Pelo caminho atravessei o deserto Kavir-e-Namak-e-Sirjan e parei para almoçar num destes restaurantes que têm tantas mesas como camas. Destas em que eles se sentam com amigos, de pernas cruzadas, a fumar uma cachimbada.
Em todos os sítios por onde passo ficam a admirar a moto como se de um ovni se tratasse, mas ainda não me tinha acontecido atestar o depósito numa bomba de gasolina e o dono, quando ia a pagar, dizer-me: “Não é nada. Siga viagem”. Inimaginável na Europa materialista em que vivemos.
Bandar Abbas é uma típica cidade costeira, com muito movimento e cor.
Na praia de areia escura e dura, carros e motos circulam até à beira mar com os donos cá fora, acompanhados de família ou amigos, a conversarem entre duas passas de cachimbo de água. Dois barcos naufragados parecem estar ali há anos sem que alguém faça alguma coisa para os remover.
Depois de me instalar fui acabar de tratar do meu visto para a India, cujo processo tinha começado em Teerão, e passei numa agência de navegação a saber que barcos há e para onde. Parece que a opção mais viável é mesmo um Ferry para o Dubai, que fica aqui do outro lado do Estreito de Oman, e depois um navio de carga para Mumbai, na India, passando ao largo do Paquistão. Se tudo correr bem apanho o próximo ferry, que parte segunda-feira. Mesmo a tempo pois a minha extensão de visto acaba na terça.As pessoas a meterem conversa na rua já cansam, mas lá vou respondendo a todos.
– “Where are you from?”
– “Portugal”
– “Cristiano Ronaldo”, “Carlos Queiros”, “Welcome to Iran”.
O trânsito em Bandar Abbas é muito peculiar. Em algumas horas do dia é um movimento louco, mas entre a uma e as quatro da tarde as lojas fecham e vêm-se muito poucos carros a circular. A cidade para, autenticamente. A partir das cinco da tarde a loucura regressa e, à noite, continua em grande, mas aí ficamos com a sensação que, sem terem mais nada que fazer e com a gasolina tão barata, os iranianos pegam no carro e vão passear pela cidade e buzinar mais um bocado.