Apercebendo-se do autêntico filão de sucesso que a junção entre desportividade e modelos de estilo crossover pode proporcionar, a Mercedes-AMG (submarca criada para fazer disparar a adrenalina dos condutores) aplicou o seu ‘tratamento’ ao GLC Coupé para aquela que é uma interpretação mais radical deste bem sucedido e esguio SUV coupé. E que belo foi o resultado. Tanto que até o argumentista de Hollywood gostou… Mas já lá iremos.
Num bom equilíbrio entre discrição e exuberância, o design deste GLC Coupé AMG 43 coloca em destaque os pontos fortes deste SUV, nomeadamente, a imponência no asfalto que é sublimada pelas jantes de 21 polegadas (opcionais e com pneus de medidas diferentes nos dois eixos – 255/40 ZR21 à frente e 285/35 ZR21 atrás) e pela silhueta muito fluida, com destaque para toda a secção traseira, uma vez que do pilar B para trás existe uma linha muito suave do tejadilho que se vai encontrar com a da tampa da bagageira. Um encontro de essências muito interessante visualmente, até porque o kit estético AMG lhe confere uma aura que o impede de passar despercebido onde quer que passe.
A pintura metalizada Branco Diamond (que se pode ver na primeira foto da galeria) dá uma ajuda preciosa neste aspeto, mas é um daqueles elementos opcionais com custo ‘arrojado’ – 1.850 euros. A construção é referencial a todos os níveis, com um toque de classe concedido pelo tablier em pele com pespontos a vermelho, a mesma cor que é aplicada nos cintos de segurança. A consola central com aplicação em carbono e o volante específico com pega em Alcantara dão um toque ‘desportivo’ único.
A visibilidade posterior proporcionada pelo óculo traseiro é algo limitada, uma vez que o mesmo é estreito e redondo na parte superior, o que ‘rouba’ ainda um pouco mais do campo de visão para trás. No entanto, os sensores de estacionamento são uma ajuda preciosa, até porque este GLC Coupé é comprido e largo (4.727 mm x 1.930 mm), enquanto a distância entre eixos de 2.873 mm permite um interior desafogado, mesmo para adultos de maior estatura. Quatro adultos viajam com espaço e tranquilidade neste SUV desportivo, enquanto a bagageira oferece um valor positivo de 560 litros de capacidade.
Essência desportivaMas é ao volante que se revela o seu carácter mais impulsivo, graças ao motor V6 bi-turbo de 3.0 litros com 367 CV de potência e 520 Nm de binário, que lhe permite acelerar dos 0 aos 100 km/h em balísticos 4,9 segundos, mostrando veia de ‘sprinter’ com fôlego inesgotável e vozeirão bem audível. Uma obra-de-arte oriunda de Affalterbach que torna este modelo num desportivo de corpo inteiro, com acelerações possantes e recuperações perfeitamente desembaraçadas que são auxiliadas pelo exímio aproveitamento dos 520 Nm de binário disponível.
Embora tenha tração integral 4Matic, a preferência na entrega da potência é dada ao eixo traseiro (55/45) para comportamento mais excitante, o que alcança graças à conjunção da suspensão adaptativa pneumática (Air Body Control), direção super-precisa e caixa de nove velocidades (9G-Tronic) de atuação sem mácula (com passagens sequenciais a partir das patilhas atrás do volante), tanto em andamento rápido, como em rondas ‘domingueiras’. O rolamento da carroçaria é praticamente nulo, tratando de oferecer um dinamismo de excelência que, mesmo que algo penalizador para o conforto dos ocupantes, está longe de ser um óbice para viagens em família. Isto porque a suspensão mantém um nível aceitável de refinamento, havendo igualmente um botão para regular a altura ao solo
Com modos de condução que ‘mexem’ com diversos aspetos – desde a resposta do motor e caixa ao tipo de amortecimento –, este AMG GLC Coupé está à vontade essencialmente no asfalto, já que as jantes de grandes dimensões e a menor altura ao solo não aconselham a grandes aventuras por maus caminhos. Mas essa é uma apreciação que não é exclusiva deste AMG, podendo ser aplicada a muitos dos outros modelos do mesmo estilo, que de aventureiros têm apenas a maior altura ao solo e proteções inferiores. De qualquer forma, quem é que quererá um desportivo com 367 CV de potência e jantes de 19 polegadas (de série) para fazer trilhos de terra batida?
Contudo, há uma contrapartida para tudo isto, que surge na forma dos consumos (8,4 l/100 km oficialmente, 12,3 l/100 km no teste): o pé pesado leva-nos mais vezes do que certamente desejaríamos à bomba de combustível, mas não é algo que esteja presente na nossa mente quando pressionamos o acelerador. Para (tentar…) conter os consumos, este Mercedes-AMG dispõe de função ‘roda-livre’ no modo ECO, cortando a injeção de combustível para o motor.
Veredicto
Este Mercedes-AMG tem uma personalidade muito específica, oferecendo dinamismo capaz de impressionar e um motor V6 bi-turbo que conjuga prestações fortes e entusiasmantes com uma sonoridade rouca que não esconde ao que vai. Envolto num estilo verdadeiramente requintado, sublinhado pelos detalhes desta versão AMG, o seu dinamismo surpreende. Mas apenas em estrada. Fora dela, cuidados mil graças à altura reduzida ao solo, às jantes de grandes dimensões e aos para-choques desportivos. Intensificador de emoções, este GLC 43 4Matic é uma proposta forte e quase única no seu segmento, que vale bem o seu preço. Cautela apenas com o custo de alguns dos opcionais.
Aprovação americana
Não serão muitos os que poderão gabar-se de terem servido de anfitriões e de guias turísticos a um conhecido argumentista americano, mas esse foi o caso deste AMG GLC Coupé e do escriba de ‘serviço’. Aproveitando uma pausa nas suas viagens entre Estados Unidos e China – encontrando-se a trabalhar no seu próximo projeto – Steven Long Mitchell, mentor da série ‘The Pretender’ (que passou na televisão portuguesa entre o final da década de 1990 e início da de 2000), fez uma visita de alguns dias por Portugal, preferindo uma pacata casa na região da Amadora a um qualquer hotel dispendioso e repleto de luxos. Foi dessa forma que aproveitou para ficar a conhecer um pouco mais da realidade e da história lusitana.
Mas também foi assim que travou conhecimento com este SUV desportivo. Primeiro, houve que explicar que este era um AMG, ou seja, um Mercedes-Benz com ‘esteroides’ dinâmicos. Mitchell aprovou. Depois, habituado a grandes máquinas americanas – como bom cidadão daquele país, conduz uma pick-up de mais de cinco metros -, mostrou-se surpreendido com o espaço interior: com uma altura em redor do 1,90 m, conseguia cruzar as pernas no banco traseiro. Mais uns pontos para o GLC Coupé.
Após um fim de semana com este AMG, mesmo sem nunca ter conduzido, o cidadão americano parece ter ficado convencido que este era um carro muito ‘à maneira’. “Gosto disto”, proferiu, acenando positivamente com a cabeça, compulsivamente adornada com um qualquer boné (o argumentista é colecionador dos mesmos e ainda levou uns quantos na bagagem de regresso para os EUA…). Menos convencida ficou a sua esposa que, também acostumada à grande Ford F-150 do marido, mas sem ligar muito a carros, ficou fascinada com os ‘little cars‘ que temos na Europa: “Também há daqueles carros, os smart, na América?”. Fica tudo em família (Daimler)…
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