– Não.
Qual código?
– Não tem código? Disse com ar espantado. Tem que ter um numero de código.
– E como obtenho esse numero de código?
Escreveu-me o nome de um site governamental num papel rasgado e disse para me inscrever lá que passados três dias me dariam um código.– Três dias??? Só para ter o código? E depois?
– Depois vem aqui e eu trato-lhe do visto.
Fui resignado procurar um hotel para chegar à internet. Não se conseguia entrar no site. Depois de muito rebuscar consegui abrir um parecido, mas estava escrito em árabe. Voltei para a reabertura das duas e meia. Um miúdo alemão com bom aspecto mas com a sujidade de andar de mochila às costas a acampar pelos cantos, esperava pelo seu visto. Estava há três dias à volta do processo mas a ele não tinham pedido código.
Disseram-lhe para voltar às cinco. Ele, sem nada que fazer até às cinco, pediu se podia esperar ali que estava frio na rua. Responderam que sim e passados cinco minutos apareceram com o passaporte dele com o visto. O miúdo parecia ter ganho a lotaria. Anda há dois meses à boleia e já tinha estado na fronteira, mas mandaram-no aqui de volta tratar do visto. Contou que só podia pedir boleia de dia porque quando fica noite param homens a perguntar: “do you want to have sex”?
Quando fui atendido expliquei que não tinha conseguido entrar no site. O homem mandou-me esperar e desapareceu durante meia hora. Surgiu depois para me dizer que o Cônsul ia falar comigo. Comecei a ver o caso mal parado. Esperei mais meia hora numa sala com meia dúzia de cadeiras vazias sob o olhar de uma câmara.
– Não. Aguenta mais um bocadinho para ver se o homem está mesmo empenhado em lá ir.
Por fim lá voltou a surgir de lá de dentro e passou-me um telefone dos ainda com fio. Do outro lado a voz rouca e calma do Cônsul.
– Yes?
– Contei-lhe o meu esforço inglório para obter o famoso código. Pareceu compreensivo. Perguntou-me de onde era, o que fazia, etc. Não me perguntou a cor dos olhos porque já devia saber. Achei que aquela câmara, enquanto me filmava, estava a fazer uma busca na internet. Já deviam saber se tinha chorado quando nasci. Finalmente mandou-me lá voltar hoje às nove com uma promessa de visto.
Sempre que me levanto cedo o dia começa mal. Ontem à noite o dono do hotel, que fica no centro da cidade, tinha-me dito para pôr a moto na entrada, um corredor estreito antes de uma escada que dá para a recepção no primeiro andar. Aquilo tinha um degrau alto e eu hesitei mas, perante a insistência do homem, que a moto ficava mais segura ali, lá a coloquei no corredor. Hoje de manhã, para a tirar, desci o alto degrau com a moto à mão e . . . patapum, motorizada no chão contra o letreiro luminoso do hotel, que se desfez em cacos. A moto só partiu a proteção do punho do lado direito. Como a do lado esquerdo já estava partida ficou equilibrada.
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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica diariamente o seu livro de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura
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