Um outro Francisco na ilha de Flores, Indonésia

02/07/2017

A Ilha de Flores foi uma colónia portuguesa desde que aí desembarcámos no século XVI mas, em 1851, o governador Lima Lopes, a atravessar dificuldades financeiras e sem apoio da casa real, vendeu grande parte da ilha aos holandeses que, três anos mais tarde, ocuparam a totalidade do território.

Durante a segunda guerra mundial a ilha foi invadida pelos japoneses mas, com o fim da guerra, passou a fazer parte da Indonésia.

Os portugueses, ao contrário dos holandeses, misturavam-se com as populações locais e deixaram por lá não só nomes de famílias como a religião católica. Quase todos os perto de dois milhões de habitantes da ilha são católicos.

A estrada que apanhei para sair do porto de Labuan Bajo começava por subir uma serra num trajeto muito sinuoso e traiçoeiro, com várias partes em obras, pequenos troços em terra, desníveis no alcatrão e zonas a escorregarem muito. Já não chovia, mas o alcatrão ainda estava encharcado. Passava pouco das quatro da manhã e não se via ninguém nem um único carro. Durante a primeira hora só me cruzei com um camião e duas “scooters”, que rodavam juntas. Fui andando devagar e achei graça ver algumas casas muito humildes com iluminações de Natal.

Quando o dia começou a nascer, pelas cinco e meia, fiquei encantado com a beleza da paisagem que me rodeava. Muita vegetação e vales lindos. Um grande lago lá em baixo, com as margens a ziguezaguearem pela serra, produzia uma imagem de autêntico postal.

Pelas sete da manhã parei num pequeno restaurante que tinha um ar mais limpo que os outros e tomei um pequeno-almoço de arroz com grelos e um ovo cozido.

Segui depois até Ruteng. Cerca das dez da manhã começou a dar-me o sono e voltei a parar para beber uma laranjada. Eram onze quando cheguei a Aimere, a vila onde embarcaria para o próximo destino. Comecei por ir ao porto saber quando tinha barco para West Timor, a parte da ilha que pertence à Indonésia. Disseram-me que sairia um no dia seguinte às oito da manhã.

Fui então à procura de sítio onde ficar e indicaram-me um pequeno resort com cabanas junto à praia, a meia dúzia de quilómetros.

O dono, descendente de portugueses embora não falasse a língua, chamava-se Francisco Rosário.

Instalei-me e fui para o bar, junto à praia deserta, onde fiquei a ler e tomei vários banhos naquela água morna durante o resto do dia. Era o único cliente mas ao fim da tarde chegou uma simpática italiana que explora uma empresa de mergulho na ilha com quem jantei um excelente peixe apanhado no dia e cozinhado pelo Francisco.

Deitei-me cedo e acordei às seis da manhã. Tomei o pequeno-almoço no bar da praia e segui para o porto. Comprei o bilhete e enquanto esperava no meio de gente e tralha para embarcar apareceu o Francisco, na sua moto, que me disse para eu o seguir que me ajudava a passar à frente da confusão. Parecia dono do porto. Fui atrás dele até à rampa de acesso e aí deu indicações para mandarem a minha moto entrar.

Despedi-me e embarquei.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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