Cheguei já de noite e instalei-me na Pangim Inn, que me tinha sido recomendada pelo cônsul local, este português. Goa não tem nada a ver com o norte da Índia. Há muito menos lixo nas ruas e as estradas estão em bom estado.
No dia seguinte de manhã tratei de alugar uma scooter e fui explorar a região.
Com pouca coisa que visitar em Panjim, comecei por ir até Velha Goa. Não tinha percorrido dois quilómetros fora da cidade quando fui mandado parar pela polícia.
– Your licence, please
– your nationality?– Portuguese
– Ah. Fala Português”? diz-me o polícia com pronuncia de inglês radicado no Alentejo.
– Sim
– What does it mean, sim?
– Ah. Very well. Bacalhau. Ha, ha. You may go
Em velha Goa, como em todo o lado na Índia, tudo o que são monumentos estão muito mal conservados. O velho palácio dos Governadores já não existe porque, ainda no século XIX os dirigentes portugueses decidiram-se mudar para o Palácio do Cabo, junto ao mar, e acabaram por destruir aquele para utilizarem parte do material para construírem o novo. Tanto a enorme Sé, a maior igreja na Ásia, como a Basílica do Bom Jesus, onde está o túmulo de S. Francisco Xavier, estão em bastante mau estado e a coleção de quadros dos governadores e vice reis portugueses, instalada no Museu Arqueológico, foi restaurada por curiosos que transformaram os dirigentes portugueses numa espécie de bonecos mascarados.
Interessante é a frase que estava na estátua de Camões, originalmente edificada pelos portugueses em 1960, um ano antes de serem expulsos do território e agora recolhida no mesmo museu dos governadores: “Camões, o génio da pátria pelo mundo em pedaços repartida. Oferta de Portugal da Índia à Índia de Portugal”.
Curioso é também verificar que, mesmo no tempo dos Filipes, entre 1580 e 1640, estes nomeavam governadores portugueses e mesmo vice reis para tomarem conta dos territórios portugueses na Índia. Foram perto de duas dezenas, nesse período.
Ontem fui para Norte, a parte mais turística de Goa. Visitei o forte dos Reis Magos, restaurado há dois anos mas já a começar a dar sinais de pouca ou nenhuma manutenção e o forte da Aguada, mais a norte. Não tinha ideia que os portugueses, desde o Afonso de Albuquerque, foram construindo várias fortificações ao longo da costa, desde Goa até Damão e Diu, passando por Bombaim, que acabou por ser oferecida aos ingleses como dote dum casamento real. Assim, o território por nós ocupado no século XVI não se limitava às quatro cidades mas incluía uma enorme zona costeira.
Sigo agora para Portugal, através do Dubai, para regressar a Calcutá no final do mês, antes de partir para o Bangladesh.
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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica diariamente o seu livro de bordo