A maior aventura da Volkswagen nos carros elétricos começa verdadeiramente com o modelo Golf. Com o eclodir da crise petrolífera, e em paralelo com os testes na Transporter, a equipa de Adolf Karbelah é encarregada de desenvolver uma solução que respondesse aos anseios dos milhões de automobilistas que se apinhavam em longas filas para abastecer os seus carros e que, pela primeira vez desde sempre, começavam a perceber que o petróleo estava sujeito a frágeis equilíbrios geopolíticos.

O Golf, lançado em 1974, era a aposta familiar de maior sucesso na Europa – menos de dois anos após a estreia, já haviam sido vendidas mais de dois milhões de unidades. Tratava-se, por isso, de uma aposta lógica para desenvolver a visão de mobilidade alternativa da Volkswagen nos anos 70.

O primeiro protótipo acabaria por surgir já depois da crise, em 1976, um Elektro-Golf com uma solução técnica relativamente simples, baseada num motor 20 kW (27 CV) alimentado por um conjunto de baterias de 16 V com a tecnologia da época (chumbo), recarregáveis através de uma vulgar tomada de 220 V, num processo que demorava 12 horas. Mas tudo estava apenas no princípio e este era por enquanto um protótipo para testar variadas soluções. A autonomia mantinha-se no patamar dos 50 km, enquanto a velocidade máxima se situava à volta dos 80 km/h.

O primeiro grande passo surge em 1981, ainda com o Golf I, altura em que nasce o primeiro da longa saga dos denominados “City Stromer”. O Golf I City Stromer torna-se o primeiro a ser utilizado em condições reais de estrada, fruto de uma parceria com a empresa de eletricidade alemã RWE, ao serviço da qual foram colocadas 25 unidades. Essencialmente com a mesma tecnologia do pioneiro Elektro-Golf, o primeiro City Stromer destacava-se pela forma como podia ser utilizado no dia a dia: as baterias ficavam acondicionadas sob a bagageira e os bancos de trás, libertando espaço para quatro ocupantes. O peso total era de quase 1.5 toneladas (face aos cerca de 900 kg das versões normais), mas mesmo assim era possível alcançar os 100 km/h. A autonomia de 60 km permitia que os funcionários da RWE percorressem, com uma carga intermédia, cerca de 100 km num dia de trabalho.

o primeiro City Stromer está hoje no museu da Volkswagen, com uns generosos 20.473 km registados no conta-quilómetros

A “saga” City Stromer prosseguiu com o Golf II, do qual foram produzidos 70 exemplares elétricos entre 1985 e 1991, igualmente utilizados por empresas parceiras do projeto, pelo que o novo grande salto só acontece verdadeiramente em 1993 com o Golf III, quando a Volkswagen decide comercializar a sua versão elétrica junto do grande público. Desenvolvido em cooperação com a Siemens, o Golf III City Stromer foi produzido até 1996, período durante o qual se venderam 120 unidades. A uma velocidade constante de 50 km/h, este Golf elétrico já conseguia autonomias da ordem dos 90 quilómetros, um valor verdadeiramente inédito para a época. As baterias, distribuídas pela frente e pela traseira, tinham agora maior capacidade – 180 ah – e o tempo de carga até 80% ficava-se por uns mais confortáveis 90 minutos.

O Golf III City Stromer introduziu tecnologias verdadeiramente precursoras, tais como a regeneração de energia durante a travagem – a primeira vez que tal equipamento foi disponibilizado num carro de série. O amadurecimento da tecnologia elétrica por parte da Volkswagen era já uma realidade e perdura até aos dias de hoje como testemunho de fiabilidade: nas estradas alemãs ainda circulam várias unidades desta geração, a maior parte delas adaptadas com baterias de iões de lítio.

Veja a parte 1 deste especial sobre os elétricos da Volkswagen.

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