Peugeot 3008 DKR: o SUV 3008 levado ao extremo
A Peugeot compete no Dakar 2017 “Argentina Bolívia Paraguai” com quatro equipas e o Peugeot 3008 DKR, um carro que faz a sua estreia nesta prova. Trata-se de uma visão levada ao extremo do novo SUV 3008, elevando a um novo patamar os seus sinais de identidade e as suas enormes proporções, especialmente quando observado a 3/4 de traseira. Vistos de frente e de trás, ambos os modelos – de série e de competição – são semelhantes no que se refere aos faróis, à grelha e à banda negra que une os dois faróis traseiros, que imitam em vermelho a forma de garras.
Para Sébastien Cricket, responsável pelo desenho do Peugeot 3008 de série e do Peugeot 3008 DKR de competição, “quando a Peugeot Sport nos contactou para desenvolvermos o carro para o Dakar 2017, sentimo-nos desde logo entusiasmados por podermos criar uma interpretação ‘sem limites’ e algo selvagem do SUV 3008. As características técnicas deste veículo estão limitadas pelo regulamento em vigor, mas o seu design é inspirado diretamente na versão de estrada, integrando alguns elementos originais que dão maior dinâmica e força ao novo Peugeot 3008 DKR: rodas grandes e uma célula interna negra ‘Black Diamond’, faróis, grelha ou a banda preta traseira, que une os faróis com as suas garras vermelhas.”
O 3008 DKR teve o seu batismo de fogo no passado Rali de Marrocos, onde alcançou várias vitórias em etapas e onde se afinou a sua preparação com vista ao Dakar. No total, percorreram-se 5.000 km de testes às suas inovações técnicas, em condições reais (calor, areia, dunas), para se encontrarem as regulações adequadas.Do ponto de vista técnico, a Peugeot Sport tem trabalhado em especial nas suspensões (amortecedores e geometria), de modo a melhorar ainda mais o comportamento do modelo, bem como na refrigeração e no peso do carro, que se mantém estável, apesar da integração de novos reforços, entre eles o sistema de climatização, algo que será muito apreciado pelas equipas que seguem a bordo.
O motor também foi objeto de atenção, pela sua adaptação aos novos regulamentos da FIA, reduzindo-se o diâmetro do restritor de entrada de ar de 39 para 38 mm em veículos com motores diesel e duas rodas motrizes. Esta modificação prevê uma redução da potência em cerca de 20 CV, desvantagem que os engenheiros tentaram compensar, para além de melhorarem a facilidade de utilização do motor a baixa velocidade. Para além disso, trabalhou-se com vista à maior fiabilidade mecânica.
A formação do Team Peugeot Total para 2017 não sofreu alterações: Stéphane Peterhansel/Jean Paul Cottret, Carlos Sainz/Lucas Cruz, Cyril Despres/David Castera e Sébastien Loeb/Daniel Elena estarão à partida do Dakar 2017, a bordo de quatro flamejantes Peugeot 3008 DKR.
Peugeot 205 T16: O rei africano
O Peugeot 205 Turbo 16 disputou o Mundial de Ralis entre 1984 e 1986, tendo alcançado dois títulos de Pilotos (Timo Salonen e Juha Kankkunen), entre muitos outros resultados. No total, venceu 16 ralis, o primeiro deles os 1.000 lagos (Finlândia) no ano de 1984, então com Ari Vatanen ao volante.
Igualmente sob a direção de Jean Todt, a equipa Peugeot para o Dakar trabalhou sobre esta base para construir o melhor carro de rallye-raids do seu tempo. A distância entre eixos foi aumentada em 33 cm para acomodar um depósito de combustível adicional, com 190 litros, que permitia cobrir as longas etapas do Dakar. Também se aumentou o curso das suspensões e montaram-se novas rótulas e reforçaram-se os triângulos, bem como jantes e pneus mais resistentes. O trabalho no chassis foi concluído com a introdução de uma direção assistida, enquanto no habitáculo se adaptou a instrumentação às novas exigências da competição, com um sistema de navegação.
Ao nível do motor trabalhou-se no aumento da sua fiabilidade, adaptando-o para funcionar a altas temperaturas envolventes e melhorando-se a sua resposta nos regimes médios de rotação. Por este motivo, o bloco em alumínio XU8T de quatro cilindros e 1.775 cm3, dotado de um enorme turbo Garret, viu reduzida a sua potência para os 380 CV. A caixa de velocidades recebeu carretos reforçados e desenvolvimentos adequados ao Dakar, com uma performance final ampliada, de modo a permitir um conforto de rolamento a alta velocidade nas pistas e nos desertos africanos. No que se refere à formação de pilotos, Jean Todt elegeu um estreante na prova – Ari Vatanen (navegado por Bernard Giroux) – para líder da equipa, acompanhando-o das duplas Mehta/Toughty e Zanussi/Arena.
Como carros de competição, o design do Peugeot 205 Turbo 16 e do DKR 3008 vêem-se limitados pelos diferentes regulamentos técnicos das suas épocas, mas ambos buscam os mesmos objetivos: velocidade, fiabilidade e capacidade de adaptação a diferentes terrenos e superfícies, como as que se enfrentam num Dakar. No caso do Peugeot 205, partiu-se de uma boa base que era o carro de ralis que, por sua vez, derivava de um modelo de estrada; quanto ao 3008 DKR, trata-se de uma profunda evolução do 2008 DKR, que foi concebido de raiz, a partir de uma folha em branco.
Ambos têm uma configuração base semelhante: um chassis tubular em aço (no caso do 205 T16 acrescida de uma estrutura central monobloco face ao modelo de série), suspensões de duplos triângulos e grandes cursos, motor em posição central (disposto longitudinalmente no caso do 3008 DKR). Pondo de lado a natural evolução mecânica nos 30 anos que os separam, as maiores diferenças entre estas duas máquinas de competição centram-se nos seus motores, sistemas de tração, interiores e dimensões gerais.
O 205 Turbo 16 contava com um pequeno bloco de 4 cilindros a gasolina, de 1.8 litros, que, graças ao contributo de um turbo de grandes dimensões, disponibilizava uma elevada potência. Já o 3008 DKR aposta num bloco diesel de maiores dimensões e com mais cilindrada, proporcionando menos potência máxima, mas mais binário.
O sistema de tração do 205 é integral porque se adaptava a um regulamento definido para modelos com tração às quatro rodas. Para se integrar na sua categoria de buggies, o 3008 DKR não está autorizado a dispor dessa tração às quatro rodas, algo que se ultrapassou quer pelo seu design, quer pela adoção de sistemas como o Grip Control e o enchimento/esvaziamento automático dos pneus em andamento, permitindo-lhe superar com elevada distinção os terrenos mais complicados.
Em termos de dimensões, o Peugeot 205 é um carro de uma outra época, mais pequeno e com base num modelo utilitário, enquanto o 3008 orgulha-se da sua silhueta SUV e de algumas medidas mais generosas, sendo impressionante em largura e altura.
José Luis Abreu/Autosport