A saga (heroica) de uma Renault 4L no mundo dos ralis continuou em San Marino, onde a intrépida dupla António Pinto dos Santos/Nuno Rodrigues da Silva concluiu o Legend com total aproveitamento: completou as 12 classificativas e terminou, entre os Históricos, no 2.º lugar da classe H1.
Os austríacos H. Moessler/W. Marblwer do bonito e competitivo Steyr Puch 650T foram os vencedores
A equipa portuguesa passou com distinção nesta segunda chamada ao emblemático rali da velha república. Um comportamento dentro e fora de prova irrepreensível, cordial e caloroso, de tal forma que, no final, um prémio especial corou mais um desempenho de sucesso.
«A taça deve ir para os que são ao mais perseverantes, os Lusitanos!», pensou a organização, tal como sucedera no final da Transitálica. A aventura, dessa feita, não foi em banda desenhada, nem teve a dupla Astérix/Obélix como protagonista, mas na banda magnética do Legend ficaram registados os fortes aplausos, os incitamentos e o momento da entrega do Prémio Prestígio.
Para os organizadores, segundo António Pinto dos Santos adiantou ao MOTOR 24, «não são apenas os pilotos campeões do mundo e outros com grande notoriedade no desporto automóvel que contam. Entenderam que fomos merecedores deste prémio, o que, naturalmente, nos envaidece».
O piloto-engenheiro terá pensado, como na historieta de Gosciny e Uderzo, que «o equivalente em sestércios era melhor. Às duas por três, vou precisar de um carro novo».
Bom, não será tanto assim, mas a Dona Cátrele, está a precisar de uma cura. Com 20 anos de bons e efetivos serviços. após uma dúzia ao serviço dos bombeiros de Cabo Ruivo, traduzidos em quilómetros, cerca de 160 mil quilómetros, ainda se meteu noutras aventuras: ralis do Mundial – 11 ao todo – e mais participações históricas como na mítica Volta à Córsega, Legend por duas vezes, Eiffel e outras competições domésticas.
Apesar dos 33 anos que constam no livrete …
A dupla portuguesa festeja o 2.º lugar da classe H1«Deixámos onze concorrentes para trás», recorda António Pinto dos Santos. «Poderão dizer sempre isto e aquilo, que penalizaram e acrescentam outros motivos, mas os ralis são duros e nós tivemos dificuldades para conseguir concluir o percurso».
Os problemas surgiram na fase derradeira do rali, a comprovar que entre os louros surgem espinhos:
«Sentimos um comportamento estranho na fase final do rali e notámos que a carroçaria está a ceder nalguns pontos. A Renault 4 L nunca nos deixou ficar mal, mas ao fim de vinte anos de muitos e bons serviços, está a precisar de algum carinho…», adiantou o piloto de Coimbra.
Espetro da desclassificação chegou a pairar…
Um cuidado, afetuoso, que pode ter começado em San Marino, na derradeira classificativa, mas que podia ter custado a desclassificação.
«O diretor de prova disse que era ilegal: demos boleia à Mónica», revelou, divertido, António Pinto dos Santos.
«Era um indivíduo do sexo feminino, insuflável, mas em biquíni, colocado por adeptos das Canárias na parte lateral traseira do meu lado e que desencadeou algumas reações entusiásticas do público. Creio que a Mónica não enjoou, pois não pareceu vomitado na Cátrele …»,
Para o piloto., «foi engraçado ter dado boleia à Mónica», acrescentou.
Perdida de amores, surgiu no pódio final, no momento da entrega do Prémio Prestígio.
«Os canários voltaram a aparecer e colocaram a Mónica sobre o capô».
A Renault 4 L «a precisar de uma revisão muito considerável», poderá , assim, ter companhia numa oficina, algo que Pinto dos Santos vê com apreensão:
«Isso preocupa-me, pois espero que esse carinho não seja tão grande, que me desmotive».
Mas, como será possível um piloto chegar a tal estado quando faz dupla com um navegador campeão – Nuno Rodrigues da Silva, tão experiente, quanto popular e conhecido na alta roda dos ralis, tratando por tu os famoso como Kankkunen, Alen, Biasion, Aghini e outros?
Quando tem uma estrutura técnica abnegada, voluntariosa, cooperante e dedicada, atributos personificados pelo senhor Américo, pelo filho Nuno e por Francisco Vasconcelos, apesar de ausente com falta justificada, mas sempre presente nas redes sociais?
Quando a logística é preparada ao pormenor, com tal requinte, que até Lubazim viaja de quinta (a fundo) na bagagem?
Quando o fidalgo e bem disposto comissário brilha pelo sentido de humor?
Quando o Team Renault 4L tem um clube de fã muito ativo, que embandeiram (em arco) à passagem da Velha Senhora, distribuem autocolantes de promoção da equipa, promovem o projeto, que é um tributo do piloto à indústria automóvel do século XX, junto dos espetadores?
É uma brisa enérgica que varre as classificativas. Desta vez, com apoio acrescido, à escala 1/15, número que engloba o total de apoiantes na estrada – um campeão de clássicos e júnior team incluídos — e não é referência, obviamente, de qualquer miniatura, Aliás, a Renault 4L merece ser vista, a outra dimensão, no atraente Museu de Gouveia.
Na estrada, muitos portugueses, entre eles o tetracampeão nacional de ralis, Joaquim Santos, apoiaram a dupla de «young boys (rapazes jovens…)», segundo Markku Alen, um dos participantes no esplendoroso Desfile Martini Racing, um dos pontos altos do programa.
No final do 16.º Rally Legend, de novo enorme sucesso em termos de público, Craig Breen/Scott Martin (Citroën C4 WRC 2004) deixaram Luca Pedersoli/AnnaTomas (Citroën C4 WRC 2005), a 33,9 segundos, e Mikko Hirvonen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC 2007), a 1.42,2 minutos, António Pinto dos Santos tinha razões para estar (mais uma vez) satisfeito:
«O respeito e até a admiração do público e da organização são coisas que nos envaidecem», confessou.
E tem razões para tal. Há lendas que perduram no tempo: a Renault 4L, uma linda portuguesa com quem muitos querem casar, pelo charme e porte desinibido, é uma delas.
«O respeito e até a admiração do público e da organização são coisas que nos envaidecem», confessou.
E tem razões para tal. Há lendas que perduram no tempo: a Renault 4L, uma linda portuguesa com quem muitos querem casar, pelo charme e porte desinibido, é uma delas.
Boa cura nas termas, Dona Cátrele!