestradas ou vias rápidas, que podem originar choques em cadeia de maior ou menor dimensão, com consequências normalmente graves.

A primeira regra a cumprir é a prevenção. Sempre que a circulação em autoestrada é feita com tráfego intenso e má visibilidade, o condutor deve tentar antecipar uma ocorrência do género, evitando distrações e estando em estado de permanente alerta, não só para os carros que seguem imediatamente à sua frente, mas tentando escrutinar o mais longe possível o movimento das luzes da fila — se é rápido, lento ou se está parado.

Obviamente que as condições de manutenção do seu automóvel são indispensáveis para a sua segurança e dos outros. Bons pneus, travões revistos e sistemas de segurança ativa como o ABS, controlo de estabilidade e tração, ou sistemas de travagens de emergência, podem fazer a diferença, e permitir-lhe evitar o embate com o carro da frente em caso de travagem ou paragem súbita.

Mas, a melhor regra para evitar o envolvimento num choque em cadeia é mesmo deixar uma larguíssima distância de segurança em relação aos carros que seguem à sua frente. Será essa distância que lhe permitirá atempadamente interpretar uma ocorrência do género e reagir em conformidade, travando e desviando a trajetória do seu carro (com atenção para não fazer uma mudança de faixa brusca, que pode ter consequências ainda mais gravosas).

Para detectar uma situação de potencial choque em cadeia é importante ver bem ao longe, e por isso deve ter óculos adequados à condução (quase toda a gente precisa, mesmo que pouca gente saiba).

Se vir carros com as luzes de emergência ligados deve abrandar imediatamente, não sem antes verificar pelo retrovisor se o pode fazer, já que o carro que vai atrás de si pode não se aperceber do sucedido e não ter tempo para travar.

Face a um choque em cadeia um condutor deve tentar gerir a travagem para evitar o embate no carro que está parado na via, à sua frente, mas também para evitar que o carro atrás de si lhe entre pela traseira do seu automóvel.

Deve por isso certificar-se que consegue imobilizar o seu veículo em segurança, e simultaneamente alertar os carros atrás do que se está a passar. Na eminência de perigo ligue imediatamente as luzes de emergência e tente desviar-se da trajetória de embate com todo o cuidado.

Mesmo cumprindo todas estas normas, por vezes, um choque em cadeia é uma armadilha inevitável. Se estiver envolvido num, não tire o cinto de segurança e não saia do carro sem que seja completamente seguro e o encadeamento de embates esteja aparentemente terminado. Só nessa altura deve sair do seu veículo e transpor os rails de proteção para uma zona segura, tentando alertar outros condutores que ainda circulam, para o perigo que os aguarda. Se sair do carro prematuramente pode ser atingido por um carro em despiste ou por destroços dos embates.

De quem é a culpa?

O código da estrada estabelece que o condutor deve adequar a condução e tomar as devidas precauções de segurança em função das condições de circulação e meteorológicas. Isto significa que ao embater no carro da frente, a culpa é geralmente sua.

No caso de um choque em cadeia, a culpa será sempre do veículo que provocou o primeiro embate, ou seja, aquele que colidiu em primeiro lugar, sendo o responsável por todos os danos materiais e pessoais que existam nos carros à sua frente.

Outra possibilidade ocorre quando dois veículos colidem e um terceiro embate nos dois acidentados.

Neste caso, depois de determinada a responsabilidade do primeiro acidente, a seguradora do terceiro veículo implicado ficará responsável pelos prejuízos do segundo acidente.

Já se está aqui a ver o imbróglio.

Imagine que conseguiu imobilizar o seu veículo a tempo de evitar o embate com o carro da frente, mas um condutor que seguia atrás de si não conseguiu, e a força do embate levou o seu carro a embater no carro da frente. Neste caso de quem é a culpa nos danos do seu carro e no da frente?

Será naturalmente do carro que circulava atrás de si, mas para fazer prova disso terá de contar com o testemunho do condutor do carro que já estava imobilizado ou de outros.

De qualquer forma, deve sempre documentar o acidente com fotografias dos danos e em caso de dúvidas sobre as responsabilidades do sinistro, esperar pelas autoridades competentes e fazer o relato mais claro e calmo do sucedido, para esperar pelo auto de polícia.

Nos casos de concorrência de culpas (em que ambos os condutores envolvidos sejam culpados), as seguradoras respetivas tentarão isentar-se de responsabilidades e não atribuir a indemnização a que tem direito, alegando que metade da responsabilidade é sua. Nesses casos deve consultar um advogado e apresentar queixa-crime, para que sejam investigadas as circunstâncias e atribuídas as responsabilidades.

Mas, para evitar tudo isto, o melhor é andar de olhos bem abertos na estrada e deixar sempre uma confortável distância de segurança para os carros da frente.