Arranca hoje com o shakedown do Rali de Monte Carlo a temporada mais aguardada em muitos anos de Mundial de Ralis. Quando ao princípio da tarde de hoje os concorrentes arrancarem para o shakedown, vamos assistir à primeira comparação entre os quatro carros distintos desta nova era do WRC. Os novos regulamentos tornaram os carros mais agressivos em termos visuais, devido à enorme panóplia de apêndices aerodinâmicos e isso aliado ao substancial aumento de potência, permite que estejam reunidas as condições para uma boa temporada, até porque houve uma espécie de remistura entre as equipas, que permitiu baralhar ainda mais o que já estaria naturalmente misturado face aos novos regulamentos.

Estes novos WRC não se tratam de uma enorme revolução, mas sim de uma evolução, já que os carros passam a ser 10 Kg mais leves, 55 mm mais largos e 100 por cento mais agressivos que os de 2016 devido aos novos kits aerodinâmicos. Debaixo do capot, o motor turbo de 1.600 cc, quatro cilindros é igual a 2016, mas com um restritor do turbo maior. Este passa de 33 mm para 36 mm o que permite aumentar a potência de 310 cv para 380 cv. Os carros vão ser mais difíceis de pilotar, e por isso será de esperar mais erros por parte dos pilotos.

A Volkswagen saiu mas a Toyota regressa ao WRC para se juntar à Citroën, Ford e Hyundai. Com o regresso dos japoneses, de fora desde 1999, e as ‘renovadas’ Citroën e Ford espera-se um 2017 muito entusiasmante nos campeonatos de Pilotos e Construtores. A Citroën esteve ausente em 2016, mas realizou algumas provas, e por isso não se considera tanto uma ausência, até porque venceram ralis o ano passado. A ela se junta a M-Sport, Hyundai e a grande novidade do WRC 2017, a Toyota. Na Citroën, o line up mantém-se com Kris Meeke, Craig Breen e Stephane Lefebvre. Para a M-Sport foi Sebastien Ogier, que se junta a Ott Tanak e Elfyn Evans, na Hyundai permanecem Thierry Neuville, Dani Sordo e Hayden Paddon. A Toyota aproveitou um ‘desempregado’ da VW, Jari-Matti Latvala que vai correr ao lado de Juho Hanninen e quando a equipa introduzir o terceiro carro, provavelmente em Portugal, Esapekka Lappi.
A saída da VW levou a que Andreas Mikkelsen ficasse sem volante, mas vai estar no Monte Carlo com a Skoda no WRC, o mesmo sucedendo com Eric Camilli, que perdeu o seu lugar no pináculo do WRC. Vai correr também no WRC2, mas com a Ford. Já Mads Ostberg junta-se a Martin Prokop na mesma equipa e começa na Suécia.

O que esperar dos novos WRC?

Ninguém sabe. É a grande conversa para já no seio das equipas já que este é um momento tenso, pois ninguém sabe se o trabalho que realizou é suficiente. Veja-se o que sucedeu na Fórmula 1 no início de 2014 quando a Mercedes espantou toda a gente nos primeiros dias de testes para a nova era híbrida da F1. Os homens de Brackley trabalharam tão melhor que chegaram ao primeiro teste com um carro muito acima da concorrência e se isso no caso do WRC não é expectável, pois estes têm vindo a testar, e mesmo sem que ninguém tenha certezas, já é mais fácil perceber que não deverá haver diferenças tão substanciais. A verdade é que até aqui nunca ninguém testou nos mesmos locais e nas mesmas condições não há forma de saber qual o carro que está melhor.

De qualquer maneira, em conversa com gente muito ligada ao WRC, experiente, já deu para saber que o Ford Fiesta WRC parece ser um excelente carro de asfalto (as pessoas ligas às equipas conseguem ver coisas que o comum dos adeptos não vislumbra) e já na terra o carro é perfeitamente normal. Quanto aos outros é cedo, sabe-se que a Toyota testou bastante mais que a concorrência, mas isso é perfeitamente normal pois a equipa liderada por Tommi Makinen reentra agora no WRC. A Hyundai parece também ter um carro muito equilibrado, com a equipa a construir um WRC 2017 que é muito uma evolução do novos carro que construiu para 2016. Se assim for, é garantido que vai andar lá na frente, ou muito perto. Resta a Citroën, que nos parece ter construído um grande carro, em terra ou asfalto, algo que só pode ser confirmado nos próximos dias, para já no asfalto, claro.

Quanto aos pilotos, o facto de Sébastien Ogier ter ido para a M-Sport e Jari-Matti Latvala para a Toyota, permite que dois grandes argumentos da super-VW tenham reforçado outras equipas, facto que pode abrir o leque de carros diferentes a lutar pelas primeiras posições. Mas mais uma vez, temos que esperar pelo menos pelos dois primeiros ralis para tirar conclusões, que nem sequer poderão ser definitivas. Não antes de se começarem a disputar os primeiros ralis de terra, o tipo de piso preferencial do WRC, e aí sim, pode haver mais certezas. Muito provavelmente, o Rali da Córsega no asfalto e o Rali de Portugal em terra, vão ser os primeiros em que tudo já está muito mais definido, as equipas já aprenderam muitos os seus carros e tanto no asfalto como na terra será possível tirar melhores conclusões face ao que vale cada equipa neste WRC 2017. Para já, vamos todos desfrutar do Rali de Monte Carlo…

José Luis Abreu/Autosport