Harri Toivonen recorda irmão: “Mano, aperta bem os cintos…”

02/05/2017

Trinta e um anos depois da morte do seu irmão, Harri Toivonen recorda momentos da sua vida ao lado do seu ‘big brother’, que como se sabe perdeu a vida no Rali da Córsega, a 2 de maio de 1986…

Cumpre hoje trinta e um anos que Henri Toivonen e Sergio Cresto perderam a vida no Rali da Córsega. Já tudo foi dito sobre a sua vida e morte, e por isso, três décadas depois, fomos falar com o seu irmão Harri Toivonen, também ele, piloto de ralis. Dois de maio de 1986 foi o dia em que o mundo dos ralis perdeu um piloto que era reconhecido por quase todos como o mais rápido de todos os tempos. Mas nunca chegou a ter tempo para alcançar os títulos, que já todos previam. Henri e Harri Toivonen são filhos de Pauli, outro piloto, este considerado um dos ‘finlandeses voadores’ originais. Campeão Europeu de 1968, vencedor do Rali dos 1000 Lagos e também o ‘controverso’ vencedor do Rali de Monte Carlo de 1966. Já o irmão Harri, era também ele um piloto de excecionais habilidades, cujas circunstâncias nunca permitiram que fossem desenvolvidas totalmente. Hoje em dia, Harri Toivonen ainda pode ser encontrado na cena dos ralis, mas curiosamente num papel surpreendente. Comercializa uma bebida energética. Com ele, partilhámos memórias do seu irmão mais novo: “Henri era um rapaz que eu olhava de duas formas distintas, como piloto de ralis e como irmão mais velho. E ele era o melhor irmão e o melhor amigo que poderia ter tido. Estava sempre a pensar no irmão mais novo, sempre arranjando as coisas para eu fazer um teste ou a tentar arranjar-me um lugar numa equipa de fábrica, coisas assim. Ele estava sempre a tentar ajudar-me, dizia-me que eu era muito rápido nas especiais mais longas e que eu poderia ser ainda mais rápido que ele. Era uma pessoa incrível, e ainda hoje, não passa um único dia que não pense nele. E claro, o nosso pai. Por isso fiz uma tatuagem no meu braço que diz “lembrar sempre, nunca esquecer, ‘Helka’ e Pauli’, recordou emocionado, Harri Toivonen logo no início da nossa conversa.

A família Toivonen é uma das mais míticas da história do desporto motorizado, e tudo começou com Pauli Toivonen nos anos 50 e 60, mas o que se lembra Harri da história do seu pai? “Muito, mesmo. Logicamente através doutras pessoas já que eu não era ainda nascido ou era demasiado pequeno e estava em casa com o meu irmão. Recordo-me, por exemplo de tudo o que ele me contou sobre o malfadado Rali de Monte Carlo de 1966, falei muito com ele sobre isso e sei que ele nunca aceitou a vitória como sua” recordou Harri, que tem, muito naturalmente muito mais memórias da carreira de Henri: “Como podem calcular recordo muita coisa, a maioria dos seus tempos da Lancia e do acidente. E um das melhores memórias foi quando o Henri venceu o Rali de Monte Carlo de 1986. Eu estava lá a ajudar como batedor, portanto estava sempre por perto, e no Hotel, ajudando-o com o equipamento, etc. Antes da última noite fomos para o Turini só para ele se recordar melhor como eram os troços. Levámos o carro de treinos, o mesmo com que ele venceu o RAC de 1985, mas tivemos que trocar rapidamente de lugar porque eu enjoei. A partir daí eu guiei o S4 e ele foi a confirmar as notas…”

“Não ando mais contigo, és maluco”
Poucos terão conhecido Henri Toivonen de muito perto, e por isso, Harri, é das pessoas que melhor sabem como era Henri ao volante: “Lembro-me uma vez em testes para o Monte Carlo. Vimos muitos espetadores a estacionar os seus carros ao lado da estrada e então quando chegámos ao local do início do teste, o Henri disse-me: “OK, mano, aperta bem os cintos que te vou mostrar o que podem fazer estes carros hoje em dia. Eles fecharam a estrada quando nos viram chegar, e recordo-me de virmos em quinta a fundo a descer a montanha, chegar a um gancho e pensar: “Oh, merda, vou morrer!” Só que ele atravessou o carro, travou, passou de caixa, as quatro rodas começaram a derrapar e quando chegou à curva o carro parou de repente. Lembro-me de ter dito, és parvo ou quê? Pára o carro, não ando mais contigo, és maluco…”.

Henri Toivonen passou por alguns momentos complicados na sua carreira, alguns acidentes, aliás, muitos, alguns graves, logicamente aparte do seu trágico acidente da Córsega 1986, muitos se recordam de ver Henri de muletas ainda nos tempos do Porsche da Rothmans: “No Rali Costa Esmeralda de 1985 ele teve um grande acidente, em que lesionou o pescoço, mas claro, nos 1000 Lagos todos nos aleijávamos nas costas. Pensem no que os pilotos fazem agora, se saltássemos nos anos 80 daquela forma, com os Grupos B, teríamos morrido todos.”

Harri recorda-se bem do momento em que Henri trocou a Porsche pela Lancia, marca com que atingou o esplendor: “Eu acho que o meu irmão não estava feliz na Porsche e vi-o muito feliz quando recebeu o convite do Cesare Fiorio para ir para a Lancia. O ambiente era completamente diferente na Lancia ele sentia-se em casa, o Cesare conhecia-o bem, desde que o Henri era um miúdo, pois o Cesare tinha sido o patrão do nosso pai, Pauli, que foi o primeiro piloto oficial da Lancia. Ainda tenho uma medalha comemorativa que ele recebeu da Lancia.

Família Lancia
Há momentos na nossa vida, que mesmo não tendo tido diretamente a ver connosco, que nos permitem recordar onde estávamos exatamente aquando de determinados acontecimentos, por exemplo a morte de Ayrton Senna, o 11 de setembro de 2001, e com Harri Toivonen é perfeitamente natural que saiba detalhadamente o que se passou consigo naquele fatídico dia 2 de maio de 1986: “Eu estava nas verificações técnicas do Welsh Rally. Estava com pressa, pois chegara um pouco tarde, de repente todos os mecânicos viraram as costas quando me viram, e eu pensei. Merda, o que é que fiz desta vez? Um dos mecânicos disse-me que eu tinha que ir ao secretariado do rali. Fui de seguida, e quando lá cheguei o Phil Short chegou ao pé de mim e disse ‘Harri tenho más notícias da Córsega’ Portanto, foi assim que soube. O meu pai estava nas verificações, ouviu a notícia, perguntou ao Hannu Mikkola o que ele tinha ouvido, e o Hannu disse-lhe ‘ sim, infelizmente, lamento…” A minha mãe ouviu pela TV, portanto foi um grande choque para ela…”

O acidente e as duas mortes chocaram o mundo dos ralis e ainda mais pela forma como tudo sucedeu: “Ouvi histórias de como tudo aconteceu de várias pessoas da Lancia, todas elas confiáveis, e o que me disseram é que o acelerador terá ficado preso. Já tinha sucedido ao Henri no Rali da Suécia, num teste, e soube também que o pedal do acelerador do carro do Markku Alen ficou preso, imediatamente depois do Giorgio Pianta ter testado o Lancia Delta S4. O mecânico que estava sentado ao lado do Markku desligou o ‘switch’ de emergência porque se não, teriam tido um grande acidente” revelou Harri Toivonen, clarificando as inúmeras versões que existiram do acidente.

Hoje em dia Harri Toivonen mantém algumas ligações aos ralis, especialmente nos ralis históricos, já foi visto recentemente no Eifell Rallye, por exemplo, entre outros: “Continuo a gostar de guiar em eventos históricos. Recentemente mudei-me de Florença para a Finlândia, o meu trabalho principal passa pelo trabalho numa empresa de bebidas, a Ionic, fornecendo equipas como a M-Sport/Ford e a Hyundai Motorsport, que é um dos seus maiores clientes.”

Harri Toivonen sempre foi um piloto a quem não se augurava, nem de perto, o futuro do irmão, mas rezam as crónicas que também era rápido. Pelo menos o suficiente para terminar em oitavo o Rali da Finlândia de 1986, aos comandos de um MG Metro 6R4. No Europeu de Ralis obteve uma vitória, no Hankiralli, em 1988, aos comandos de um Lancia Delta HF 4WD, sendo estes os resultados de maior relevo. Harri Toivonen não deixou uma marca tão forte nos ralis quanto o seu irmão, mas quantos de nós nos podemos gabar de ter terminado em oitavo o Rali da Finlândia na era dos Grupos B?

Sintra, Rali de Portugal 1984: Dia de recordes

No ano de 1984, Henri Toivonen dividiu as suas participações nos ralis entre a Porsche e a Lancia, e depois do Rally Costa Brava, em que abandonou com problemas de transmissão no Porsche 911 SC RS, o finlandês deu um pulo a Portugal para pilotar pela primeira vez o Lancia 037 Rally numa prova do Mundial de Ralis. Este foi também o dia em que um português, António Rodrigues, também aos comandos de um Lancia 037 Rally surpreendeu tudo e todos, mas é de Henri Toivonen que queremos falar. As coisas, não correram como desejado, já que Toivonen chegou aos píncaros, mas não deu sequência ao incrível trabalho que estava a fazer. Bateu os recordes de todos os três troços, Lagoa Azul, Peninha e Sintra. E a não ser que um dia alguém se lembre de fazer regressar os ralis do WRC a Sintra, esses recordes ficarão para a eternidade…

Antes da prova, Toivonen estava entusiasmado com o seu novo carro: “O Lancia 037 parece um Grupo C no asfalto. O carro é rapidíssimo e o feeling é incrível”, disse antes da prova, revelando também que em todos os testes que fizera com o carro nunca o conseguiu levar aos limites, porque o tempo nunca esteve perfeito para testar em Itália.

Henri Toivonen conseguiu vitórias nos cinco primeiros troços, Lagoa Azul, Peninha e Sintra, repetindo os triunfos nas segundas passagens pelos dois primeiros troços, mas tudo terminaria na zona entre muros da descida da Pena, quando destruiu por completo o 037 depois de ter saído depressa demais duma direita. Foi à terra e ‘perdeu’ o carro, que bateu em tudo o que era muro por perto: “Ele estava a rodar completamente nos limites e estava a deixar muito pouca margem naquela traseira para os muros”, começou por dizer Juha Pirenonen, seu navegador pela primeira vez no 037: “Havia uma árvore a crescer para fora do muro na saída duma direita, e tocámos-lhe de raspão com a traseira, mas isso foi suficiente para chicotear o carro contra os muros, batendo em todo o lado. Ele estava a rodar com uma confiança imensa (ndr, tinha batido recordes em todos os troços que fez) e o desfecho mostrou quão perto ele estava do limite”, disse Pironen.

‘Bravo Henri…fantástico!!!’

Rali do RAC 1985: Pouco depois as imagens passam para o derradeiro controlo horário em Notthingam, onde se confirmou a segunda vitória de Henri Toivonen em cinco anos de Mundial de Ralis. Abraçou os mecânicos e responsáveis da Lancia, um por um, mostrando que era um piloto muito querido naquela autêntica família que era a equipa italiana.

Não trocam muitas palavras, mas o sorriso na cara de Henri Toivonen diz tudo. Reporta o jornalista da TV inglesa que o entrevistou: “É um Henri Toivonen muito emocionado que cumprimenta um a um todos os elementos da equipa…”

P – Henri, uma prova com muitos altos e baixos?
Henri Toivonen: “Sim, foi uma grande aventura chegar aqui…desde piões, a ficar parado sem gasolina e outros pequenos problemas e ao mesmo tempo ter de aprender o carro, no final chegar à vitória, acreditem que é muito bom…”
P – Dizem que para ganhar provas do Mundial se tem de ter a D. Sorte do nosso lado, é verdade?
HT – “Acredita que sim! Esperei cinco anos para voltar a sorrir…”
P – Há alguma coisa que retenhas desta prova? Qual foi o teu grande momento do rali?
HT – “Acho que foi a especial de Kielder – ndr – tão famoso para os britânicos como Arganil é para os portugueses – disputá-la na neve e no gelo é tremendamente difícil, e por isso acho que foi a melhor parte…”
P – Viste o Markku fora de estrada?
HT – “Estava muito minutos atrás dele, não o vi…”
P – Se o visses, ajudava-lo a regressar à estrada.
HT – “Somos compatriotas e colegas de equipa…”
P – Estás ansioso por 1986?
HT – “É verdade. Pelo menos agora a confiança subiu muito…”
P – Se te perguntasse há cinco dias em que posição ficarias feliz de chegar? Carro novo sem tempo para testar. O que teria sido uma boa posição para ti antes da prova?
HT – “Nos cinco primeiros…”
P – Agora és o número um…
HT – (encolhendo os ombros) “Há cinco anos, queria ficar em terceiro, fui primeiro, portanto, baixas as expectativas para ser o melhor para mim…”
P – Agora vai pedir para ficar no top cinco em todas as provas (risos)
HT – “Se calhar é melhor…”(risos)
P – Estás muito contente com o carro…
HT – “Mesmo muito…”
P – Pode ser melhorado, achas que há áreas onde se pode melhorar o carro?
HT – “Sim, a equipa disse-me que pode melhor em cerca de 35%, 40% em Monte Carlo, por isso…”
P – Podemos-te ver ainda mais competitivo?
HT – “Espero que sim…”
P – Henri, vai e aprecia o champanhe…muito obrigado…
HT – “Obrigado…”
P – Excelente trabalho…
Algum tempo depois, Henri Toivonen vencia o Rali de Monte Carlo, depois duma prova onde se atrasou bastante na sequência dum acidente numa ligação. Uma prestação excelente. Desistiu na suécia com um problema no motor do S4, o Rali de Portugal foi o que todos sabem. Na prova seguinte, na Córsega…morreu, quando liderava. Na opinião de muitos, teria sido o maior piloto de ralis de todos os tempos. Quem o viu naquele dia de Sintra, em 1984, é bem capaz de concordar…

RECORDE A CARREIRA DE HENRI TOIVONEN

Henri Toivonen foi um ícone de um dos período mais controversos dos ralis mundiais mas a sua filosofia de permanente ‘maximum attack’ conquistou um lugar imortal no coração daqueles que o viram passar. Henri Toivonen morreu há 28 anos mas a sua história de talento, fama e tragédia ainda merece ser contada.

Qual é o fenómeno da Psicologia humana que nos leva a mitificar ídolos pop que tenham morrido (demasiado) cedo? Parece paradoxal mas figuras como Marylin Monroe, Elvis Presley, Jim Morrison, John Lennon, Diana de Gales ou Michael Jackson atingiram a imortalidade no preciso momento em que faleceram. Ou, no caso do ‘Rei da Pop’, no preciso momento em que a notícia invadiu o cosmos cibernético da Internet.

Aconteceu algo semelhante com Ayrton Senna, Gilles Villeneuve, Colin McRae ou Henri Toivonen, todos eles talentos nato das respetivas modalidades, todos eles representantes da filosofia de extremos que apaixona multidões dentro e fora dos circuitos e classificativas. O caso de Toivonen é paradigmático: a sua vida durou menos de três décadas; a sua fama transbordou gerações. Esta é a história de Henri Pauli Toivonen.

Born to be wild

Tal como Gilles Villeneuve na Fórmula 1, Toivonen nunca chegou a campeão do Mundo e o seu registo de vitórias no WRC resume-se a três. Tal como com o canadiano, foi o estilo de incondicional ‘tudo ou nada’ que lhe conferiu a imortalidade – não os livros de estatísticas. Toivonen desconhecia a palavra ‘gestão’ dentro de um carro de competição: para si, o desporto motorizado e os ralis eram, por definição, momentos de ataque contínuo e absoluto, do primeiro ao último metro cronometrado. À semelhança de McRae (ou de Latvala), essa atitude acarretava uma considerável legião de adeptos mas também uma enorme probabilidade de terminar um troço ou um rali dentro de uma vala, contra uma árvore ou contra um muro.

Não é difícil explicar este fascínio pelo abismo da velocidade. Filho do antigo campeão europeu Pauli Toivonen, Henri nasceu na catedral dos ralis finlandeses, Jyväskylä, uma cidade com 130 mil habitantes no centro do país e que acolhe um dos ralis mais famosos do planeta desde 1951. Só que a Finlândia é um país escassamente povoado, com uma dimensão quase quatro vezes superior à de Portugal… e metade da população. Resultado? Enormes áreas florestais praticamente desabitadas e onde se ‘licenciaram’ alguns dos maiores mestres do ‘car control’ que o automobilismo já viu. Apesar de se ter mudado para Espoo em criança, Toivonen não foi exceção. Começou no karting e nas fórmulas de promoção, até porque legalmente só poderia guiar nas estradas públicas a mais de 80 km/h depois de ter completado 19 anos… Foi campeão da Fórmula V e do campeonato finlandês de Turismos antes de a família o aconselhar a mudar para os ralis devido às precárias condições de segurança dos circuitos. Suprema ironia…

A estreia no Mundial aconteceu em 1975 no ‘seu’ Rali dos 1000 Lagos, onde levou um Chrysler Avenger ao quinto lugar. A segunda prova no WRC aconteceu em Portugal, no ano seguinte, com um Citroën ao volante do qual chamaria a atenção de algumas equipas. A primeira oportunidade de Toivonen numa equipa oficial surgiu na Talbot, ao lado de Guy Fréquelin e Russel Brookes. Quando poucos o esperavam, o jovem finlandês venceu o Rali RAC de 1980, tornando-se o mais jovem vencedor de sempre de uma prova do Mundial, com 24 anos. O recorde só foi batido por Jari-Matti Latvala (22 anos) em 2008.

Brilharete em Portugal

Em 1982, David Richards e Tony Falk contratam-no para o dream team da Opel Europe Rothmans: os seus companheiros de equipa eram Ari Vatanen (campeão do Mundo no ano anterior), Walter Röhrl e Jimmy McRae (pai de Colin). Apesar do brilharete no Rali de Portugal, onde liderou a prova de estreia com a Opel até desistir com problemas de embraiagem, tanto o Ascona 400 como o seu sucessor, o Manta 400, ficavam claramente atrás da concorrência. O Audi Quattro A2 e o Lancia 037 já ditavam leis.

Em 1984, David Richards levou-o para uma nova equipa chamada Prodrive, onde pilotaria um Porsche 911 SC RS. Curiosamente, Toivonen já tinha obtido sucesso com a Porsche no Mundial de Sportscar do ano anterior, onde subiu ao pódio de Mugello numa equipa com Jonathan Palmer e Derek Bell. Com o 911 ficaria à beira do título europeu de ralis, abdicando devido a problemas nas costas que se revelariam recorrentes ao longo da sua carreira. No final do ano, Cesare Fiorio já o tinha convencido a assinar pela Lancia quando ainda tinha contrato com a Porsche Rothmans.

O período Lancia

A época de 1985 começou mal para Toivonen. No Rali Costa Esmeralda, pontuável para o campeonato europeu, despistou-se contra um muro e partiu três vértebras do pescoço. Só regressou em agosto nos 1000 Lagos, já depois da morte do amigo e colega na Lancia, Attilio Bettega. Apesar do terceiro lugar em Sanremo, era óbvio que o 037 Rallye não se adaptava ao estilo de Toivonen. Além de ter apenas tração traseira – o que dificultava a tarefa dos pilotos quando as condições de aderência não eram ideais – o 037 tinha apenas 325 cavalos de potência contra os 440 da Peugeot e os 500 do Audi Quattro. O Delta S4 só foi introduzido na última prova da época, mas com um sucesso instantâneo. Toivonen ganhou o Rali RAC e o seu companheiro Markku Alén foi o segundo.

A época seguinte começou da mesma forma: com Toivonen e o Delta S4 no topo do pódio, desta feita em Monte Carlo e com um novo navegador, o norte-americano Sergio Cresto. Ainda assim, o finlandês dizia não ter o carro completamente sob controlo. “Parece ter vontade própria”, chegou a afirmar sobre o mais potente Grupo B da Lancia. No fatídico Rali de Portugal de 1986, Joaquim Santos perdeu o controlo do Ford RS200 que entrou pela multidão e matou três espectadores. Toivonen e todos os outros pilotos oficiais decidiram desistir da prova. Prenúncio de nova tragédia.

No rali seguinte, na Córsega, o finlandês sofria de uma gripe mas, segundo vários relatos, insistiu em disputar a prova (sob medicação) pois tinha perdido a liderança do campeonato. No final da primeira etapa, quando era líder com uma margem confortável, chegou a comentar: “Este rali é de loucos, apesar de estar tudo a correr bem até ao momento. Se houver problemas estou morto!”. Toivonen queixava-se que o carro era demasiado potente para um rali como aquele, e que o esforço de manter o carro na estrada era extenuante. No dia seguinte, ao km 7 da 18ª classificativa, o Lancia do finlandês saiu da estrada numa esquerda apertada sem rails e capotou por uma ravina, rompendo o depósito de combustível e incendiando-se com a dupla de pilotos no seu interior. A intensidade do fogo foi tão grande que do Delta S4 só restou a armação do chassis, tornando impossível apurar a causa exata do despiste. Toivonen e Cresto foram as últimas vítimas dos brutais e lendários Grupo B. Uma investigação posterior da FISA (a então federação internacional) revelou que os reflexos humanos eram demasiado lentos para as velocidades que os Grupo B tinham atingido. Nem que se tratasse de um talento nato como Henri Pauli Toivonen.

José Luís Abreu/AutoSport

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