Dormir durante a condução autónoma? Toyota diz que ainda vai demorar uns anos

13/03/2017

Ainda que a condução autónoma seja um dos temas do momento, os principais responsáveis do Grupo Toyota acreditam que a sua aplicação nos carros de produção em série ainda levará algum tempo. Ou seja, a ideia de colocar o destino no sistema de navegação do veículo e deixar a tecnologia fazer tudo sozinho ainda não está para breve, de acordo com as afirmações de algumas das mais altas figuras da Toyota, incluindo de Didier Leroy, vice-presidente executivo da divisão europeia da Toyota, e de Gerald Killman, vice-presidente da marca para a área de Pesquisa & Desenvolvimento.

Considerado que esta é uma solução de médio-prazo que trará mais segurança e eficiência às viagens, a Toyota entende que ainda é necessário trabalhar muito na tecnologia de condução autónomo, deixando inclusive o aviso de que é preciso ter atenção à forma como se colocam algumas destas soluções nos veículos de forma a não colocar em causa a segurança dos condutores na atualidade.

“O reconhecimento e a planificação do passo seguinte requer IA (Inteligência Artificial) desenvolvida para que o carro se adapte às grandes variantes de ambiente. Podemos por tecnologia semiautónoma nos nossos carros já amanhã, mas não será suficientemente seguro”, referiu Leroy num evento de enorme exclusividade no qual o Motor 24 foi o único órgão de comunicação português autorizado a marcar presença. “Estamos a trabalhar com muitas universidades e entidades para tratar destas questões, incluindo até a nossa própria divisão TRI [NDR: Toyota Research Institute], em que o desafio seguinte é a definição da condução autónoma de níveis 4 e 5, ou seja, os mais evoluídos. Mas isso ainda irá levar tempo”, acrescentou, abordando o tema de forma mais aprofundada.

“Para a condução autónoma, nós, na Toyota, acreditamos em dois pilares. No primeiro, com a segurança em primeiro lugar, temos o objetivo de apoiar o condutor na sua missão de condução e tentar reduzir o número de vítimas nas estradas para as zero, que é algo que queremos na Toyota. Ainda há muitas vítimas de acidentes de viação e temos de reduzi-las. O segundo passa pela necessidade de irmos passo a passo na condução autónoma até implementarmos o nível SAE5. É difícil apresentar um prazo para a implementar. Muitas marcas falam na possibilidade de terem SAE 4 e 5, mas os nossos especialistas acham que ainda faltam muitos anos para conseguir lá chegar”, garante Leroy, deixando, contudo, a indicação que muitos sistemas, não tão elaborados, podem já ser introduzidos com o intuito de ajudar o condutor em termos de segurança, sendo esses de fácil implementação nos próximos três ou quatro anos.

Aqui, entra uma outra ideia sobre o debate da condução autónoma, ao falar-se de uma implementação atual de condução atual que poderá levar o condutor a ter a ideia errada sobre os sistemas que detém no seu veículo. Sobre este tema, indica que “há casos em que os acidentes ocorrem porque se dá a ideia que o condutor pode já tirar a sua atenção da estrada, mas tal ainda não é possível. Temos de ter cuidado com a forma como pomos estas tecnologias nos carros”, argumenta, ainda, voltando a frisar que a Toyota apenas implementa as suas novas tecnologias quando estão suficientemente testadas em termos de segurança.

Interação homem-máquina tem de ser trabalhada

Gerald Killman, em entrevista exclusiva ao Motor 24, alinhou pelo mesmo diapasão e explicou que a condução autónoma na sua vertente mais evoluída – dispensando o input do condutor na viagem – carece ainda de uma forte evolução, sobretudo da parte técnica, que tem ainda muitas dificuldades agregadas.

“Quanto tempo será preciso até poder dormir numa viagem? Não quero prever, mas ainda falta muito. Tem a ver com uma questão de equipamento. Para as condições diurnas de condução é possível, mas se o tempo ficar mau ou se outro carro começar a circular de forma estranha, quando houver uma situação pouco clara, como é que será possível tomar a decisão correta”, começou por explicar Killman, que de forma simples apontou uma noção de interação entre o humano e a máquina na delegação de tarefas.

“É o procedimento de passagem de testemunho [para o condutor] que ainda é muito difícil, porque o condutor já não está a prestar atenção no trânsito e o processo de entrega dos comandos ao condutor humano é complicado. Esses cenários têm de ser trabalhados. Assim, penso que ainda é muito cedo para falar de uma previsão. Primeiro, há que trabalhar em sistemas robustos capazes de uma boa leitura das situações de trânsito… Carros totalmente autónomos dentro de dois ou três anos? Não creio”, afiançou.

Ainda assim, note-se, esta é uma área na qual a marca tem vindo a depositar grandes esforços, surgindo por exemplo em Genebra com um novo concept autónomo, o i-TRIL, que aponta para um rumo a seguir no futuro em direção a uma condução mais segura. Para já, contudo, a julgar pelas declarações das figuras cimeiras da Toyota, os passos a dar serão faseados, contando com a parceria com a Microsoft e com os desenvolvimentos conseguidos por Gill Pratt, no Centro de Investigação da Toyota, nos Estados Unidos.