Num anúncio totalmente inesperado, o mais recente campeão do mundo de Fórmula 1, Nico Rosberg, revelou que irá abandonar, imediatamente, a Fórmula 1!

Tendo tocado o Olimpo dos pilotos de Fórmula 1, ao garantir o título na temporada de 2016, Nico Rosberg chocou o mundo ao anunciar hoje o abandono da modalidade, tendo esta decisão efeitos imediatos na sua carreira.

Através de um longo post na sua página oficial do Facebook, o piloto explicou a sua opção de colcoar um ponto final na sua carreira na modalidade, logo a seguir à conquista do tão ambicionado cetro de campeão do mundo.

Eis o comunicado do piloto na íntegra:

“Nos meus 25 anos de competição, sempre foi o meu sonho, a ‘minha coisa’ tornar-me Campeão do Mundo de Fórmula 1. Através de trabalho árduo, da dor, dos sacrifícios, esse foi o meu objetivo. Agora que já o alcancei, que subi à montanha e estou no pico, isto parece-me acertado. A minha emoção mais forte neste momento é a de gratidão para com todos os que me apoiaram e ajudaram a tornar este sonho numa realidade.

Esta temporada, digo-vos, foi bastante dura. Forcei como louco em todas as áreas após as desilusões dos dois últimos; mas alimentaram a minha motivação para níveis que nunca experienciei antes e, claro, tiveram um impacto naquele que amo, também – foi um esforço de sacrifício de família, dando tudo para atingir o nosso objetivo. Não consigo encontrar palavras suficientes para agradecer à minha esposa, Vivian. Ela foi incrível. Ela percebeu que este ano era o tal, a nossa oportunidade para o conseguir e criou o espaço para que eu pudesse recuperar entre cada corrida, tomando conta da nossa filha, cuidado das coisas quando se tornavam difíceis e colocando o nosso campeonato em primeiro lugar.

“Quando venci em Suzuka, desde o momento em que o destino do meu título ficou nas minhas mãos, começou uma pressão imensa e comecei a pensar em abandonar a minha carreira competitiva se me tornasse campeão do mundo. No domingo de manhã em Abu Dhabi, eu sabia que poderia ser a minha última corrida e esse sentimento limpou a minha cabeça antes da partida. Queria desfrutar de cada momento da experiência, sabendo que poderia ser a última vez… e quando as luzes se apagaram tive as 55 voltas mais intensas da minhas vida. Tomei a minha decisão na noite de segunda-feira. Depois de refletir um dia, as primeiras pessoas a quem contei foram a minha esposa e o Georg [Nolte, da equipa de gestão da carreira do piloto], seguindo-se o Toto [Wolff, diretor da Mercedes-AMG F1].

A única coisa que torna esta decisão totalmente difícil para mim é que estou a colocar a minha família de competição numa situação difícil. Mas o Toto percebeu. Ele percebeu, desde logo, que eu estava totalmente convicto da decisão e isso deu-me confiança. O feito que me deixa mais orgulhoso na competição será o de ter sempre ganho o meu título de campeão com esta equipa incrível, as ‘Flechas de Prata’.

Agora, estou apenas a apreciar o momento. Existe tempo para saborear as próximas semanas, para refletir na qaudra e para desfrutar de qualquer experiência que surja no meu caminho. Depois disso, irei virar a próxima esquina da minha vida e ver o que está reservado no futuro…”

Forjado na competição

A história de Nico Rosberg conta-se quase sempre com uma ligação intrínseca à competição, numa inevitabilidade causada pelo seu apelido. Filho de Keke Rosberg, campeão do mundo de Fórmula 1 em 1982, Nico Erik Rosberg nasceu três anos depois, em 1985, sendo fácil de perceber que, neste caso, ‘filho de peixe, soube nadar’.

Com dupla nacionalidade, Nico Rosberg optou, contudo, pela alemã para competir na Fórmula 1, tendo granjeado um caminho de sucesso nas categorias por onde passou. Desde logo, os primeiros tempos de sucesso foram alcançados na Fórmula 3 Euro Series, competição na qual competiu pela equipa do seu pai, a Team Rosberg, defrontando em 2003 nomes bem conhecidos como Robert Kubica e Timo Glock, curiosamente também eles com passagens pela Fórmula 1, mas sem o mesmo sucesso que Rosberg. Com a sua saída da modalidade, perde-se também o derradeiro dos três pilotos que animaram aquele campeonato e que ainda estavam na Fórmula 1.

O primeiro sinal de que Rosberg teria capacidades para repetir o feito do seu pai foi em 2005, quando o jovem alemão venceu a GP2 Series com a ART, vencendo o primeiro ano em que a categoria teve lugar na sucessão à Fórmula 3000.

Numa coincidência de relevo, Nico Rosberg foi promovido à Fórmula 1 em 2006, assinando com a Williams, a mesma pela qual o seu pai venceu o título de 1982. Ao serviço da equipa de Grove, Nico Rosberg tratou de dar nas vistas, alcançando prestações que o colocaram nos radares das demais formações.

O regresso das ‘flechas de prata’

O ponto de viragem na sua carreira deu-se em 2010, quando se transferiu da Williams para a Mercedes, marca que havia anunciado o seu regresso à modalidade a nível oficial depois de diversos anos de fornecimento de motores à McLaren. A seu lado, Rosberg tinha uma lenda viva do desporto automóvel, nada mais, nada menos, do que o regressado Michael Schumacher, piloto com sete títulos mundiais que saía da sua ‘reforma’ para regressar ao ativo.

A receita parecia a mais indicada para o sucesso, com Michael Schumacher e Ross Brawn (que, num conto de ‘fadas’, havia salvo a equipa de Brackey depois da saída da Honda no final de 2008 e alcançado o título de 2009) a reencontrarem-se na mesma equipa, ao passo que Rosberg era visto como um potencial novo escudeiro para as pretensões desportivas de Schumacher.

Mas, numa era muito diferente da Fórmula 1, Rosberg depressa mostrou que não queria ter o mesmo destino que pilotos como Jos Verstappen, Johnny Herbert, Eddie Irvine ou Rubens Barrichello e depressa deu a entender que tinha argumentos para se impor. Com um monolugar muitas vezes pouco competitivo, acabou por ter mais sucesso do que o veterano compatriota da sua equipa, com este a conseguir equilibrar a contenda interna apenas no seu terceiro ano com a Mercedes.

No final de 2012, Schumacher sai de cena, retirando-se definitivamente, com a Mercedes a contratar para o seu lugar o campeão de 2008, Lewis Hamilton, que na McLaren vinha a perder a competitividade. Foi apenas com a mudança de regulamentos em 2014, com a chegada de motores híbridos turbo V6 que Nico Rosberg e Lewis Hamilton começaram a impor o ritmo na Fórmula 1.

Após duelos que, por vezes, roçaram a animosidade pura em pista, Rosberg foi batido por Hamilton nos anos de 2014 e de 2015, mas na época de 2016 tudo se conjugou para o tão ambicionado título por parte de Rosberg, que conseguiu vencer Hamilton na luta que se tornou quase monocórdica pelos campeonatos da categoria. Numa prova emotiva, em que todos os olhos estavam postos em si e na prestação de Hamilton, bastou a Rosberg ser o segundo (atrás de Lewis Hamilton) para arrecadar o seu primeiro e último título da F1.

No final da sua carreira, Rosberg leva números de peso: 23 triunfos em grandes prémios, 30 pole positions. 57 posições no pódio e 20 voltas mais rápidas.

Num ano em que se despediram da Fórmula 1 nomes como Jenson Button e Felipe Massa, eis outra cara familiar que vai deixar de constar nos paddock de 2017.

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