Indonésia: De Dieng Plateau ao palácio do sultão

18/06/2017

Preocupada com a minha saúde a minha filha tinha-me mandado uma mensagem a dizer que se eu não fosse imediatamente a um médico me vinha cá buscar por uma orelha. Assim, antes de deixar Purwokerto procurei no GPS uma farmácia e dei lá um salto. Sentia-me bastante melhor, embora ainda tivesse a garganta inflamada.

O que eles chamam farmácia é um mini-mercado onde também vendem alguns remédios, mas fiquei com a sensação que a maioria da população ainda se trata por métodos tradicionais ancestrais.

Quando com dificuldade expliquei à menina da farmácia, que não falava uma palavra de inglês, que me doía a garganta recomendou-me uma embalagem de um liquido espesso, embalado num saco de papel, tipo shampoo de hotel barato, verde e com sabor a hortelã. Segui as recomendações da menina, bebendo aquilo junto com um pouco de água e realmente penso que me fez bem.

Arranquei depois a caminho de Dieng Plateau, um planalto que fica a 2000 metros de altura e a 150 Km de ali. Parei para almoçar quando começou a chover com mais intensidade, num self service onde a única coisa que consegui escolher foi arroz branco e uma carne estufada não sei bem de que animal mas que estava ainda dentro do tacho com água a ferver. Por cima da vitrine com os vários pratos expostos, compostos na sua maioria por fritos de proveniência duvidosa, estavam vários cartões destes que atraem as moscas e elas ficam lá agarradas, carregados de vítimas.

Cheguei a Dieng Plateau com os últimos 40 Km através de uma fantástica estrada de montanha rodeada de densa vegetação e instalei-me num dos hotéis de fraca qualidade aqui existentes, pelas quatro da tarde.

Quando estava a tirar a mala da moto apareceram dois irmãos suíços, dos seus 30 anos, chegados em duas “scooters” alugadas em Yogyakarta, a cidade que previa visitar no dia seguinte. Estivemos um bocado à conversa e acabámos depois por ir jantar juntos. O mais velho vive na Indonésia há quatro anos, tendo por cá casado e aberto um restaurante.

Na manhã seguinte acordei relativamente cedo e fui visitar as atrações de Dieng Plateau, duas crateras de vulcão, perto uma da outra mas totalmente distintas. Uma está extinta e alberga um grande lago com uma água azul turquesa que dá uma boa imagem enquanto a outra tem alguma atividade com água a borbulhar e muito fumo a sair da cratera, obrigando-nos a utilizar máscaras de papel para nos aproximarmos do local.

Desci depois do planalto por uma estreita e movimentada estrada com muita inclinação, que nos leva a baixar dos 2000 metros para pouco mais de 100 em poucas dezenas de quilómetros e apanhei a seguir uma estrada linda, com muita vegetação dos dois lados que me levou até perto de Borobudur.

Parei para visitar o fantástico templo budista e fui ficar a Yogyakarta, 40 Km depois.

No dia seguinte voltei a fazer de turista e visitei o Palácio do Sultão onde apenas podemos ver a parte não habitada pois o atual Sultão, cuja posição é hereditária, embora só possa passar para filhos varões, ainda governa a cidade e vive no Palácio, com uma grande família que inclui não só mulher e filhos (já não podem ser polígamos, coitados) mas também irmãos, cunhados e sobrinhos, num total de mais de cem pessoas. O que já não é utilizado pela família são os banhos, uma zona com duas piscinas e vários outros espaços que agora está aberta a visitas do publico e tem a curiosidade de ter sido restaurada há dez anos com um subsídio da Fundação Gulbenkian.

O guia que me mostrou o Palácio do Sultão falou-me, a meu pedido, um pouco mais sobre a situação religiosa na Indonésia. O país, disse-me ele, não tem uma religião oficial mas a maioria da população é muçulmana, tal como os membros do governo. Existe uma certa liberdade religiosa mas nem todas as religiões são aceites. São-no algumas fações do Cristianismo, e a mulher dele era católica, sendo ele muçulmano, assim como o Budismo e o Hinduísmo.

Na prática nunca vi tanta atividade nas mesquitas como aqui. Talvez para se afirmarem em relação às outras religiões chamam para as rezas matinais através dos seus altifalantes por volta das quatro da manhã, cerca de uma hora antes do nascer do sol, numa “conversa” que dura cerca de 15 minutos e que faz com que toda a vizinhança acorde, como me tem acontecido sempre que o Hotel onde fico é perto de uma das muitas mesquitas. O processo repete-se à hora do almoço e com o pôr-do-sol, o que se torna uma imposição quase insuportável para os não muçulmanos. O meu amigo suíço foi obrigado a mudar da primeira casa onde se tinha instalado porque a filha pequena também acordava e se assustava com a chamada para as rezas de uma mesquita vizinha.

Assisti ao mesmo problema no sul da Tailândia, região onde a maioria da população é Muçulmana, e é interessante verificar como a calma dos Budistas os leva a aceitarem a situação sem se queixarem.