Quando lá cheguei disseram-me que haveria um segundo barco à tarde que deveria partir por volta das quarto.
– Mas não tem horário? sai às quatro ou quatro e meia?
– Depende do número de clientes – respondeu
Eram dez da manhã e decidi então ir fazer a revisão à moto que tinha prevista para Timor. Calculava encontrar o filtro de ar já muito sujo porque sentia a moto a perder potência gradualmente e temia que as velas também estivessem no estado a que chegaram no Irão, onde a cerâmica queimou, em resultado da má qualidade da gasolina. Como nalguns destes países do sudoeste asiático o combustível também é de fraca octanagem achei que deviam estar a pedir mudança. E estavam.
A operação é demorada nesta moto porque temos que retirar o depósito de combustível, desligar uma série de sensores e as velas dos cilindros da frente do V são de difícil acesso.Por outro lado este mecânico/viajante também trabalha devagar.
Quando tinha tudo montado de novo, pus a moto a trabalhar e não só a luz de avaria se mantinha acesa como a moto não se aguentava ao ralenti. Achei que teria deixado alguma ficha mal ligada de maneira que voltei a retirar o depósito para desligar e voltar a ligar todas as fichas. Nova montagem e os mesmos sintomas. Entretanto o tempo passava e eu via que quase de certeza perderia o barco daquela tarde. Na segunda desmontagem retirei também a caixa do filtro de ar e só então reparei que tinha deixado um pequeno tubo de vácuo desligado.
Sabia que era o suficiente para aqueles sintomas e quando voltei a montar tudo de novo, foi com confiança que pus a moto a trabalhar sem que a luz voltasse a acender.
Já passava das seis da tarde mas decidi ir até ao porto ver o que se passava. O barco ainda lá estava e disseram para me despachar que iria partir de seguida. Estranhei, ao entrar, só lá estar um camião dentro, mas estacionei a moto no local onde me indicaram e subi para a zona superior com bancos bastante cómodos.
– Estamos à espera de um cliente que está a chegar.
Quando o barco saiu eram nove da noite. Felizmente tinha um livro para ler e o tempo passou bem. Não tinha comido nada deste o pequeno almoço e no bar do barco arranjaram-me uma espécie de esparguete com o que penso seja tofu, que vem numas embalagens plásticas a que acrescentamos água a ferver. Não é muito mau.
Dormi uma três ou quatro horas e, pelas três e meia da manhã, fui acordado pelos altifalantes do barco a anunciarem a chegada.
Eram quatro da manhã quando saí do barco com a moto. Tinha ideia de ali ficar na vila a dormir mais umas horas numa qualquer pensão de esquina, mas estavam todas de portas fechadas de maneira que não tive outro remédio senão arrancar noite dentro.
Ao sair da vila os altifalantes de uma mesquita acordavam os fiéis para as rezas matinais e pouco depois vi homens a deixarem as casas à beira da estrada para se porem a pé a caminho do local de culto.
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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura
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