O novo Jaguar XF 2.0d brinda os seus clientes com detalhes que apelam à emoção e que o afastam do pragmatismo dos alemães, neste caso do Série 5 aqui representado pela versão 520d

Neste segmento de mercado as vendas nacionais continuam dominadas pelos motores diesel, daí que faça todo o sentido este “derbi” entre o novo Jaguar XF 2.0 d e o BMW 520d. Ambos alinham com caixas automáticas, uma opção que a marca alemã passou a oferecer de série exatamente a partir desta versão de 190 CV. Se é para responder ou não à Jaguar não sabemos, mas que é a escolha certa, disso não temos dúvidas face aos resultados obtidos, com destaque para o prazer de utilização, os consumos e as prestações. Mas, sobre tudo isso falaremos mais à frente, quando abordarmos comparativamente cada um desses resultados.

Para já, o que retemos é que o Jaguar e o BMW fazem parte daquele clube que gostamos de rever. O modelo inglês, apesar de manter a mesma receita estética, herda a plataforma do XE, daí ser um modelo totalmente novo. Já o BMW tem vários anos, embora se mantenha atual em muitas matérias, nomeadamente do ponto de vista dinâmico. Uma das críticas apontadas à marca inglesa, desde que foi comprada pela indiana Tata, é que perdeu parte dos genes que a caraterizavam quando era totalmente britânica. Mesmo assim, o XF tem desde a sua criação uma imagem exclusiva, coisa que vai faltando aos seus adversários alemães, do que o Série 5 não é exceção.

Nem tudo o que parece é

Com 4,96 metros de comprimento, o Jaguar é 4 centímetros mais comprido que o BMW. É também mais largo e mais baixo e tem a mesma distancia entre eixos. Infelizmente, a superior dimensão exterior não corresponde a uma habitabilidade maior, como ficou comprovado nas medições que fizemos para se encontrar o índice de habitabilidade. A vantagem do BMW encontra-se, sobretudo, na largura do habitáculo, quer à frente quer atrás. Também a altura à frente é mais alta. Entre os dois existe uma diferença de 180 pontos a favor do carro alemão.

Este, embora tenha mais espaço e, aparentemente, melhor qualidade por ter uma construção mais sólida, não tem a originalidade do seu adversário nem o requinte de alguns detalhes como certos revestimentos em pele. Por exemplo, a magia do comando da caixa de velocidades, que sobe tipo periscópio mal “despertamos” o botão “start” do Jaguar, ou ainda a abertura lateral das condutas de ventilação, bem como a atmosfera criada pela iluminação interior, são apontamentos que o Jaguar contrapõe ao pragmatismo do BMW, onde tudo é mais espartano. Ou seja, enquanto o Jaguar é um carro puramente emocional, o BMW é mais racional e, por isso, mantém um nível de qualidade superior.

Ao contrário do que aconteceu no XE aquando do ensaio que fizemos na edição passada, a caixa automática de 8 velocidades tem, neste caso, uma gestão mais adequada e inteligente. Mesmo assim, esta não tem o mesmo desempenho que a transmissão do 520d. A prova disso são as melhores prestações do BMW, com destaque para a aceleração dos 0 aos 100 Km/h e para o quilómetro de arranque. Nem mesmo quando usamos os modos mais desportivos que ambos os modelos apresentam, o Jaguar através do “Jaguar Drive Control” e o BMW com a “Experiência de condução”.

Com menos 10 CV, mas com mais binário, o Jaguar mostrou não ser tão reativo quanto o seu adversário que, sendo mais pesado por não ter um chassis nem uma carroçaria tão leves, consegue ser tão ágil quanto o modelo britânico. Para isso contribui muito a direção mais direta do BMW, que nas curvas transmite maior confiança. É espantoso o equilíbrio que o BMW continua a manter muito por influência de uma distribuição do peso igual entre os dois eixos. É curioso verificar que, embora o Jaguar seja 110 quilos mais leve, a relação peso/potência é muito semelhante (8,9 Kg/CV contra 8,8 Kg/CV) o que não deixa de ser um fator que tem uma influência decisiva, não só nas prestações como no desempenho dinâmico de cada um.

Duelo entre motores

Como no Jaguar XE, o motor 2.0d de 180 CV pertence a uma nova geração e, por isso, era expectável que a sua prestação fosse superior à do motor de 2 litros da BMW. Tal não aconteceu e isso deve-se não tanto ao demérito do motor inglês, mas ao mérito do motor alemão, que tem sofrido evoluções importantes. São melhoramentos que não visam apenas o aumento da potência, mas também um funcionamento suave, agradável e económico. Ainda que, a 90 Km/h, o nosso sonómetro tenha registado um nível superior de ruído interior, a verdade é que todos os outros registos revelam que o motor da BMW é menos áspero. Isso deve-se à maior propagação do ruído no alumínio. Mesmo assim, o XF consegue isolar melhor o ruído e as vibrações do motor que o XE, onde os valores do nível sonoro na escala dB(A) são superiores a qualquer velocidade.

Voltando novamente à ditadura do cronómetro, foi com muita dificuldade que o Jaguar acompanhou o BMW. Só na recuperação dos 40 aos 90 Km/h é que o novo XF conseguiu ser 8 décimos de segundo mais rápido. Mesmo assim, foi notável como o Jaguar se defendeu quando disputou os trajetos mais sinuosos, onde revelou grande agilidade apesar de ser maior que o BMW e de não ter uma direção tão comunicativa. Em compensação, tem uma suspensão traseira tão elaborada, senão mesmo melhor, do que o BMW. Ao contrário do que tínhamos percecionado no XE, neste caso a direção elétrica não transmite o mesmo feeling de uma direção hidráulica. Talvez porque a preocupação da marca inglesa tenha sido também a de garantir um nível superior de conforto.

BMW mais competente

Voltando à questão do peso, é pena que a Jaguar não tenha aproveitado a dieta para estabelecer uma distribuição do peso pelos dois eixos tão equilibrada quanto o seu rival. Não sendo o seu principal pecado, não temos dúvidas de que isso melhoraria ainda mais a agilidade em curva, especialmente quando não acertamos à primeira e temos de aconchegar o pé no travão à entrada das curvas, onde a vetorização do binário equilíbra eventuais desvios do eixo traseiro, uma reação que no BMW é cumprida pelo diferencial autoblocante. Como ficou demonstrado, estas são duas ajudas importantes quando decidimos andar mais depressa sem preocupações de consumo.

Mesmo assim, os dois são muito económicos, com o BMW a registar sempre consumos mais baixos. Neste caso a média foi de 6,8 l/100 Km para o 520d contra 7,1 l/100 Km/h para o XF 2.0d, duas metas só alcançadas graças ao excelente contributo de ambas as caixas automáticas de 8 velocidades, independentemente da forma como são geridas de acordo com os vários modos disponíveis. Como é normal, o programa mais económico é o que regista consumos mais baixos. No nosso caso, os testes de consumo resultam de uma utilização mista de todos os modos disponíveis, incluindo o mais desportivo.

Como dissemos logo no início, a caixa automática é de série e, por isso, o preço reflete essa escolha e, se o Jaguar é ligeiramente mais caro , a diferença é compensada por uma melhor relação preço/equipamento. Em compensação, o BMW tem custos de manutenção mais baratos e valores de retoma tradicionalmente mais altos. Esse é um fator do negócio que a Jaguar tem vindo a melhorar. Mesmo assim e à semelhança do que já dissemos em ocasiões anteriores, voltamos a reforçar a crítica de que não compreendemos porque é que a garantia anti-corrosão não é maior se uma das bandeiras da marca inglesa é precisamente o elevado conteúdo de alumínio usado na construção do chassis e da carroçaria.

Texto Marco António

Fotografia José Bispo

Turbo

A TURBO AGRADECE A VALIOSA COLABORAÇÃO DA MARINA DE CASCAIS NA REALIZAÇÃO DESTAS FOTOS.

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