Originalmente o filme chama-se ‘No Country for Old Men’, mas no Brasil o título é mais adequado ‘Onde os Fracos não têm vez’ e tem tudo a ver com este Dakar. Quando em novembro, na apresentação do evento, Marc Coma advertia para o que aí vinha, ninguém tinha ideia do que realmente estava para vir e a verdade é que depois das inevitáveis duas especiais rolantes, não demorou muito a que o ‘verdadeiro’ Dakar se mostrasse em todo o seu esplendor. Não é por acaso que o seu criador, Thierry Sabine imaginou esta prova, precisamente quando estava quase às portas da morte. Em 1977, quando disputava, com uma moto, o Abidjan-Nice, este francês de espírito aventureiro e um humanista inato, perdeu-se em pleno deserto líbio. Quase a morrer, foi encontrado por nómadas locais deitado nas areias escaldantes, prestes a entrar em coma irreversível. Trataram-no e, depois de voar para França, maturou uma ideia, que lhe veio à cabeça enquanto (quase) morria: porque não criar uma espécie de epopeia heróica, onde os homens pudessem partilhar a coragem e o gosto pela aventura mais pura e dura e, ao mesmo tempo, partilharem também a magnificência dos grandes espaços desérticos, o fascínio pelo desafio e pelo desconhecido? Foi exatamente isso que sucedeu, e África, durante muitos anos tratou de exponenciar isso mesmo.

Contudo, e com a necessária mudança para a América do Sul em 2009, o Dakar passou a ser muito diferente. Nos primeiros anos não foi mais do que uma corrida sprint de duas semanas, dura, claro, mas nada demais. Comparando o percurso com África, não tinha nada a ver. Ciente disso a ASO quis mudar um pouco esse paradigma, e na apresentação da prova, o seu diretor desportivo, Marc Coma, disse ao que vinha: “Será o Dakar mais duro que alguma vez teve lugar na América do Sul. É esse o ADN do Dakar, tem que ser uma corrida dura, onde a navegação é importante, a gestão da corrida crucial e tem de ter etapas com muita quilometragem”.

Ainda falta muito, mas Bruno Famin e Glyn Hall, responsáveis máximos da Peugeot e Toyota, respetivamente, têm opiniões semelhantes: “Sabemos bem que esta corrida ainda nos reserva ainda muitas surpresas, como as que irão surgir amanhã. Os problemas encontrados pelo Carlos, Stéphane e Sébastien, que ocupavam na altura as três primeiras posições da geral, estão aí para nos lembrar disso. No Dakar, nunca nada está conquistado” disse Famin, algo que Hall ‘confirma’: “Este Dakar já nos mostrou que vai morder muito mais do que nos anos anteriores. Acho que o Marc Coma se dedicou a elevar o Dakar À sua reputação da corrida mais difícil do planeta”, disse.

José Luís Abreu/AutoSport