Forma e função: Os segredos do Opel Grandland X contados por quem sabe (com vídeo)

03/07/2017

Olhando de relance para o Grandland X não há como confundir a sua origem. É um Opel e o visual que lhe é aplicado tem mesmo de obedecer a uma lógica de imagem familiar que, no entanto, tem de ter grande especificidade consoante o segmento. Esta é a razão pela qual o novíssimo Grandland X chega com um estilo tão promissor, mesmo não sendo revolucionário na sua abordagem. Uma prova de que todos os detalhes contam na conceção de um novo carro, conforme nos explica um dos responsáveis pela criação deste Opel, Fredrik Backman.

Com o ‘X’ a delinear esta nova abordagem de modelos mais aventureiros – os crossovers -, a Opel tem no Grandland X o terceiro elemento da família que já conta com o Mokka X e com o igualmente novo Crossland X, acabado de chegar ao mercado nacional. Mas o estilo do Grandland X vai mais além do que simplesmente a incorporação da filosofia da marca de Rüsselsheim. Este é um carro em que o desenho e os pequenos detalhes foram pensados para responderem àquilo que os clientes necessitam, sem esquecer o lado do apelo emocional, como explica o sueco Fredrik Backman num evento exclusivo a que o Motor24 teve acesso.

Tendo ingressado na General Motors em 1988, Backman tem no seu currículo diversos modelos daquele grupo, assinando ora exteriores, ora interiores, desde o Opel Antara (interior) ao novo Astra (interior), que foi um dos seus mais recentes projetos. O agora Assistente Chefe de Design da Opel, exibe uma simpatia e simplicidade nórdica que traduzem, de forma muito nítida, as suas ambições para este novo modelo, respondendo a todas as questões que o Motor24 lhe colocou.

Motor24: Este é um carro muito importante para a marca, completando a família ‘X’. Para a Opel, qual é a importância e como se poderá demarcar no segmento que é dos mais concorridos na Europa?

Fredrik Backman: Os principais atributos deste carro é que não apenas é muito arrojado e robusto, mas ao mesmo tempo é elegante no seu visual com a face tradicional da Opel aplicada num SUV, com um conjunto espaçoso também no interior e com muita tecnologia integrada que oferecemos, de conforto e de segurança, que nos colocam à frente da concorrência. Sabemos que o mercado está a crescer, mas temos a certeza de que seremos parte desse crescimento e que seremos um competidor a ter em conta e que, com muitos destes atributos, seremos um concorrente de peso no segmento, uma marca chave.

M24: Qual tem sido o feedback recebido até aqui com este novo Grandland X?

FB: Incrivelmente positivo. Não apenas em relação ao design, que é a primeira coisa em que se nota, mas também em termos das suas qualidades interiores, sendo verdadeiramente desenhado em volta do utilizador. Tem muitas funcionalidades práticas para o utilizador, muitas tecnologias para a segurança e outras, como as luzes LED AFL de iluminação. Por outro lado, temos as jantes de 19”, as cores exteriores de dois tons, a tradicional proteção exterior que envolve as rodas e a parte inferior…

M24: Mas tem um visual inconfundível como Opel. Foi difícil aplicar este visual tradicional da Opel num carro com estas dimensões e para este segmento?

FB: [No design] temos muitos aspetos chave dentre os quais escolher. Temos uma filosofia de desenho chamada “Arte escultural encontra a precisão alemã’ que permite oferecer aos designers uma interpretação aberta e também flexível para a adaptar a diferentes tipos de carroçaria e diferentes tipos de necessidades dos clientes. Depois, claro que temos a face da Opel, com a grelha em que o logo está no meio rodeado pelas asas cromadas, integrando-se com os faróis finos que se encontram em todos os Opel, acentuado pelas luzes de estilo de asa que são uma assinatura da marca e que permitem identificá-lo de muito, muito longe. A arte escultural pode ser vista de lado com aqueles vincos precisos na carroçaria.

M24: Mas acaba por ser um desenho que não começa de uma folha em branco. Quanto é que puderam mudar?

FB: A face da Opel está bastante definida, com a grelha e os faróis, mas a questão é como integrá-la num SUV, em que a frente tem de ser mais direita, mais robusta? Depois, temos aquelas características em baixo, com a grande entrada de ar inferior e a proteção em cinzento. Outra coisa que é significativa para a Opel é o desenho do perfil: aí não há tanta rigidez. A arte escultural deixa alguma abertura em termos de desenho para podermos aplicá-la de uma forma que julguemos mais adequada para este tipo de carro. Daí termos aquelas linhas de força na carroçaria, com uma linha lateral a apontar para a roda da frente e uma outra a apontar para o para-choques traseiro. Outro aspeto importante é a noção do tejadilho flutuante, graças ao pilar C. É, uma vez mais, semelhante ao Astra, mas não é igual. É uma interpretação diferente. Não só é uma questão de design, mas é algo que também devido às duas cores, ajuda a baixar a linha do tejadilho sem prejudicar o espaço interior.

M24: E em termos do design do interior, que mudanças há?

FB: É semelhante ao contar com um ambiente familiar a outros Opel, mas tem diferenças em relação a outros modelos. Começando pelas semelhanças, o posicionamento do sistema Intellilink com o ecrã central e os três grupos de comandos na consola central diferentemente agrupados. Mas também no interior há um tratamento da filosofia da arte escultural. Não existe apenas por uma questão de design, mas por uma razão funcional, que por vezes só se percebe num segundo olhar ou quando se usam alguns aspetos. Parece apenas um bonito conjunto de linhas e formas, mas também tem uma função realista, não só no interior, mas também na bagageira, que tem muitas qualidades. É muito orientado para o condutor. É um carro que segue muitas das pisadas do Astra.

M24: Quando é que começou o trabalho neste Grandland X?

FB: É sempre difícil fazer a contagem para trás [risos]… O desenho é terminado ainda numa fase muito cedo do programa. Depois, começamos a falar com os fornecedores para trabalhar no protótipo. Deve ter sido em 2014 que comecei a trabalhar neste carro.

M24: E foi fácil acertar à primeira com o estilo deste SUV?

FB: Diria que acertámos numa fase bastante cedo do processo. Começamos sempre com uma competição, em que todos os designers são convidados a fazer esboços e a revisão dos designs. Depois escolhemos os três ou quatro melhores e podem ser depois uma mistura de estilos em que alguém teve uma boa ideia para a frente e outro para a traseira. É sempre uma questão de encontrar o equilíbrio certo. Recebemos o briefing e o conjunto de informações muito cedo, as dimensões, o posicionamento do motor e tudo o mais e depois começamos a construir os moldes. Há uma integração apertada entre departamentos. Dentro da área de design temos um responsável de ligação, um engenheiro de design que é a voz do engenheiro no design e do design na engenharia e que também faz a filtragem de todas as áreas, porque há muitos departamentos a trabalhar em conjunto. Da carroçaria, do metal, especialistas para os vidros, para os revestimentos de plástico. Até mesmo as proteções inferiores, porque são doutro material em plástico. Tudo conta.

E toda essa informação não chega por acaso à mesa do designer. Tem de ser pré-processada pelo engenheiro de design, porque por vezes pode haver alguma informação contraditória em termos de engenharia. Tem de ser um projeto muito integrado e com muita eficiência. Trabalhamos com as melhores tecnologias. Recentemente, abrimos um centro de realidade virtual onde temos um ecrã de realidade virtual que, penso é de 9 metros de largura, em que podemos ter três carros digitais com representação tridimensional de design do carro e do interior. É aí que se pode ter uma primeira impressão de como se sente o carro por dentro. É muito em redor da sensação. Se eu não me sentir bem, o cliente nunca se poderá sentir bem.

M24: Outro desafio em termos de desenho e projeto tem que ver com a questão de segurança, já que o desenho do carro tem de obedecer a muitos parâmetros de segurança…

FB: Não só em termos de acidentes, mas também com a proteção dos peões. É um desafio.

M24: Tem de ser ter mais cuidado para não se fazerem frentes mais pontiagudas?

FB: Sim e não… Outras marcas mostraram que é possível fazer dianteiras muito pontiagudas, depende sempre da forma como a estrutura é feita e de como o motor é posicionado. Se se inclinar o motor num ângulo, pode-se baixar o capot um pouco. Depois tem muito que ver com o posicionamento dos pés do peão no chão e com o local onde o vidro começa. Esse rácio tem de estar correto e a distância do capot a qualquer peça rígida do motor para o caso de atropelamento. É muito complicado.

Quando o Mark Adams [NDR: responsável máximo de Design na Opel] veio ao estúdio e quis mudar um pouco o volume dos faróis, isso mudava todo o volume da frente. Porque se se muda um pouco aqui, toda a linha de critérios e requisitos tem de a seguir.

M24: Por outro lado, há um outro desafio, começando já hoje, que é o da inclusão dos sistemas de assistência no desenho do carro. Como é que se integram todos esses elementos – câmaras, radares e sensores – no desenho de um carro sem desvirtuar a estética e que se torne feio para um cliente?

FB: Este carro já tem muitos sensores e radares – temos uma câmara na grelha da frente e um radar no centro da entrada de ar inferior. À primeira vista, não se repara neles. Lembro-me, de quando desenhei alguns dos exteriores, que a tecnologia dos radares não era muito forte e não se podia por plástico à sua frente, porque o seu funcionamento ficava arruinado. Tinham de estar muito expostos. Agora, funcionam muito melhor e podem ser mais facilmente integrados. Estão mais escondidos. Tudo é um desafio, mas em cada desafio há uma oportunidade. A colaboração entre a engenharia e o desenho faz um carro verdadeiramente bom. Mas também o desenho e a função.

M24: A questão do espaço interior é sempre um objetivo influente?

FB: Foi um dos aspetos centrais para este modelo e até parecia contraditório: a desportividade do tejadilho baixo com a robustez exterior para um interior líder da sua classe. Posso dizer que tenho 1,86m e atrás ainda fico com espaço para a cabeça. O tejadilho parece muito baixo, mas o interior é espaçoso. Toda a gente olha para o que está no mercado, mas o que fazemos é ver o que os clientes precisam para ficarem satisfeitos e aquilo que o faz sentir-se em casa num carro. Porque um carro pode ter um desenho muito bom, mas temos de pensar que o condutor passa muito tempo no interior do carro. Que oferta de segurança, conforto e design podemos dar. Penso que somos bastante únicos e queremos oferecer excelente tecnologia para todos, como fizemos com o Astra.

M24: Numa visão mais a longo-prazo, como é que vê os carros dentro de dez anos?

FB: Com ainda mais tecnologias de assistência à condução… Mais tecnologias, mas que sejam úteis e fácil de utilizar. A coisa verdadeiramente nova é a condução autónoma. Iremos começar a ver cada vez mais carros autónomos. Creio que em dez anos teremos carros de nível 4. Muito em breve, teremos de nível 3. E também novos esquemas de mobilidade, oferecendo mobilidade num vasto espetro sem vender carros.


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O novo Opel Grandland X tem por base a plataforma EMP2 que o Peugeot 3008 utiliza, por exemplo, e chegará ao mercado nacional no mês de novembro com duas opções de motorizações nesta fase inicial. Assim, terá um motor 1.2 Turbo a gasolina de 130 CV e 230 Nm e o 1.6 Diesel de 120 CV e 300 Nm, podendo ambos os motores serem associados a caixas manuais ou automáticas. A revelação oficial do Grandland X, visto aqui em formato de pré-produção, terá lugar no Salão de Frankfurt, em setembro.

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