Um miúdo veio sugerir-me uma alternativa original. Conhecia uma homem que vivia na floresta e propôs-me fazer um passeio através da densa floresta, uma espécie de “trecking” com a ajuda deste “homem da floresta”.
Achei boa ideia e, passava pouco das sete e meia da manhã quando arrancamos os dois na minha moto junto ao rio, para o atravessarmos sete ou oito quilômetros à frente. A primeira armadilha surgiu ainda nesse trajeto quando uma ponte caída me obrigou a atravessar outra muito rudimentar, estreita e de ar frágil. Esta estrada em que seguíamos era só para peões e motos, pois não tinha largura para caberem carros e esta ponte não estava pensada para ser transposta por uma moto de 300 Kg. Felizmente aguentou o esforço.
A entrada para a barcaça era através de uma rampa estreita, em terra batida com areia solta e muita inclinação, com um barranco do lado de fora que acabava no rio. A coisa lá correu bem, mas na saída, idêntica mas a subir, deixei cair a moto, felizmente sem estragos. Depois, no trajeto até à floresta, tive que atravessar uma ponte que tinha abatido a meio mas que continuavam a utilizar. Pedi ao miúdo para desmontar a lá passei sem problemas.
Chegámos a uma pequena aldeia na floresta com quatro ou cinco casas que não eram mais que telheiros sem paredes onde as pessoas se abrigavam das chuvas na época das monções e do sol nestes dias de calor. Um velho preparava folhas de tabaco que plantara junto ao rio enquanto a sua mulher fumava, tranquilamente, um cachimbo. As crianças da pequena aldeia, ao verem aparecer a “Cross Tourer” com um homem de capacete, devem ter pensado tratar-se de um extraterrestre e desataram a fugir assustadas. Aqui só a partir dos sete anos usam alguma peça de roupa.
Deixei a moto na aldeia e um miúdo guiou-nos, primeiro através de alguns campos de arroz e depois de floresta, durante cerca de 15 minutos, até casa do tal “homem da floresta” que vivia com uma mulher e dois filhos pequenos.Iniciámos então a nossa caminhada através de densa floresta, onde o homem seguia à frente, manipulando uma espécie de pequena foice, com a qual ia abrindo caminho por entre a vegetação. O trajeto incluiu travessias de rios em que descalçamos os sapatos e eu também as meias, que provocaram o riso do “homem da floresta” e do miúdo que me acompanhava.
Pelo caminho passamos por várias crateras abertas pelas bombas largadas pelos americanos durante a guerra do Vietname. Esta zona fica perto da fronteira e muitos dos guerrilheiros escondiam-se nesta floresta, razão pela qual foi tão bombardeada. O vizinho Laos, por onde passavam muitos dos abastecimentos dos Vietcongs, é considerado o país no mundo mais bombardeado de sempre, por milhar de habitantes. Durante a guerra do Vietname os americanos descarregaram ali, em média, um bombardeiro B52 a cada 8 minutos durante dez anos seguidos, com o país a ser mais bombardeado nessa época que todos os países europeus juntos durante a segunda guerra mundial.
Passada uma hora de caminhada começámos a ouvir um barulho de veículo a desbravar caminho através da floresta. Cruzámo-nos então com um camião militar carregado de árvores ao que o “homem da floresta” fez um ar de zangado. Mais à frente encontramos várias árvores abatidas e ele parava e ficava um momento em frente de cada uma, como quem vela um morto.
Caminhávamos há três horas quando chegámos a um rio onde ficámos a tomar banho. Os meus companheiros de viagem lançaram uma rede que traziam e pescaram um peixe que assaram numa fogueira para o nosso almoço, acompanhado por arroz para eles e dois ovos cozidos para mim, que tínhamos trazido da vila.
No regresso de moto à vila da outra margem, as mesmas peripécias ao atravessar as pontes abatidas e a dificuldade do embarque e desembarque na barcaça, quando vi a moto perto de cair ao rio com o condutor. Mas, desta vez, não houve quedas a registar.