O automóvel no novo luxo asiático

21/11/2016

O automóvel continua a ser um fascínio para as gentes dos cinco cantos do mundo. E continua a dizer muito sobre as sociedades e a sua qualidade de vida. Tanto que aceitamos como boa a ideia de o parque automóvel ser um bom retrato da capacidade financeira de uma cidade, de um país.

Montra de vaidades, também, através daquelas máquinas que, entre nós, vemos mais nos filmes do que nas ruas, o automóvel de luxo é uma realidade em crescendo, sobretudo nos mercados emergentes e naqueles países onde foram abertas as portas a outras realidades.

É normal que possa ver-se um Bugatty Veyron na emblemática Sunset Boulevard, entre a vulgaridade dos Porsche ou a surpresa de um Fiat 500, regra geral Abarth. Afinal, Hollywood está ali tão perto, Rolls e Bentley, de preferência descapotáveis, não são fantasia, Mercedes, BMW e Audi, topo de gama, é óbvio, são “ao pontapé” – e Los Angeles é o que é: o perfume do dinheiro.

Ainda nos States, a atraente Ocean Drive de Miami, com os seus hotéis de ar retro, filme dos anos 50/60, é outro palco de ostentação para delícia dos olhos. A paisagem motorizada muda pouco. É vulgar deparar com um Lamborghini Huracán, Ferrari há muitos, abundam os Teslas, e, claro, não faltam aquelas americanices com quatro rodas saídas de uma qualquer série televisiva.

Na Rússia, guardo a imagem da parada dominical, de fim de tarde, pela gigantesca Nevsky Prospekt, coração da imperial São Petersburgo. As coisas assumem outra solenidade, há um culto diferente, frio como o país e as gentes, o desfile é ao ritmo dos modelos na passerelle. Mas ver um Maserati Stradale na cidade do Hermitage, exibido com soberb, é coisa de que não se está à espera, quando se imagina uma cidade pejada de velhos Lada. Até porque o estilo é outro e ninguém esquece a imagem de um Maybach sujo como um chaço, estacionado à porta de um prédio decadente.

O que se passa na pequena Macau, a que sempre nos sentiremos ligados, é dos retratos mais marcantes que podem guardar-se sobre o fascínio do automóvel e a força da imagem que ele transmite. Macau é uma cidade inacreditável. Cresce todos os dias, e cresce tanto que os 16 km2 do território que esteve 500 anos sob administração portuguesa são hoje mais de 30. Nem admira que os chineses consigam ganhar ainda mais território ao mar. E já começaram…

A cidadezinha que tinha – e continua a ter – um Grande Prémio famoso por se disputar em circuito urbano, e onde correram nomes da história do automobilismo e do motociclismo, que o jogo e um par de casinos ajudaram a crescer, rivaliza com Las Vegas e já supera em sete vezes as receitas do jogo no estado do Nevada – os grandes casinos e as máquinas que pululam pelos bares de todas as cidadezinhas . Vê-se que é uma questão de tempo, tal é a capacidade que se respira, que a imagem da famosa cidade americana passe a segundo plano, no mundo louco do jogo. Hotéis fantásticos, e mais a crescer dignos de cinema, e mais que se adivinham, todas as grandes cadeias, prédios fantásticos, condomínios luxuosos, opulência – é o luxo asiático na sua expressão de grandiosidade. É a nova Macau!

Tudo isto se transpôs para o parque automóvel que é outro verdadeiro luxo. Ora atente-se nisto: em 2014, havia em Macau 1062 daqueles automóveis que consideramos de excepção. A saber: 523 Bentley, 250 Rolls Royce, 158 Maserati, 131 Ferrari. Obviamente, não falta a representação de toda a gama Porsche, BMW, Mercedes e Audi em profusão, os bons desportivos japoneses. Os números, com certeza, não param de crescer.

Tudo isto num território com 425 quilómetros de estradas e mais de 115 mil automóveis e 130 mil veículos de duas rodas (pequenas aceleras na maioria), 3 221 autocarros (só 1868 dedicados ao turismo) e quase 1300 táxis, uma cidade onde o trânsito é caótico, não se pode circular a mais de 80 km/h, e o melhor é aproveitar os transportes públicos a 30 cêntimos ou, pura e simplesmente, andar a pé, o que também não é fácil porque se “tropeça” nos turistas, despejados aos milhares diariamente na cidade.

Até vai haver um Metro de superfície suspenso, mas quem não acredita que continuará a crescer o parque automóvel e a serem cada vez mais aqueles carros de arregalar os olhos?

O automóvel é, de facto, um “objecto” muito especial, a jóia que todos gostam de usar, mas apenas alguns conseguem juntar-lhe os grandes diamantes para fazer a diferença…

Há sempre uma primeira vez

Em Macau há, claro, um stand da Rolls Royce. Fica no centro da cidade, tem um balcão com duas meninas que “arranham” o inglês e estão sentadas atrás de um imponente Phanton II, chassis longo, naturalmente, que aqui o tamanho importa. O movimento não é muito.

Jeans e polo vestidos, sapatos de vela entro e digo ao que vou.

Elas não percebem… “Quer comprar o carro?”

Tenho de me rir, claro, insisto na pergunta e mostro a minha carteira profissional para ajudar no diálogo.

“Ah, Press, you are journalist!”. E riam as duas, riam muito.

O “boss” está em Hong Kong mas têm todo o gosto em dizer-me que se vendem aqui qualquer coisa como 20 Rolls Royce por ano, muitos para os hotéis que têm frotas para ir buscar os VIP ao aeroporto ou aos helicópteros, pois não devem ser gente para viajar no jetfoil, mesmo em 1.ª classe, penso eu.

Então, e quanto custa? Bom, qualquer coisa como cinco milhões de patacas menos uns trocos, o mesmo que dizer 563 mil euros!

A Rolls não está sozinha, nas traseiras, por exemplo, fica a Porsche e no seu “show room” está representada a gama quase toda.

Fui só ver os preços: 1,7 milhões de patacas, ou seja quase 198 mil euros por um Carrera 4. Deve ser por isso que são menos do que os Ferrari…