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Independentemente da sua visão do futuro e daquilo que acredita, viajar no tempo passa forçosamente por manter os olhos bem abertos no que está a acontecer na Califórnia, EUA. Por entre os SUV e muscle cars sorvedores de gasolina e as ruas congestionadas de Los Angeles e San Francisco conseguem-se ver automóveis auto-pilotados da Tesla ou carros da Google com visão de 360 graus. Até a Apple já foi autorizada a testar a sua tecnologia de ‘auto-pilot’ nas estradas públicas californianas, o que significa que o carro do futuro está mais perto de se tornar mainstream do que aquilo que imaginávamos.
É quase como ver os desenhos animados dos Jetsons ou recuperar um filme da saga James Bond para nos darmos conta de como coisas com as quais se brincavam nas décadas de 1960, 70 ou 80 estão hoje ora ultrapassadas ou muito perto de se tornarem realidade.
Leia também: Toyota apresenta visão de futuro para a mobilidadeEstas máquinas “3.0”, conjuntos híbridos em que uma metade se assemelha a um automóvel de quatro rodas convencional e a outra a um telemóvel, tablet ou qualquer outro aparelho digital, deixam em evidência a capacidade da indústria norte-americana de acelerar o passo no que à inovação deste setor diz respeito. Mas também como o centro histórico de outrora — Detroit — foi remetido ao esquecimento pelas dot.com de Silicon Valley, mais focadas em criar novas formas de mobilidade do que em venderem automóveis.
Tal não significa que os barões da indústria não se estejam a adaptar à mudança dos tempos. Antes de sair do cargo, o antigo presidente da Ford, Mark Fields, dobrou o investimento em Investigação e Desenvolvimento, procurando que a marca da oval azul fosse a primeira empresa a lançar o carro totalmente autónomo algures em 2021.
A convicção nesta ideia de que uma percentagem da receita da indústria estará assente nos veículos autónomos leva a que ninguém queira ficar de fora do bolo, da General Motors ao Grupo VW, da Tesla a qualquer outra start-up sem qualquer vínculo ao meio, pelo menos de forma tradicional. Todas estão focadas em serviços, em sistemas de inteligência artificial, em sensores ou até numa nova concepção do espaço a bordo, prevendo e antecipando-se a um mundo em que o utilizador já não se encontra ao volante — simplesmente é conduzido de um dado ponto ao seu destino.
Estamos ainda numa fase inicial desta tecnologia, com outros fabricantes como a Mercedes, a BMW ou a Audi a terem também soluções deste género nas suas gamas mais altas. Mas deixa em evidência o caminho que será seguido, em nome da comodidade… e da segurança:
“Quando utilizado corretamente, é já significativamente mais seguro do que deixar uma pessoa conduzir por si mesma. Desse modo, seria moralmente repreensível adiar a sua introdução simplesmente pelo medo das críticas ou por um qualquer argumento de responsabilidade legal”, afirmou o CEO da Tesla, Elon Musk, a propósito da condução autónoma.
Há quem vá mais longe: os sistemas desenvolvidos pela Google, por exemplo, dispensam por completo o condutor. A sua frota de testes, composta por Toyota Prius e Lexus RX450h adaptados com sensores e inteligência artificial, realizaram já com sucesso mais de 2 milhões de quilómetros em estradas urbanas congestionadas com trânsito e auto-estradas.
O próximo passo deste gigante passa agora por deitar no lixo o carro como o conhecemos e desenvolver uma nova máquina de mobilidade com a sua autoria: só terá de entrar no veículo, relaxar e aguardar que este o transporte até ao seu destino depois de alguns toques num ecrã tátil conectado à internet ou algumas indicações numa app.
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Para cortar com o cordão umbilical da indústria automóvel, a empresa de Silicon Valley contratou YooJung Ahn, uma sul coreana com passagens pela Motorola e LG que assume hoje a pasta de diretora de produto, e não alguém com tradição nesta matéria. Essa falta de experiência no setor das quatro rodas dar-lhe-à uma maior liberdade na hora de desenvolver um carro autónomo sem volante ou pedais, acredita:
“Não ter um volante ou pedais é uma decisão que parte de nós. Quando iniciámos o nosso protótipo não começámos com nenhum carro tradicional em mente. Questionámo-nos acerca do mínimo, do mais elementar que as pessoas necessitam para se deslocarem do ponto A para o B. E igualmente do desenho que melhor serve a segurança e a experiência do utilizador”, referiu à revista Fortune.
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Se há ainda um longo caminho a percorrer? Sem dúvida. Mais até da responsabilidade e da legislação do que propriamente ao nível da tecnologia. Mas sempre com a certeza de que esta é uma revolução “made in USA” que veio revitalizar a indústria automóvel norte-americana, ainda que, no futuro, ninguém se encontre ao volante…
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