O passado da Volkswagen está repleto de histórias curiosas, algumas das quais de efeito fundamental para o sucesso contemporâneo da companhia de Wolfsburgo (mesmo que os tempos atuais sejam de alguma conturbação). Uma dessas histórias remonta ao início da década de 1970, quando Giorgetto Giugiaro desenhou aquele que se tornou num dos modelos mais importante da era moderna, o Volkswagen Golf.

Hoje, a ‘sua’ Italdesign pertence ao grupo que ajudou a crescer, a Volkswagen, surgindo integrada da Audi. Um desenvolvimento significativo num momento em que o Golf cumpre o seu 40º aniversário e se prepara para ser renovado. Muitas vezes criticado pela sua parca diferenciação entre gerações, esse facto acaba também por ser um atestado à validade das linhas do primeiro Volkswagen Golf, criando assim um formato com linguagem que perdurou no tempo.

Uma ‘casa’ italiana, com certeza

A sede da Italdesign fica situada numa rua estreita e descaracterizada, que em momento nenhum parece antever a importância do que ali se concebe. Moncalieri fica situada nos arredores industriais de Turim, por entre um labirinto de armazéns e fábricas que permite recordar de forma contínua de onde vem a maior parte da riqueza do país. Os passeios pela beleza do Piemonte ficam para trás. Ali só vai quem tem destino.

E foi exatamente ali que, em 1968, Giorgetto Giugiaro encontrou esse destino, quando, juntamente com Aldo Mantovani, fundou aquele que seria o projeto da sua vida e um dos mais prolíferos gabinetes de design de sempre. Nos estiradores da Via Grandi Achille foi desenhada uma boa parte da história do automóvel.

O primeiro grande sucesso da companhia surgiria em 1971, com o Alfa Romeo Alfasud, marcando o início de um trajeto que passou pela criação de mais de 200 modelos para as maiores marcas de automóveis, cuja produção total supera os 50 milhões de unidades. Giugiaro assinaria carros tão icónicos quanto o BMW M1, o Lotus Esprit, o De Lorean DMC-12, ou modelos tão relevantes quanto o primeiro Fiat Uno ou o Lancia Delta e, mais recentemente, o Lamborghini Gallardo. E, claro – o Golf – automóvel que encetou a era moderna da Volkswagen e que, acima de tudo, introduziu um novo paradigma no mercado, tão marcante que perdura até aos dias de hoje.

Um “estagiário” chamado Ferdinand Piech…

Com efeito, a relação da Italdesign com a Volkswagen é antiga e muito especial. Além de ter desenhado o Golf, Giorgetto ainda assinou os primeiros Scirocco e Passat. A primeira metade da década de 1970 foi fundamental para ambas as companhias, uma porque dava os primeiros passos na indústria, outra porque entrava numa nova era de produtos que rompeu com uma certa “monocultura” do “Carocha”, tarefa complicada numa fase em que este continuava a ser a imagem de ‘marca’ da Volkswagen.

No verão de 1972, dois anos antes do lançamento do Golf, chega à Italdesign um “estagiário” muito especial, de seu nome Ferdinand Piech. O neto de Ferdinand Porsche, que haveria de se tornar um gigante na indústria automóvel, chegando à presidência do Grupo Volkswagen, tinha 37 anos e, depois de oito como diretor do departamento de competição da Porsche, queria aprender mais sobre design e engenharia. Assim, Piech, saído da Porsche, pediu a Gerhard Rumpert, diretor de operações da Volkswagen em Itália, que lhe organizasse uma experiência de trabalho na Italdesign.

Em entrevista dada em 2002 ao “Automotive News Europe”, Giugiaro recordou: “Quando Piech chegou, tínhamos acabado de desenhar a primeira geração do Volkswagen Golf e do Coupé. Ele tinha o seu próprio gabinete, onde executava desenhos técnicos e várias soluções mecânicas. Sempre que eu entrava no gabinete, ele colocava-se em sentido com um soldado frente ao seu general”, disse, não escondendo a ironia: “Realmente não achava aquilo necessário, em especial porque ele é 16 meses mais velho do que eu”.

Depois daquele mês na Italdesign, Piech integrou a Audi, onde foi responsável pelos projectos Audi 80 e Audi 100, sendo que o primeiro foi desenhado precisamente por Giugiaro. A amizade entre ambos perdurou, tal como o caminho de sucesso na indústria – Piech tornou-se numa das personalidades mais influentes de sempre no setor, enquanto Giorgetto inscreveu o seu nome na história como um dos maiores designers de sempre.

A Italdesign nos dias de hoje

Em 2010, a Italdesign passou a integrar o Grupo Volkswagen, sob alçada da Audi AG. Em maio desse ano era assinado um acordo de aquisição de 90,1% das ações da empresa por parte do construtor alemão, mantendo-se o restante nas mãos dos acionistas familiares. Giugiaro ficaria como presidente honorário da companhia até 2015, data em que, aos 77 anos, se retirou.

Originalmente criada com foco no setor automóvel, a Italdesign expandiu-se para outras áreas em 1974 quando, sob a marca Giugiaro Design, começaram a ser elaborados projetos para setores tão distintos como os transportes (comboios, aviões, barcos), a indústria alimentar ou a identidade corporativa.

A sede de Moncalieri, um espaço que cresceu para 50.000 m2, alberga dois centros de design, duas instalações de realidade virtual e cerca de mil unidades de trabalho com as mais avançadas ferramentas de design e engenharia assistidas por computador (CAS, CAD, CAE, CAM). O “quartel-general” da Italdesign conta ainda com oito prensas hidráulicas, duas linhas de montagem para protótipos, entre outros.

Além da sede em Turim, a Italdesign conta com instalações em Ingolstadt, Wolfsburgo e Barcelona. No total, a companhia emprega hoje 993 pessoas, um aumento de 30% face a 2010, o ano da aquisição pelo Grupo Volkswagen.

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