Calcutá: O cônsul e os Ambassador

02/03/2017

Calcutá é uma cidade com 12 milhões de habitantes que no tempo do Império Britânico foi capital da Índia. Tem um movimento louco, como seria de esperar, com um grave problema de poluição, que sentimos ao andarmos pela rua, mesmo tendo uma importante área de jardins e espaços verdes que ajudam a desagravar a situação

Uma das causas é o facto de os táxis, que representam cerca de 25% da circulação automóvel, serem todos Austin Ambassador, um modelo dos anos 50 que continuou a ser fabricado aqui, com um motor diesel de 1500 c.c. que obviamente não tem qualquer espécie de catalisador. Como curiosidade refira-se que o programa Top Gear o classificou como “best taxi in the world”

Outro ponto interessante é que embora o carro tenha uma tecnologia muito ultrapassada com muitos deles ainda sem direção assistida, os taxistas aqui aplicam-lhes um sistema manual de “stop and go” ou seja, de cada vez que param num sinal, para pouparem gasóleo, desligam o carro e voltam a dar à chave quando o sinal muda para verde. Ainda bem que o fazem, pois na prática, ao final do dia, é certamente uma quantidade significativamente inferior de CO2 que é lançada para a atmosfera. De qualquer forma a partir de 2011 foi proibido serem vendidos para taxi, embora continuem a ser fabricados para particulares. Só que duram tanto que, mesmo os vendidos nos anos 50 ainda circulam, e não vemos outro tipo de táxis nas ruas senão estes.

Depois de três noites no “Swimming Club”, embora bem instalado, disse ao cônsul que queria mudar para um hotel por ali não haver internet. Ele sugeriu que mudasse para outro clube, onde estava programada a apresentação da minha viagem à imprensa. Mudei-me então para o “The Bengal Club”, um clube chiquissimo, fundado pelos ingleses em 1824 e que só tem sócios indianos desde a independência. Estou instalado numa enorme “suite” e as únicas desvantagens são que a estadia custa o dobro do “Swimming Club” e não se pode ir ao restaurante ou bar de jeans, o que me parece bem, mas me causa um certo problema pois só vim equipado com três pares de jeans e umas únicas calças brancas que estavam mais perto do preto. O que vale é que como tenho direito a um criado particular pedi-lhe que tratasse de me mandar lavar roupa e engraxar o único par de sapatos, para ficar em estado de me apresentar no excelente restaurante do clube.

Entretanto tive que tratar do visto para o Bangladesh a aproveitei também para fazer turismo. Fui visitar o Victoria Memorial, um monumento emblemático da cidade, construído pelos ingleses no início do século passado em memória da sua Rainha Victoria, que morreu em 1901 e St. Paul’s Cathedral.

Fiquei mais impressionado com a extraordinária coleção de obras de arte na casa de um antigo Raja, ainda pertencente à família. Com as paredes interiores em mau estado e um pátio central que já terá sido exuberante mas agora tem uma rede a tapar a entrada de pássaros e, no claustro, gaiolas sujas e com mau aspecto que albergam diversas espécie de pássaros e papagaios, a fantástica casa tem estátuas gregas de valor superior às de muitos museus, enormes potes da China e uma coleção de pinturas que inclui um Rubens de três metros por dois. Tudo isto em salões com  chão em fantástico mármore italiano e candelabros fenomenais em cristal.

A apresentação à imprensa que o cônsul organizou no clube correu lindamente e para além da imprensa local, apareceram também os presidentes de diversos clubes automóveis  e vários elementos do clube Harley Davidson. As motos americanas começaram a ser vendidas na Índia em 2010 e têm feito enorme sucesso, embora ainda não tenha visto nenhuma a circular nem veja como é possível andar de Harley fora das cidades.