De regresso à Tailândia com a minha filha Maria

22/03/2017

Já estava com saudades de pegar na moto e partir, rumo ao desconhecido, sem horário ou calendário. Em Maio tinha deixado a “Cross Tourer” em Bangkok, em casa de um casal que conheci através de uma amiga comum.

Agora aterrei na capital tailandesa acompanhado da minha filha Maria, que acabou o curso este ano e ainda não começou a trabalhar. Veio comigo dar a volta à Tailândia pois quando aqui entrei em Janeiro vim do Cambodja direito a Bangkok, não chegando a conhecer o país.

Pensei que em Setembro já teria acabado a época das chuvas, mas é suposto durar mais um mês. De qualquer forma já só temos apanhado uma chuva miúda e muito esporádica. O calor é que é quase insuportável, rondando os 37, 38º dia e noite e com muita humidade, que faz com que estejamos sempre a suar.

Chegámos por volta do meio dia de cá, seis horas mais que em Portugal e tratei logo de ver se a moto pegava. Tinha deixado a bateria desligada em Janeiro e, quando a liguei agora, parecia nova. A “Cross Tourer”, como boa Honda que é, pegou à primeira.

No dia seguinte ainda meio “azomboado” por uma noite mal dormida, afectado pelo “jet lag” que, quando viajo para oriente me leva uma semana a passar, fui tratar de mudar o óleo à moto e fazer pequenas reparações como soldar os apoios em alumínio das carenagens inferiores, que se tinham partido com o tratamento que levou na India e Birmânia, e trocar as manetes de travão e embraiagem, vítimas das quedas que tive junto às praias das 4000 islands no Laos.

A Maria levou uma seca de três horas numa oficina de motos, mas depois ainda tivemos tempo para visitar um templo Budista e a casa de Jim Thompson, um arquitecto americano que para aqui veio viver no fim da segunda grande Guerra, depois de ter ficado encantado com o país quando cumpriu cá serviço militar.

Em 1943 a Tailândia decretou guerra à Inglaterra e Estados Unidos. Este americano, que se tinha divorciado sem filhos, comprou um terreno em Bangkok, junto a um dos canais e montou várias casas típicas em madeira, para si e empregados, que trouxe da província depois de as fazer desmontar. O resultado é fantástico. Jim Thompson desapareceu misteriosamente, com 61 anos, quando passeava numa floresta malaia e o sobrinho herdeiro entregou a casa ao estado como museu.

A Tailândia tem 60 milhões de habitantes dos quais 10 milhões vivem em Bangkok. O ano passado, como já tem acontecido por diversas vezes, os militares tomaram conta do poder por os partidos se desentenderem em revoltas por vezes sangrentas e, até novas eleições, que se esperam para dentro de um ou dois anos, vivem controlados pela tropa.

Têm um rei que, como em qualquer regime actual, tem pouco poder executivo. Como curiosidade refira-se que a constituição decreta que o rei só pode ser budista e todos os jovens tailandeses são obrigados, durante um período da sua vida, que se for sua vontade se pode resumir a uma ou duas semanas, a serem monges e viverem num templo, seguindo regras rígidas que incluem a proibição de olhar para raparigas. Alguns adaptam-se ao sistema e passam lá uma vida santa.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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