Baterias dos elétricos poluem mais que motores de combustão?

29/06/2017

Uma das principais críticas que os céticos da mobilidade elétrica apontam a esta alternativa passa pelos níveis de poluição emitidos para a produção das baterias de iões de lítio. Um estudo apresentado na Suécia pretendia mostrar que os modelos sem emissões poluentes não representam uma solução assim tão boa. Mas será que as baterias dos elétricos poluem mais que motores de combustão? Veja as contas…

Quando se fala de veículos elétricos, os detratores desta tecnologia deixam muitas vezes a seguinte questão: “E quanta poluição é que causa a produção das baterias?”. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Suécia que está a ser difundido em alguns sites pretendia demonstrar que essa dúvida era legítima e fazia a balança pender um pouco para o lado dos veículos com motores de combustão. Mas a realidade é que as suas contas deixam a impressão de que a mobilidade elétrica será efetivamente, como esperado, mais amiga do ambiente. A investigação sueca alerta que a poluição para a produção de uma bateria para um Tesla Model S P100D, com 100kWh, seria o equivalente a conduzir um modelo de combustão durante 8,2 anos, mas os próprios números do estudo apontam para outra realidade.

A indicação que surge é que para estas baterias de iões de lítio são lançadas para a atmosfera um total de 17,5 toneladas de CO2. Um valor significativo mas que, já excluindo da equação fatores como a quantidade de emissões referentes à refinação do petróleo, não representa assim tanto quando comparado com modelos de combustão equivalentes.

As contas…

Utilizando os valores apresentados pela PopularMechanics (PM), e que recorre aos dados da Agência Ambiental Norte-Americana (EPA), revelamos aqui a comparação com um modelo similar. A escolha foi para o Audi A8L com motor 4.0L a gasolina, que segundo os registos apresentados emite anualmente 6,2 toneladas de CO2 para a atmosfera (contando uma distância anual percorrida de 22500km). Usando a famosa “regra de três simples”, isto significa que para atingir as 17,5 toneladas de CO2 da produção das baterias da Tesla são apenas necessários 68136km. Ou, se preferir, e partindo dos dados da PM, que incluem ainda outros valores de emissões associados que elevam os totais do A8 para 7,1 toneladas anuais, apenas 2,4 anos para atingir um registo equivalente.

Mesmo pensando num condutor que cumpra poucos quilómetros anuais existe sempre a meta dos 70.000km anuais para que a produção dos packs de iões de lítio seja equivalente ao combustível “queimado” pelos motores de combustão. E hoje em dia são raros os automóveis que sejam abatidos com uma quilometragem abaixo desse valor. Isto significa que, se este estudo estiver efetivamente correto, da próxima vez que alguém lhe perguntar se as baterias dos elétricos poluem mais que motores de combustão, já poderá dizer que essa situação não se confirma.

Este estudo, no entanto, não encerra totalmente a polémica pois apenas aborda os valores referentes à produção das baterias. Para tal será necessário que exista uma investigação muito mais complexa e que abarque fatores normalmente esquecidos como o desmantelamento das baterias de iões de lítio (e ainda a segunda vida que elas estão a ganhar como fonte estacionária de energia) e os valores de CO2 da refinação de petróleo e da produção de eletricidade em centrais (bem como o impacto das fontes renováveis como energia eólica ou solar). Além disso existem outros elementos a ter em conta e que devem ser resolvidos para que mais condutores ponderem a transição para a mobilidade elétrica, como os tempos e rede de recarga e, relacionado diretamente com este último ponto, a autonomia oferecida entre carregamentos.

Se estiver interessado em saber mais informações sobre estes modelos amigos do ambiente, decorre em julho o Encontro Nacional de Veículos Eletricos, que está marcado para a cidade do Porto.

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