Onde está o carisma dos campeões do mundo de Fórmula 1?

02/12/2016

O Conselho Mundial da FIA confirmou anteontem a saída definitiva do GP da Alemanha de F1 do calendário e isso não pode deixar de causar grande estranheza, em primeiro lugar, porque é que um país rico como a Alemanha não consegue reunir condições para ter F1 e depois, mais preocupante que isso, como é possível tendo no plantel o Campeão, Nico Rosberg, a melhor equipa, a Mercedes, um tetracampeão, Sebastian Vettel, e ainda mais dois bons pilotos como são Nico Hulkenberg e Pascal Wehrlein, a Alemanha não encontra razões suficientes para ter uma forte ligação à F1.

Niki Lauda dá uma explicação, que é perfeitamente plausível: “Todos os grandes campeões alemães têm, de algum modo, uma estranha relação com a população. Não são ‘abraçados’ como os futebolistas, porque, o calor da proximidade não existe. Penso que não há abertura suficiente dos pilotos, e o Vettel é um perfeito exemplo disso” começou por dizer Lauda, referindo-se a uma questão que há muito se fala. Vettel foi Campeão do Mundo de F1 quatro anos seguidos, e mesmo assim os alemães nunca se ligaram muito ao atual piloto da Ferrari, e não sendo essa toda a explicação, ajuda muito Vettel ter ‘pavor’ de redes sociais. Não se liga aos adeptos como muito bem fazem muitos dos outros pilotos. Hoje em dia ‘esquecer’ as redes sociais é dar um pontapé na melhor forma de se ‘vender’ junto dos adeptos: “Eu compreendo-o, se calhar no caso dele fazia a mesma coisa” diz Lauda, uma frase compreensível para quem tem a idade que o austríaco tem. Por isso entende-se que não ‘perceba’ as redes sociais: “Para mim o Nico fica no ‘meio’. Encontrar uma boa relação com as pessoas não é fácil” diz Lauda, deixando perceber que o atual campeão já é mais bem visto pelos adeptos, mas ainda está longe do que os alemães precisam para se envolver mais com a modalidade: “O Mundial de F1 sem o GP da Alemanha não é um verdadeiro Mundial”, concluiu Lauda.

Sendo verdadeira esta ‘questão’ das redes sociais, não explica tudo. Há muito que os pilotos de Fórmula 1 são colocados numa redoma, acessíveis a muito poucos, os adeptos quase só os veem ao longe ao vivo, e só se forem para a bancada principal de um qualquer Grande Prémio, a que fica à frente das boxes e mesmo assim têm que levar binóculos. São muito poucos os momentos em que os pilotos estão junto do público, a dar alguns autógrafos, mas este distanciamento que a F1 ‘obriga’ entre os seus pilotos e o público, não ajuda a prender adeptos. Veja-se o que acontece no WRC, por exemplo. O público anda pelos parques de assistência e são inúmeras as vezes em que os pilotos contactam com os adeptos, a proximidade é grande, no WEC, ela também existe de certo modo com os passeios no pitlane e sessões de autógrafos, e por aí fora noutras disciplinas. A F1 esconde-se cada vez mais no Paddock VIP Club e afins. Longe da vista, longe do coração.

José Luis Abreu / Autosport