Sapos a imitar máquinas de lavar

14/04/2017

Saí de Hua Hin já perto do meio-dia, depois de ter passado na lavandaria local a levantar a roupa que lá tinha deixado no dia anterior.

Estava uma chuva miudinha que teimava em não passar. Quando aumentava muito de intensidade parava nalguma tasca de borda de estrada para deixar passar a tempestade mas, pelas quatro da tarde, tinha acabado de entrar num parque natural junto a uma praia quando voltou outra carga de água.

Perguntei se tinham sítio onde dormir e indicaram-me uns “bungalows” junto à praia que devem ser muito agradáveis com bom tempo, mas com aquela chuva não tinham ninguém. O parque, como todos os outros que visitei no país, tinha muito poucos clientes. Desta vez só vi um casal. Fiquei pelo “bungalow” a ler e escrever e pelas oito da noite fui ver se haveria sítio onde jantar alguma coisa.

Na recepção já só estava um homem que não falava palavra de inglês, mas pelos meus gestos percebeu o que queria. Indicou então a um guarda de camuflado que estava à porta para me acompanhar ao que seria o restaurante local. O homem pegou numa das pequenas bicicletas para crianças que tinham à porta, perdendo naquela altura, qualquer ar de autoridade, mesmo debaixo de uma farda em camuflado. Eu segui-o, em 1ª velocidade, na moto. A 200 metros do local a corrente saltou da bicicleta de maneira que a velocidade da caravana baixou de dez para cinco quilómetros por hora.

Quando cheguei não queria acreditar que aquilo era o suposto restaurante do parque. Uma velha de aspeto sujo alimentava dois ou três cães com arroz em tigelas idênticas à com que me apresentou o jantar uns minutos depois. O local parecia imundo e perto do que servia de cozinha a senhora tinha um pequeno esquilo como animal de estimação, com uma das pernas presa por um cordel.

Para minha surpresa pôs-me à frente um menu com uma boa dezena de alternativas mas, como sempre, acabei por escolher o que me parece ter menos hipótese de intoxicação: arroz frito com galinha. Neste casos o que normalmente fazem é cozinharem a galinha no Wok e juntarem-lhe no final da fritura o arroz já cozido, muitas vezes com ovo mexido à mistura. Aquela mistela atinge uma temperatura que em princípio acaba com os micróbios. Comigo tem corrido bem.

Acompanhei o prato com uma cerveja de meio litro o que nestes casos de tascas manhosas representa normalmente uma conta final a rondar os 100 Baht, o equivalente a 2,5 euros.

Dormi mal, com uma barulheira infernal feita pelos sapos aos berros no mato junto ao bungalow que, no meio do sono, confundi com o que me parecia ser uma máquina de lavar roupa a trabalhar. “Quem é que se lembrará de ir lavar roupa aqui a esta hora”? Só quando despertei mais um pouco constatei que era a berraria dos sapos que tinha presenciado no regresso do jantar. Mais tarde, com a luz do dia, não faziam pio.

Arranquei pelas dez da manhã e fiz uns bons 200 Km sem chuva pela única estrada que desce por aquela faixa do país com poucos quilómetros de largura, rumo às ilhas do sul e mais abaixo, à Malásia.

Escolhi às tantas, uma estreita estrada secundária a passar muito perto da fronteira ocidental com a Birmânia, por ficar fascinado com a paisagem para onde me levava, de rochas altíssimas com escarpas a pique, cobertas de vegetação a ladearem uma floresta densa em vários tons de verde.

Pouco depois de entrar nesta estreita estrada que me levava agora numa direção SW, começou a chover forte e abrandei muito o ritmo não só porque o piso estava muito escorregadio devido às seivas das árvores na estrada trazidas pela chuva como pelo facto de ser praticamente deserta e quase quatro da tarde o que significava que, se caísse ali, provavelmente só tinha quem me ajudasse no dia seguinte.

Pelas cinco da tarde cheguei à cidade de Ranong, que um alemão que conheci em Bangkok me tinha recomendado visitar mas de que não encontrei qualquer encanto para além do bom hotel onde me instalei.