No dia seguinte saí do hotel já perto do meio-dia e, antes de deixar a cidade, ainda fui visitar o Museu Giologi que parece interessantíssimo mas infelizmente só tem os textos de explicação dos fenómenos geológicos e sobre os produtos extraídos da terra, como metais, petróleo ou carvão, em Indonésio.
Arranquei de Bandung pela uma da tarde e teria passado pouco mais de meia hora quando uma chuvada forte se abateu sobre a estrada. Parei debaixo de um telheiro de uma oficina onde já estavam duas “scooters” também a fugirem da chuva. Voltei a arrancar vinte minutos depois quando o tempo melhorou um pouco mas viajei o resto do dia sempre debaixo de chuva. Numa das vilas por onde passei havia enormes cheias e parei para filmar um pouco as “scooter” a atravessarem aquele aguaceiro e “cortarem” a água como se fossem barcos. Ali a vida não para quando chove.
Nesta parte central da ilha o trânsito melhora um pouco mas as médias continuam a ser muito baixas, com várias paragens e as “scooters” a passarem-me razias, em ambos os sentidos, de cada vez que passa a fluir menos. Esta é a principal estrada que atravessa a ilha de ocidente para oriente mas só tem uma via em cada sentido e é muito sinuosa de maneira que as ultrapassagens a que assisto são assustadoras. Quando estava parado junto a uma passagem de nível uma mulher que vinha numa “scooter”, com uma burca a fazer de capacete, como é comum, não conseguiu travar a tempo a bateu-me na traseira, quase me fazendo cair, mas não disse uma palavra ou fez qualquer sinal, simplesmente “furou” caminho e pôs-se à minha frente. Não resisti depois a passar-lhe uma razia, qual criança amuada, ao dobro da velocidade a que seguia.
Nesse dia comecei a sentir falta de força nas pernas e um cansaço maior que o habitual. Pensei que seria do frenesim do trânsito e parei numa pequena cidade a pouco mais de cem quilómetros de Bandung pelas quatro da tarde.
Só no dia seguinte percebi que estava com uma enorme gripe, certamente causada pelas chuvadas que tenho apanhado.Durante o dia ainda percorri 170 Km até Baturraden, na montanha, mas à noite senti enormes arrepios de frio quando a temperatura andava a mais de 20º e na manhã seguinte não estava em estado de voltar à estrada, de maneira que fiquei um dia sem sair do hotel e dormi a manhã toda.
24 horas fechado num hotel onde me parecia ser o único cliente e com refeições que se assemelhavam às de um hospital de província levou-me a sair à rua no dia seguinte, mesmo se ainda não me sentia completamente curado da gripe.
Subi a montanha e entrei num parque natural por uma estreita estrada rodeada de densa vegetação. Fui ver uma fonte de água quente que sai de umas rochas a mais de 50º e corre depois para uma cascata cujas paredes ganharam diferentes tons de castanho e verde com a passagem desta água vulcânica. O vapor que sai daquela água envolve a paisagem da floresta, dando-lhe um ar misterioso.
Sentei-me num banco junto à passagem da água e um homem fez-me uma massagem aos pés com argila proveniente daquelas águas, que dizem faz muito bem à pele. Depois de massajar uma das minha pernas e pé com aquela argila virou-se para a cliente indonésia que estava sentada ao meu lado e disse: “veja a diferença na cor das pernas dele. Antes e depois”. Pela conversa parecia estar a sugerir que eu estaria com os pés sujos quando ali cheguei.