Os hot-hatch, outrora o epítome do desempenho acessível e da diversão prática, estão agora a enfrentar um lento e constante desaparecimento. Estes automóveis compactos, caracterizados por motores potentes, manuseamento preciso e facilidade de utilização no dia a dia, ganharam imensa popularidade a partir da década de 1980.
Ícones como o Fiat Uno Turbo i.e., o Peugeot 205 GTI e o Renault 5 Turbo definiram o género, conquistando os corações dos entusiastas e dos condutores casuais. A sua existência durou até à primeira década dos anos 2000, no entanto, atualmente a maioria das marcas abandonou o segmento, restando apenas o Golf GTI, a Toyota com o GR Yaris, e a Hyundai com o i30 N.
O Alpine A290 é uma entrada arrojada no segmento dos hot hatch eléctricos, apresentando uma combinação perfeita entre a herança desportiva da Alpine e a tecnologia EV da Renault. Este automóvel proporciona uma experiência de condução exemplar, mantendo-se fiel ao espírito de agilidade e desempenho da marca.
Design e estilo
O design do A290 é marcadamente futurista, apesar de ter como base e inspiração o Renault 5. No entanto, a Alpine pegou no hatch de inspiração retro e conferiu-lhe um ADN desportivo. O design aerodinâmico, como a carroçaria esculpida, a frente agressiva e a elegante iluminação LED, conferem-lhe uma estética vincada. A largura com 1,82 m e as proeminentes cavas das rodas não só melhoram a sua estética, como também sugerem o seu potencial de desempenho. As suas proporções desportivas, mas compactas – 3,99 m de comprimento e 2,53 m entre eixos –, são perfeitas tanto para as estradas urbanas como para as estradas secundárias sinuosas.
Desempenho
O Alpine A290 utiliza um único motor elétrico que acciona as rodas dianteiras, com potências de 180 cv ou 220 cv. O conjunto é leve, pesa apenas 1479 kg distribuídos entre 57% na frente e 43% atrás. A bateria de 52 kWh pode ser carregada em corrente alternada até 11 kW ou em carregadores rápidos DC até 100 kW, demorando 30 min entre os 15% e os 80%, para uma autonomia anunciada de até 380 km (WLTP). A Alpine também trabalhou arduamente na afinação do chassis, com uma direção precisa e uma suspensão desportiva que promete uma experiência envolvente. Todas as versões do A290 estão equipadas com pneus Michelin 225/40 R19, montados em jantes de 19 polegadas.
Interior e caraterísticas
O habitáculo do A290 é minimalista, mas centrado no condutor. Temos um painel de instrumentos e um ecrã de infoentretenimento, ambos com 10,1 polegadas que utiliza Android Automotive com Google Maps para a navegação, que é feita de forma expedita, os bancos tipo baquet oferecem um excelente suporte e um volante de pequeno diâmetro, que a Alpine refere ser inspirado na F1: não é totalmente redondo e tem botões coloridos, um para os modos de condução, outro para disponibilizar a potência total para utilizar por exemplo numa ultrapassagem – embora se pisarmos o acelerador até ao fundo tenha o mesmo resultado –, e um rotativo que permite escolher o nível de regeneração. A seleção do sentido de marcha é feita por meio de botões na consola central, como no A110, mas não existe o tradicional espaço para colocar uma garrafa de água que será disponibilizado como acessório.
Experiência de condução
Depois de já termos conduzido um número razoável de carros elétricos, a primeira coisa que notamos assim que travamos com o A290, é que o feedback não é esponjoso, existe uma ação direta entre o pisar do pedal do travão e o acionamento das pastilhas nos discos de 320 mm na frente e 288 mm nas rodas traseiras.
O A290 não tem suspensão adaptativa, mas é confortável para as deslocações urbanas diárias graças ao eixo traseiro multi-link. No entanto, a Alpine manteve o seu foco em dotar o pequeno hatch da capacidade de curvar. Está equipado com barras estabilizadoras dianteiras e traseiras, a direção é precisa e comunicativa, proporcionando um excelente feedback, e é ágil em qualquer dos modos de condução. O centro de gravidade é baixo, e nas curvas, o A290 trava a roda dianteira interior em aceleração para manter a potência no exterior e ajudar o carro a virar, em vez de utilizar um diferencial de deslizamento limitado. Isto não é novidade, mas a Alpine afinou o sistema de modo a que se possa acelerar a meio da curva e obter uma capacidade de viragem adicional. A Alpine introduziu também paisagens sonoras artificiais que utilizam o som do motor elétrico digitalizado que é reproduzido aumentando a imersão na experiência de condução.
Tivemos a oportunidade de pilotar o A290 em pista, durante a apresentação internacional, onde o pequeno hatch é talvez ainda mais impressionante do que em estrada. Tem muita aderência, é tolerante quando pisamos os corretores, a direção transmite exatamente o que as rodas estão a fazer e o acelerador permite ser doseado como desejamos. O facto de o controlo de estabilidade poder ser desligado com um botão é um indício de que os engenheiros da Alpine levaram a possibilidade de utilizar o A290 em pista a sério. Depois das repetidas voltas ao circuito onde o sistema de travagem Brembo não cede é a prova disso mesmo.
Veredicto
O Alpine A290 tem muito daquilo que gostámos quando também experimentámos o Hyundai Ioniq 5 N. Em pista, é sinónimo de diversão absoluta – rápido, ágil e envolvente. A sua condução precisa, e a utilização inteligente da tecnologia garantem que é tão divertido como os seus antecessores com motor de combustão. Alpine A290 GTS Première Édition (1995 exemplares): 46,200 euros