A travessia de Bali

22/06/2017

Depois do dia passado de volta do vulcão, com todas as peripécias para lá chegar, fiquei numa pequena cidade de província, no que parecia ser o único hotel na vizinhança. A menina da recepção ficou radiante por ver chegar um cliente e quando voltei para lhe pedir uma toalha e um sabonete desfez-se em desculpas dando mesmo a sensação que não tinham um cliente faz tempo. Perguntei-lhe se tinham restaurante e voltou a rir-se muito para me dizer que não.

— Onde posso encontrar um restaurante para jantar

— Não há

— Não há um restaurante na cidade?

— Não.

Recorri à internet.

No “Booking” anunciavam um único restaurante em Lumajang e sugeriam que fosse o primeiro a deixar um comentário no site deles sobre o estabelecimento.

Perguntei onde era o Warung Apung.

Ah, sim. Pois é. Há esse. Fica a uns três ou quatro quilómetros daqui.

Fui até lá. Estava desarrumado. Parecia ter havido ali uma festa qualquer no dia anterior e ainda não tinham posto a casa em ordem. Havia muitos insetos a passearem por chão e paredes. Pedi a ementa. Vinha, obviamente só em indonésio mas tinha algumas fotografias. Olhei para a que tinha melhor aspeto e tentei que me explicassem o que era mas nenhum dos empregados falava uma palavra de Inglês. Fizeram-me sinal que era uma boa escolha. Em menos de cinco minutos, como é costume nestes países asiáticos, trouxeram-me um prato que tinha lulas e legumes. Estava intragável com as lulas mais duras que uma borracha escolar mas, com um almoço que se tinha resumido a quatro pequenas bananas não tive outro remédio senão comer sem me queixar.

No dia seguinte parti a caminho do “ferry” que me levaria a Bali. A estrada, com muitas partes de montanha, continua muito movimentada até porque esta é a única via que os camiões utilizam para abastecer as ilhas para oriente de Java com produtos que vêm da capital e do seu porto marítimo. Os camiões aqui são relativamente pequenos, para poderem circular nestas estreitas estradas e portanto têm que ser em quantidade. Como Java é a região do planeta com mais densidade populacional e deve existir uma “scooter” por família, imaginem a confusão.

Tinha a ideia que Bali era uma ilha relativamente pequena, com cerca de 30 ou 40 Km de comprimento mas, mal saí do barco vi um sinal que tirou as minhas dúvidas. Indicava a distância para Denpasar, a capital da ilha: 128 Km

Ao ritmo de pára arranca a que se circula aqui isso representam três horas de caminho de maneira que, pelas seis da tarde, quando ficou noite, tratei de procurar um hotel onde ficar. Encontrei um que era um centro de yoga e fui recebido por uma senhora que falava muito devagar e transmitia uma calma que condizia com o espaço, bem decorado, em colmo e palha e com estátuas Hindus e Budistas. Muitas vezes as duas religiões misturam-se um pouco. O quarto, também em madeira forrada a palhinha, com o teto esconso e cama com dossel coberta por uma rede mosquiteira, tinha a casa de banho ao ar livre e as próprias paredes não chegavam até cima, fazendo-nos entrar no ambiente da floresta que o rodeava, com os barulhos de pássaros e macacos que já tinha visto na beira da estrada pouco depois de desembarcar.

Outro pormenor que nos salta à vista é que em Bali voltamos a ver cães vadios, animais que não existem normalmente em países muçulmanos mas que havia em quantidade na Tailândia. Embora a Indonésia seja um país maioritariamente muçulmano, Bali é um caso à parte, com a maioria da população a ser Hindu.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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