Ao volante do SUV mais luxuoso do Mundo

14/05/2017

Fomos aos Estados Unidos da América guiar o Bentayga. Tem assinatura da Bentley pelo que dizer-lhe que é o mais luxuoso SUV do Mundo é uma redundância. Saiba, também, que é o mais potente e o mais rápido. E o mais caro
Wolfgang Durheimer, Chairman da Bentley, dizia-nos que, se alguém lhe perguntasse há meia dúzia de anos se acreditava que a sua marca iria ter um SUV a resposta seria um não contundente. Por que mudou de ideias? “Porque a Bentley não podia permitir-se que os compradores habituais dos seus carros mudassem de marca na hora de adquirir um veículo capaz de os transportar nas condições mais adversas”. Assim uma espécie de, “se temos que o fazer, que seja o melhor”.

O resultado é o Bentayga, o maior investimento da marca num só modelo (840 milhões de euros) apesar de receber diversos componentes do banco de órgãos da VW e de várias operações serem realizadas segundo processos artesanais (para assegurar os mais elevados padrões de exclusividade), sendo necessárias 130 horas para produzir cada unidade.

Do triunvirato britânico (Aston Martin, Bentley e Rolls Royce, a Bentley é a primeira a lançar um SUV cujo caderno de encargos inicial previa a produção de 3600 unidades/anomas cuja procura inicial obrigou ao aumento da cadência para 5000 unidades…

Mesmo que o preço de catálogo chegue aos 300 mil euros em Portugal e que, em opcionais, seja fácil adicionar mais 100 mil euros. Isto se deixarmos de fora o relógio Tourbillion, concebido especialmente pela Breitling para este modelo, do qual apenas são feitas quatro unidades a cada ano porque… cada uma demora três meses a ser produzida. Razão: além do mecanismo complexo, é totalmente em ouro branco, ou rosa, com o mostrador em madre pérola.

Custa 200 mil euros com os mercados árabes a disputarem arduamente cada unidade.

Mas é claro que para provar o sabor da exclusividade não é preciso cair no exagêro. O interior do Bentayga é, só por si, um hino ao requinte e ao bom gosto, à sublime combinação do clássico, com as tecnologias mais avançadas. Na traseira os bancos podem ser individuais, com ventilação e massagem e os ocupantes têm disponíveis dois tablet de 10,2 polegadas que permitem acesso individualizado à internet (4G), ver filmes (também de forma individualizada) aceder ao email, ou visualizar todas as informações que são fornecidas pelas camaras que monitorizam o que se passa ao redor do carro. Tudo aquilo que define a vida moderna está disponível. Tudo aquilo que define o luxo máximo está a bordo do Bentayga. Tudo o que contribui para o máximo conforto não foi descurado, como é o caso dos frisos triplos em borracha que isolam completamente o habitáculo do ruido exterior. E, depois, os detalhes: as aplicações em madeira, o couro da mais alta qualidade, o painel de instrumentos totalmente analógico, com indicadores tradicionais, com agulhas, cobertos com vidro safira (em vez de plástico). Nada de digital. Hi tech em nome do bem-estar a bordo e nada de futilidades. Tecnologia sem reticências para que o Bentayga possa ser o nosso escritório (podemos transpor para o ecrã no tablier e para os tablets, as apps que preferimos), a sala de estar ou, mesmo, um fabuloso “concert hall” graças ao já referido isolamento acústico e à notável aparelhagem de som exclusiva do Bentayga que pode ter até 1800 watts difundidos por 18 altifalantes.

Pelo menos para já, o Bentayga é, então, de longe o mais sofisticado e luxuoso SUV no mercado e só depois de o conhecermos entendemos o porquê de ser caro – cerca de 300 mil euros em Portugal.

Um milagre da engenharia

O Bentayga é o mais luxoso SUV do Mundo e, também, o mais rápido (enquanto não chega o Lamborghini Urus): 301 Km/h de velocidade máxima e 4,1 segundos de 0 a 100 Km/h. “O mais” em tudo, como a Bentley gostou sempre de definir os seus produtos.

Como qualquer Bentley – e ao contrário da generalidade dos automóveis de grande luxo – o Bentayga é para ser conduzido por quem o pagou. Os números dizem muito – 301 Km/h, 4,1 segundos para acelerar de 0 a 100 Km/h, mas o que mais nos espanta é a agilidade, mesmo em trajetos mais sinuosos e a facilidade com que deixa para trás os terrenos mais difíceis. Com um conforto “desconcertante”!

A estrutura, maioritariamente construída em alumínio, aligeira-lhe o peso (menos de 2,5 toneladas) mas o segredo está na suspensão pneumática que conta com um sistema que faz variar a rigidez das barras anti-rolamento, através de dois motores elétricos de 24Volts que asseguram uma resposta quase instantânea. À medida que, em curva, a velocidade aumenta e o carro começa a inclinar-se, essa tendência é compensada pelo endurecimento das barras (uma por eixo) que travam o movimento da carroçaria, para logo de seguida voltarem à posição normal, privilegiando o conforto.

Por todo o lado

Se em estrada já tínhamos ficado convencidos das vantagens deste sistema, foi na pista, em andamento muito rápido, que testemunhamos as reais virtudes. Foi, também, aí que ficámos de queixo caído com a brutal capacidade de aceleração do novo motor W12 de 6 litros de cilindrada, com injeção direta, dupla sobrealimentação e função “cilinder on demand” (nos regimes baixos trabalham apenas seis cilindros para favorecer o consumo).

Mais do que os 600 CV de potência impressiona o binário de 900 Nm disponíveis entre as 1250 e as 4500 rpm. Significa que, logo após o arranque, temos imediatamente disponível a força máxima, pelo que, em andamento rápido, na pista, a maior dificuldade foi dosearmos o acelerador: se aceleramos cedo demais ou com maior brusquidão… a curva já passou e, depois, aliviar o pé traduz-se na perda da traseira.

A pensar no peso, os engenheiros da Bentley reforçaram a travagem com discos de grandes dimensões, mas a grande coroa de louros do Bentayga é o acerto do chassis, sendo o primeiro SUV a oferecer um total de oito modos de condução: “Conforto”, “Bentley” (um compromisso entre conforto e condução desportiva), “Sport” e “Individual” (que permite a escolha do “setting” mais desejado para a suspensão, cartografia do acelerador, passagem de caixa e “feeling” da direção), a que se juntam opções para situações mais delicadas como areia, lama, gelo e TT, sendo que, neste caso, a altura ao solo aumenta em três centímetros para permitir a transposição de obstáculos.

Demonstrando uma confiança quase “kamikaze” no produto (depois percebemos porquê) a Bentley proporcionou-nos uma experiência de condução fora de estrada que incluía trilhos em mau estado e com bastante lama e transposição de situações em que o cruzamento de eixos coloca desafios que só os melhores conseguem ultrapassar, o que no passado só era possível com complexos sistemas de bloqueio de diferenciais que, para uma correta utilização, implicava conhecimentos avançados. Pois bem, a Bentley resolveu tudo com a exploração das vastas capacidades da eletrónica e a verdade é que o Bentayga apenas nos pede que sejamos meigos e precisos a dosear o acelerador. Tudo o mais é por conta de uma eletrónica cujo patamar de sofisticação está traduzido nas afirmações de Cameron Paterson, responsável por toda a engenharia do Bentayga: “Se considerarmos todos os sistemas, do ar condicionado à tração integral permanente, passando pela suspensão, ajudas à condução, etc, o total de códigos a bordo do Bentayga é superior ao que existe num Boeing 777 Dreamliner”.

Às versões gasolina e diesel, já à venda juntar-se-á dentro de um ano uma motorização híbrida.

Júlio Santos

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