Mercedes-AMG C 63 S Cabrio: 510 CV de pura exuberância

31/05/2017

Há algo de estranhamente sobrenatural na forma como um bom desportivo ‘pede’ para ser conduzido horas a fio, numa união que atira para o esquecimento todas as preocupações do quotidiano. Melhor ainda quando o faz posicionando um pequeno diabrete junto ao ouvido esquerdo, que se encarrega de incentivar um ritmo mais vivo. Sempre mais alto. Na verdade, o ‘diabrete’ não está junto ao ouvido, mas sim no compartimento do motor, na forma de um impulsivo e respeitável motor V8 Bi-turbo que, por esta altura, é já bem conhecido da gama desportiva AMG.

É esse ‘diabrete’ mecânico, alimentado por gasolina de alta octanagem, que nos faz querer ser mais generosos com o pedal do lado direito, para que, de forma audível, se faça notar perante toda a gente. Aliás, talvez se alimente também dos olhares alheios. Mas, a Mercedes-AMG quis tornar a experiência ainda mais entusiasmante com a possibilidade de recolher a capota de lona e ouvir, de forma mais natural, a raiva e ânsia de acelerar do V8.

Nem todos gostarão dele. Serão poucos, por certo, mas existirão. Talvez as pessoas que menos gostem da brutalidade deste V8 sejam os vizinhos do prédio, em especial quando o motor é ‘acordado’ na garagem às nove da manhã de um sábado, fazendo-se acompanhar de um rugir pouco discreto antes de acalmar ligeiramente. Mas, será que se quer mesmo ser discreto quando o assunto é um AMG de 510 CV?

A resposta é, obviamente, não. Toda a experiência emana um carácter de exaltação – da potência, da exclusividade e até da vivência. Exuberância em estado mais primitivo. Mas, regresse-se a um patamar mais realista e recorde-se o enquadramento do AMG C 63 S Cabrio.

Este é apenas um dos vários modelos lançados pela divisão desportiva da Mercedes-Benz naquele que é um esforço de expansão da sua gama e que se traduzirá ainda na chegada de mais uns quantos integrantes, o mais importante dos quais na forma de um hiperdesportivo com tecnologia diretamente inspirada da Fórmula 1. Um V6 híbrido, portanto. Os detalhes virão depois, mas a potência rondará os 1.000 CV.

Que brutalidade de motor!

No caso deste C 63 S Cabrio, temos à disposição cerca de metade desse valor – 510 CV – cuja fogosidade e impetuosidade pautam a experiência de condução. Associado a uma caixa automática 7G-Speedshift preparada pela AMG e com passagens sequenciais por intermédio de patilhas atrás do volante, este é um motor que exibe uma nítida vontade de ser levado a rotações mais altas, obedecendo a uma premissa de desportividade que tem reflexo nas prestações: a aceleração dos 0 aos 100 km/h faz-se em apenas 4,1 segundos e, mais do que um valor inócuo, é algo que se sente a bordo.

Com um binário máximo de 700 Nm às 1.750 rpm, o V8 de 4.0 litros tem uma vivacidade que o faz aproximar de um superdesportivo exótico, com uma agressividade nas respostas que impõe respeito. Mas, recorde-se que é ‘apenas’ um derivado do Classe C, por sinal, um modelo já de si muito competente na sua atuação dinâmica – há aqui muito trabalho de desenvolvimento no chassis. Face ao coupé, o Cabrio conta com um peso adicional de 125 kg, devido aos reforços estruturais e à incorporação do dispositivo de acionamento da capota em lona (que leva 20 segundos a fazer a abrir e a fechar’).

Ficar ‘colado ao banco’ é fácil e nem falta um modo de controlo de partida para arranques fulgurantes. ‘Quando é que alguém na vida vai precisar de um ‘launch control’?‘, interroga-se o leitor (também me fizeram essa pergunta ‘in loco‘). Com efeito, em via pública, não muitas vezes, a não ser que tenha espaço e uma pequena dose de ousadia associada. Mas, o C 63 S Cabrio pode também ser usufruído em circuito, onde certamente evidencia um cariz ‘explosivo’ que na estrada tem certas limitações.

Toda a experiência de condução é envolta num fio condutor de precisão e tecnologia, algo que é sublinhado pelo seu comportamento, sendo ainda assim perdulário para com alguns excessos, muito por culpa de um controlo de estabilidade eficaz que evita excessos de confiança. O rolamento da carroçaria tem controlo exemplar e é com o doseamento do acelerador que deve ser jogada a sua trajetória em curva caso se atreva a ceder à voz do ‘diabrete’ que, caso esteja esquecido, é aquele motor V8 montado à frente.

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Ou seja, em condução afoita, este é um desportivo com o qual é preciso ir ganhando confiança até que se atinja um patamar em que se consegue entrar veloz na curva, controlar a trajetória com o acelerador e ser catapultado pela impetuosidade e silvos dos turbos deste AMG até à curva seguinte, muito por ação também do diferencial autoblocante. Com controlo de estabilidade algo interventivo (naturalmente…), a traseira vai deslizar ligeiramente, mas o que também vai suceder é um suave ‘corte’ de potência para evitar uma deriva demasiado pronunciada da traseira. Por outras palavras, diversão controlada pela própria eletrónica (havendo três modos à escolha) para que todas as mãos possam desfrutar deste descapotável.

A este respeito, destaque para os modos Sport+ e Race (além dos Individual, Comfort e Sport), que são os que mais foco colocam na condução, com o segundo a trazer consigo o controlo de estabilidade em modo desportivo, maior firmeza de suspensão (AMG Ride Control), direção mais precisa e o tal controlo de partida: pressionando as duas patilhas da caixa acionamos o modo e depois… é colocar um pé no travão e outro no acelerador para que as rotações se elevem a um patamar considerado ótimo pela eletrónica. Solte-se o travão e o C 63 S sai ‘disparado’. Mas é também neste modo Race que se pede maior atenção ao condutor. Afinal, 510 CV têm de ser encarados com… respeito.

A direção bastante precisa, a suspensão adaptativa com trabalho exemplar e o sistema de travagem com discos ranhurados e perfurados complementam uma experiência de condução de elevado rigor dinâmico. A resistência dos travões à fadiga é muito boa e consegue reduzir a velocidade com competência impressionante. Resta mencionar a sonoridade proveniente dos escapes que pode ser também amplificada a partir de um botão na consola central. Um pequeno truque, mas muito interessante.

Com a capota descida, o lado ‘bom’ da vida ganha outro relevo, sendo tão fácil usufruir da vivência descontraída de um final de tarde de verão em ritmo calmo, como de uma tirada mais veloz com o V8 a gritar o quanto gosta de nós. E nós dele, claro.

Até aqui, têm sido muitas as loas a este descapotável, mas há um lado menos bom: os consumos. O melhor, em nossa opinião, é não se pensar muito nisso: 11,6 l/100 km de média foi o que se conseguiu ‘arranjar’ no nosso ensaio, o que apreciando bem até poderia ser pior para um modelo com 510 CV e peso pouco aquém dos 2.000 kg. Talvez o melhor exorcista para acalmar os ânimos seja o terminal de pagamento da bomba de combustível, onde irá com alguma frequência. Além disso, é firme, mesmo que não se possa considerar desconfortável em utilização quotidiana.

Poder de atração

A aparência deste cabrio também não renega a sua apetência pela eficácia: para-choques específicos (com elementos em preto brilhante e logótipos AMG, como lhe compete), saídas duplas de escape atrás, um pequeno spoiler na tampa da bagageira, jantes de 19 polegadas à frente e de 20″ atrás, grelha específica, saias laterais e capas dos espelhos em preto brilhante compõem um visual apelativo mas que fica longe de ser exuberante. Ainda assim, todos querem dar uma ‘olhadela’ nesta autêntica criatura demoníaca criada em Aafalterbach.

No interior, mais elementos que revelam bem a sua orientação, desde o volante desportivo num misto de pele e Alcantara (com pega soberba), revestimento em carbono na consola central, bancos com suporte excelente do corpo e ajuste elétrico (não falta o ‘Airscarf’ para os dias mais frios, lançando ar quente para o pescoço dos ocupantes), revestimentos em pele com pespontos encarnados nas portas e tablier e, notoriamente, uma construção irrepreensível, ainda que o ecrã central colocado no topo da consola central continue a parecer que foi ‘plantado’ naquele sítio à última hora pela equipa de design da ‘Merc’.

O espaço interior deste modelo é adequado para os quatro passageiros, mesmo atrás, se bem que os joelhos dos ocupantes mais altos possam tocar nos bancos dianteiros. A bagageira alterna entre os 285 litros com a capota recolhida e os 360 litros com a capota montada, pelo que existem alguns constrangimentos na colocação de carga de uma bagageira que não deixa de ser interessante.

Quanto ao preço de base, a exclusividade e o rigor desportivo têm um custo elevado – 123.150 euros, mesmo que valha cada cêntimo, até pelo equipamento de série muito extenso (pudera…). Assim, da lista de equipamento de série aparecem itens como o sistema Collision Prevention Assist Plus, volante desportivo AMG performance, Cruise control adaptativo, suspensão desportiva AMG Ride Control, bancos dianteiros aquecidos, Dynamic Select, kits AMG interior e exterior, bancos dianteiros desportivos, nove airbags (dianteiros, laterais, de janela e para o joelho do condutor) e sistema áudio com oito altifalantes. A versão ensaiada tinha um preço final com extras de 144.960 euros.

Veredicto

O Mercedes-AMG C 63 S Cabrio acaba por ser um desportivo que, pelo seu conjunto, recorda o lado bom da vida em todos os seus aspetos, deixando a sensação de que era fácil, muito fácil mesmo, viver-se com ele, alternando entre os passeios à beira-mar e as tiradas desenfreadas em estradas sinuosas. O motor V8 Bi-Turbo é, por si só, uma obra de engenharia altamente versátil e, neste caso, permite retirar todo o potencial de um chassis que prima pela precisão e que oferece diversão e exclusividade em doses muito generosas, sem no entanto ser difícil de controlar em toadas urbanas onde o civismo impera.

No grande esquema dos desportivos Premium de luxo, este AMG C 63 S Cabrio está numa posição impressionante com um feitio ‘delicado’ mas, ao mesmo tempo, tão viciante de conduzir. Enfim, um dos melhores cabrios do momento.

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