Gisele Barbosa Araújo, a princesa das corridas de automóveis

21/07/2017

Gisele Barbosa Araújo deixou este mundo após um breve período de doença, no passado dia 18 de Julho.

Gisele foi uma das raras mulheres portuguesas a participar em corridas de automóveis nos anos 60. A sua simpatia e beleza fizeram dela o centro das atenções dos jornalistas da época, um estatuto com o qual lidou com graça, elegância e desprendimento.

Na sua muito breve passagem pelo automobilismo, realizou os três tipos mais comuns de provas, entre ralis, prova de rampa e circuito de velocidade.

É indiscutível que o seu género, numa actividade até então praticamente reservada aos homens, lhe permitiu granjear mais atenção do que outros praticantes amadores, mas os seus resultados revelavam um jeito natural e um empenho que, objectivamente, devem ser considerados acima da média.

Deu nas vistas a partir de 1965, com o seu MG B, vencendo o Rallye Feminino do Sport Lisboa e Benfica desse ano. Tinha pouco mais de 20 anos.

Um pouco mais tarde, venceu a sua classe na Rampa da Pena, já a competir directamente com os rapazes. Depois deixou as corridas e seguiu a sua vida.

Mas, alguns anos volvidos, voltou para mais uma experiência como piloto de automóveis. Então casada com Pedro Rasteiro e inscrita com o seu apelido, Gisele alinhou na corrida de iniciados do Circuito da Granja do Marquês, organizado pelo União Sintrense, que se disputou no dia 19 de Julho de 1969.

Participavam pilotos jovens, com pouca experiência, mas com bastante vontade, como Mário Gonçalves, Miguel Lacerda, Adalberto Summavielle, Manuel Morais, com Mini Cooper S, Marcos, Unipower GT e Porsche 911 S. Gisele era a única representante do sexo feminino, com o Lotus Europa que o marido tinha utilizado alguns fins-de-semana antes no mesmo circuito, no evento organizado pelo Automóvel Club de Portugal.

Nos treinos, Gisele foi a mais rápida, obtendo assim a primeira Pole Position de uma senhora na história do nosso automobilismo.

Na corrida de dez voltas, enquanto os seus impetuosos rivais se atrasavam, com piões e saídas de pista, Gisele mantinha-se imperturbada, liderando várias voltas da prova (outra estreia). Todavia, o Europa não era rival para o Porsche 911 S de Manuel Morais, que assegurou o comando na sétima volta, mantendo uma vantagem de um segundo até final, da sua empenhada perseguidora, que não tinha automóvel para mais.

Após essa corrida, Gisele deixou definitivamente as corridas, não sem antes ter levado ao pódio, mais uma vez, o seu charme e a sua simpatia.

No arquivo das Edições Vintage, encontrei muitas vezes o seu sorriso — a preto e branco, que é a melhor forma de nos concentrarmos no essencial. Várias vezes me perguntei o que teria acontecido a esta elegante jovem mulher, com tanto jeito para conduzir.

Há alguns anos, nos encontros promovidos pelo grupo Portugal Motorsport, a Gisele voltou a aparecer, com os seus apelidos originais e o mesmo sorriso.

Através do Facebook, mandei-lhe uma mensagem com duas fotos suas da época. Mencionei o facto de manter o mesmo belo sorriso que se via nas fotos.

A Gisele agradeceu as fotos e, sobretudo, o elogio, como se não tivesse passado a vida, com inteira justiça, a recebê-los.

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