Nico Rosberg admite estar inseguro relativamente ao tipo de tática que vai utilizar em Abu Dhabi. Se Lewis Hamilton fizer o mesmo que nos três últimos Grandes Prémios de Fórmula 1, leia-se, vencer, o alemão não pode ser quarto classificado, senão perde o título.

Por isso, está indeciso relativamente à melhor tática a adotar, pois, basicamente, tem que marcar os pilotos da Red Bull, tentando andar à frente deles, mesmo que não queira tentar ir buscar Hamilton.

Até pode optar por tentar ir mesmo para a frente da corrida, que seria basicamente a melhor posição para gerir: “Até quinta-feira vou pensar nisso. Tenho tempo!” Rosberg tem 12 pontos de vantagem para gerir, o terceiro lugar serve-lhe na perfeição, mas como a história já provou, Yas Marina não é um circuito fácil, especialmente de ultrapassar, que o diga Fernando Alonso, que perdeu um título ‘agarrado’ atrás de um carro e piloto bem mais lentos, Vitaly Petrov e a Renault. Por outro lado, Rosberg vai ter em cima de si um tipo de pressão que nunca teve, e sabendo do historial do passado, é preciso que tenha mesmo mudado muito para não deixar que essa pressão o afete.

Vettel tricampeão, decisão por apenas 3 pontos em 2012

Para a história fica o terceiro título seguido de Vettel, e o essencial da história encontra-o nas linhas abaixo, mas o que provavelmente não sabe é que Adrian Newey só precisou de ver uma fotografia do Red Bull de Vettel, para ver quais eram os danos do acidente que sofreu, e demorou pouco mais de uns segundos para dizer a Christian Horner quantos décimos por volta perderia Vettel com ‘aquelas’ peças a menos no seu carro. O facto da corrida ter sido totalmente caótica, com a pista húmida ou muito molhada, ajudou, e no final o alemão assegurou o seu terceiro título. Numa qualquer outra equipa, provavelmente, todos tinham baixado os braços resignando-se à má sorte, mas só porque não tinham nas suas fileiras um génio como Newey…

Adrian newey

Antes da decisão

Quando Sebastian Vettel e Fernando Alonso chegaram a Interlagos, separava-os apenas 13 pontos, com vantagem para o alemão. Logo, ao espanhol era necessário terminar pelo menos em terceiro, com o seu rival a não conseguir melhor que décimo, para poder aspirar ao seu terceiro título. Não eram famosas as hipóteses do espanhol, mas quando Vettel fez um pião na primeira volta, após o contacto de Bruno Senna, as suas hipóteses ao cetro caíram drasticamente, e não houve ninguém no universo Red Bull que não tenha apanhado um susto daqueles… Ainda por cima, Alonso já estava em terceiro no início da segunda volta. No entanto, Vettel não baixou os braços e impondo um ritmo infernal, foi ganhando posições. À nona volta era já sétimo. Não se podia pedir mais ao jovem alemão, que reagiu rapidamente às alterações das condições da pista, trocando sempre para pneus mais adequados para não correr riscos desnecessários. Ao todo, Vettel fez quatro paragens nas boxes – nas voltas 10, 19, 52 e 54 – contra três pitstops de Alonso, o que lhe permitiu rodar consistentemente com borracha ideal em cada momento. Houve momentos em que era notória a sua contenção para evitar excessos. No polo oposto, Alonso rodou sempre entre os quatro primeiros, vindo a beneficiar do acidente entre Hamilton e Hulkenberg para subir para segundo. Mas sem argumentos para atacar a liderança de Button na parte final, deixava nas mãos do acaso as suas hipóteses de chegar ao título, que não se veio a confirmar.

Quem mais merecia?

Contudo, é bom relembrar que, quando o campeonato chegou às miniférias de verão, após o GP da Hungria, Alonso era líder destacado com 164 pontos e três vitórias, ao passo que o seu rival tinha menos 42 pontos e somente uma vitória. Como é que Vettel conseguiu inverter a situação? A resposta está na competitividade RB8 vs. F2012, algo que Alonso referiu várias vezes, dizendo que a sua luta era com Adrian Newey. O espanhol foi avisando que sem vitórias não conseguia bater-se pelo campeonato, e a verdade é que não voltou a vencer, apesar ter terminado sempre no pódio, exceto na Bélgica e Japão, quando se viu envolvido em incidentes logo na partida. Já o piloto da Red Bull terminou igualmente sempre no pódio (exceto o GP da Itália, por falha mecânica), mas somou de permeio quatro importantes vitórias, que viraram por completo as contas a seu favor. Ganhou merecidamente o título, que também não ficaria mal a Alonso, numa época das mais competitivas de sempre da história da F1. Assim vale a pena…

Corrida louca no GP do Brasil

O GP do Brasil foi repleto de ação e indecisão desde o momento de arranque, com Hamilton a liderar o pelotão e Felipe Massa, que saíra de quinto, a desafiar Button pelo segundo posto. No entanto, ainda na primeira volta, Vettel é tocado por Bruno Senna na descida do Lago (Pérez também desiste em virtude deste incidente) e, enquanto o brasileiro fica fora da corrida, o alemão regressa e depressa passa a recuperar posições. Massa segura o ataque de Mark Webber e, no meio da luta, na travagem para a Curva 1, é Alonso que aproveita e toma o terceiro posto.

Face ao domínio que evidenciaram nos treinos e na qualificação, não foi surpresa ver os dois McLaren na dianteira da corrida, com Hamilton seguido de perto por Button. Começam a surgir os primeiros sinais de dificuldades com a fraca aderência da pista, e Alonso chega a sair de pista no final da reta da meta. Dos homens da frente, Webber é quem, à 10ª volta, inaugura as trocas de pneus, ‘calçando’ intermédios em resposta aos primeiros sinais de chuva contínua, sendo seguido progressivamente por todo o pelotão. Jenson Button foi, a par de Nico Hulkenberg, o único que se manteve com slicks, pelo que ambos lideravam a classificação quando todos rodavam já com pneus intermédios. Nesta altura, já Vettel chegou ao top ten, enquanto Fernando Alonso se mantém na quarta posição, o que não servia as aspirações do espanhol da Ferrari.

Nico Hulkenberg mostrou que o seu andamento não era obra do acaso e, depois de várias tentativas, assume a liderança por troca com Button na volta 18 e começa a averbar voltas mais rápidas. Nesta altura já tinham ficado pelo caminho Pastor Maldonado (pião, na primeira volta) e Romain Grosjean (despiste na quinta volta) e, em virtude de diversos toques, a pista encontrava-se com destroços em diversos pontos, provocando um furo a Nico Rosberg. A Direção de Corrida decide mandar sair o Saftey Car para a limpeza do traçado, enquanto atrás dos líderes Hamilton, Vettel e Alonso já trocaram mais do que uma vez de pneus, alternando entre intermédios e slicks, pois as condições climatéricas estão muito instáveis.

Hora de decisões

Quando a corrida foi retomada na volta 30, já Hulkenberg e Button tinham feito a sua primeira troca de pneus e estavam, tal como todos os restantes em pista nesta altura, com pneus slicks. Atrás do alemão da Force India encontrava-se a dupla da McLaren, seguida de Alonso.

Após um ataque a Button, Hamilton consegue retomar a dianteira da corrida a Hulkenberg devido a um meio pião do alemão (volta 49), mas quando este tenta resgatar essa posição seis voltas mais tarde, a colisão entre ambos dita a desistência do inglês, com o piloto da Force India a ter de cumprir depois um drive through.

Com Button na frente, seguido de Alonso, as contas do campeonato eram nesta altura favoráveis a Vettel, e ficaram ainda melhores quando o alemão passa Schumacher pelo sexto posto. Ao espanhol da Ferrari pouco mais restava que manter-se em pista – o vai e vem da chuva dificultava a tarefa de todos – pois sem um erro ou azar de Vettel, ou mesmo de Button não havia mais nada que ele, ou o seu companheiro de equipa (que seguia em terceiro) pudessem fazer.

No final, Button terminou a temporada tal como começou, com uma vitória convincente, mas a verdadeira festa era de Vettel e da Red Bull. As coisas não começaram por correr bem ao piloto alemão, mas tudo se recompôs, e terminou em beleza. Para Alonso ficava a sensação do dever cumprido, e mais um campeonato perdido na última corrida.

José Luis Abreu / Autosport