As mil luzes de Pukhet

15/04/2017

Em Ranong jantei a melhor refeição desde que estou na Tailândia. Foi num restaurante que me indicaram no hotel onde estava a ficar. Era um sítio sem grandes requintes, com um sistema em que os clientes iam a um buffet buscar os ingredientes crus para depois os cozinharem na mesa com um sistema em que por cima de um pote de brasas colocavam uma peça em cobre onde se fritava na parte central ou cozia na água que estava à volta. Um dos segredos do sucesso do local era a qualidade dos produtos que tinham no tal buffet cru. Comi um peixe cozido com legumes fantástico.

No dia seguinte parti para a ilha de Phuket já sem chuva, o que me soube lindamente. Estava farto de apanhar água e, embora o fato que tenho da Spidi seja excelente e não a deixe passar, acaba sempre por entrar para as malas, uma delas com a parte de alumínio furada, após um dos acidentes na Índia. Visitei uma ou outra praia pelo caminho, tendo aproveitado para almoçar numa esplanada à beira mar duma delas e, da parte da tarde, apanhei uma fantástica estrada de montanha em bom piso, de curvas rápidas que me deu imenso gozo percorrer.

Em Phuket, pelo que me tinham contado, já estava à espera do pandemónio que encontrei. Construção de má qualidade e desenfreada nas bordas da estrada com todo o tipo de negócios que se pode imaginar para sacar algum ao turista mas, obviamente, sem faltar uma casa de massagens quase porta sim porta não, com as meninas à porta a chamarem os clientes.

Fui até à zona da praia de Patong, a mais movimentada da ilha e, ao parar junto a uma espécie de quiosque para beber uma cerveja, um grupo de ocidentais, impressionados com a moto, fez-me sinal do restaurante em frente e, mais tarde um deles, suíço, veio ter comigo. Disse-me que alugava quartos em casa dele, no melhor local da vila e que, se eu quisesse lá ficar me fazia um preço especial.

Instalei-me em casa deste simpático suíço. Da parte da tarde veio mostrar-me o mercado, o centro comercial e, de um modo geral, como funcionava a cidade. Jantámos numa tasca local.

Constatei que há muitos suíços que para aqui vêm viver o que não me admirou. Quando aqui chegam para passar férias vindos da pasmaceira de Genéve ou Lausanne ficam “embebedados” pelo clima e pelas mulheres e já não saem de cá.

Muitos deles casam com tailandesas mas, como nós ocidentais perdemos a técnica de saber manter um casamento, a maioria acaba por se divorciar.

Depois do jantar o Ernest mostrou-me a vida noturna e bebemos um copo num bar de um amigo dele. Nesse aspeto tudo se resume praticamente a uma rua de bares, vedada ao trânsito, que é uma espécie de cabaré gigante. Nos bares cheios de “néons” meninas dançam em cima das mesas para chamar os clientes, algumas vezes agarradas a postes metálicos, ou vêm-nos buscar à rua. Como nunca faz frio os bares e restaurantes não têm a parede da frente e são assim abertos para a rua, muitos deles com música ao vivo. Uma festa constante e muito animada.

O Ernest explicou-me que o cliente pode beber um copo num bar e escolher a menina que quer levar para casa nessa noite. Se a levar antes do bar fechar, paga também uma comissão ao bar além do preço negociado com a menina que, em função da sua beleza, varia entre os dois e os três mil Bahts, qualquer coisa como 50 a 75 euros.

No fundo chegamos à conclusão que, tal como os produtos da Apple, a prostituição tem um preço quase fixo em todo o mundo.

O local está repleto de turistas que as compram por uma noite ou vários dias. Pelas praias, ruas e restaurantes vemos centenas de casais em que o homem é um turista ocidental e a mulher tailandesa.

Felizmente não vi pedofilia na ilha, que parece ser um dos problema que o regime militar ditatorial, que governa o país desde que, no início do ano os partidos democráticos não se entenderam, envolvendo-se em disputas sanguinárias, resolveu.

Aliás, por muitos defeitos que tenha este sistema parece ter posto mais ordem no país. Aqui em Phuket, por exemplo, os bares e cadeiras de aluguer que havia nos areais das praias eram ilegais e explorados pela máfia local. O militares destruíram tudo. Agora terão que resolver o problema por estar a chegar a época alta e os turistas não terem onde se sentar nas praias mas, pelo menos, correram com a máfia do local.

Embora não haja muito crime nestes países maioritariamente budistas, outro processo que deu muito que falar a semana passada foi o de um revisor de comboio que foi condenado à morte, apenas três meses depois de ter cometido um crime em que violou uma miúda de 13 anos, assassinou-a e atirou o corpo pela janela do comboio.

Embora não concorde com a pena de morte, não só por considerar que o homem não tem o direito de tirar a vida a outro, seja por que razão for, como por a considerar uma pena mais leve que uma de prisão perpétua ou até de 25 ou trinta anos, a maioria da população aqui achou que se fez justiça e estão até satisfeitos com muitas das ações deste regime ditatorial.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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