Lendas da competição: Ford RS200

11/03/2017

O Ford RS 200 foi um dos últimos Grupo B a ver a luz do dia, já no início de 1986, no entanto o início deste projecto remonta a 1984, quando a Ford decide abandonar o projecto Ford Escort RS1700T, um automóvel que nunca chegou a competir mas que chegou a efectuar testes em Portugal, na Região Centro.

As linhas do automóvel fizeram sensação, e mesmo que nestas coisas “gostos não se discutem” foi mais ou menos consensual que o RS 200 era esteticamente muito agressivo e com uma pureza estética pouco comum em automóveis de ralis.

Em termos técnicos o RS 200 não era um automóvel ultra inovador nem era tão inspirado como em termos exteriores. O motor era um motor Cosworth BDT sobrealimentado, que já vinha do Escort RS1700T. Com uma cilindrada de 1.803 c.c. e uma cabeça de quatro válvulas por cilindro, é a sua implantação descentrada em relação ao eixo do automóvel bem como a sua inclinação de 23 graus para a direita que marcam uma diferença em relação ao que seria mais normal.

Sucessivos contratempos foram adiando a chegada do automóvel ao Mundial e só no Rali da Suécia de 1986 é que o RS 200 finalmente se estreia, tendo ao volante o já veterano Stig Blomqvist e Kalle Grundel, um piloto Sueco em ascensão. A estreia foi encorajadora, já que Grundel ficou no terceiro lugar da geral e venceu cinco troços. Blomqvist acabou por ficar pelo caminho com problemas no motor.

No Rali de Portugal a equipa apresentou-se com a mesma dupla de pilotos mas pelo acidente de Joaquim Santos abandonaram voluntariamente a prova. Seguiu-se o Rali da Córsega, onde a Ford não participou e o acidente fatal de Henri Toivonen e Sergio Cresto colocou um ponto final à carreira dos automóveis de Grupo B no Mundial de Ralis. A Ford tomou uma decisão imediata de não continuar a tempo inteiro com os RS 200 no Mundial e apenas foi disputar o Rali da Acrópole, na Grécia, uma prova tradicionalmente dura e em que a marca tinha um bom historial.

Foi neste Rali que os RS 200 mostraram o seu maior potencial, isto apesar de nos testes antes do Rali terem visto dois automóveis arder completamente, aparentemente devido a fugas de gasolina. Com uns radiadores maiores para enfrentar as altas temperaturas Gregas e o arrefecimento do motor revisto, os RS 200 estavam aptos a enfrentar a prova. Após 15 troços, já no segundo dia de prova, era Kalle Grundel quem estava à frente, mas um problema mecânico acabou por coloca-lo fora de prova. Herdou a liderança Blomqvist, mas dois troços depois sofre um despiste e não conseguiu retomar a estrada. No entanto ficou demonstrado o potencial do RS 200.

A equipa oficial só voltaria a competir já no final do ano, em jeito de despedida, no RAC Rally, a prova Britânica. Inscreveu quatro automóveis, um para Blomqvist (que utilizava um motor experimental mais evoluído), para Grundel e mais dois para Stig Andervang e para o antigo Campeão Britânico Mark Lovell.

Algumas equipas privadas apostaram no automóvel por essa Europa fora, entre as quais a Diabolique Motorsport, e no final de 1986 o RS 200 tinha conseguido vencer cerca de vinte ralis de carácter Internacional, o que representava cerca de 30 por cento das provas em que tinham participado os Ford RS 200. Nada mau para um automóvel estreante.

Sobre o Ford RS 200 em exibição, foi um dos dois automóveis que a equipa Diabolique Motorsport utilizou na temporada de 1986 no Campeonato Nacional de Ralis e é uma peça única em Portugal.

Como já foi falado anteriormente, o acidente da dupla Joaquim Santos / Miguel de Oliveira no Rali de Portugal/Vinho do Porto de 1986 com um destes Ford RS 200 acabou por mudar o panorama dos ralis no Mundo, já que na sequência desse infeliz acontecimento, onde perderam a vida três espectadores, os pilotos de fábrica imediatamente se recusaram a continuar o rali e toda a segurança destes “monstros” que eram os Grupo B começou a ser questionada.

Por esse motivo a Diabolique Motorsport apenas utilizou o Ford RS 200 durante a época de 1986. A equipa do Norte usou, com a sua própria decoração, dois chassis diferentes nesse ano, este #006 que aqui se apresenta e outro, com o chassis #072 (SFACXXBJ2CGL00072). A época correu de forma mais ou menos normal, foram cinco as vitórias absolutas que a dupla alcançou (Rali da Figueira da Foz, Rali Rota do Sol, Volta a Portugal, Rali do Alto Tâmega e Rali do Algarve) mas o título acabou por ir parar às mãos da equipa da Renault Portuguesa, cujo 5 Turbo Tour de Corse era tripulado por Joaquim Moutinho e Edgar Fortes.

Depois de terem permanecido durante bastante tempo na colecção particular do Dr. Miguel de Oliveira ambos os Ford RS 200 acabaram por ser vendidos pelo próprio, estando actualmente este exemplar nas mãos de um coleccionador Português e o outro numa também importante colecção Espanhola.

Ficha técnica
1986
Inglaterra
380 CV
4 cilindros
1.803 c.c.
5 velocidades
1.050 Kg
190 Km/h
Chassis #SFACXXBJ2CFM00006