O cenário é praticamente comum a todos os condutores que têm de estacionar em locais que exijam mais do que uma manobra: ainda antes de engrenar a marcha-atrás, o primeiro passo é baixar o volume do rádio. O gesto é quase mecânico e encontra-se de tal forma enraizado nos costumes do condutor que este mal se dá conta. Mas, porque é que isto acontece?

A razão é simples: o cérebro precisa de mais atenção para se concentrar numa tarefa mais complexa ou que exija uma menor concorrência de estímulos que possam influenciar a manobra. De certa forma, o próprio costume encarrega-se de fazer com que o condutor se dirija logo ao botão do volume para baixá-lo, aumentando assim a concentração na tarefa em mãos.

Agraciado com um prémio Nobel de Ciências Económicas, Daniel Kahneman explica no seu livro ‘Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar’ que a ‘arte’ do estacionamento é uma tarefa que exige um maior esforço de concentração e um pensamento analítico mais aturado, pelo que as restantes ações alvo de concentração por parte do cérebro têm de ser reduzidas. Assim como o volume do seu carro quando tem de estacionar num local apertado.

Numa comparação simples, imagine o seu computador e imagine que ‘abre’ duas janelas de vídeos simultaneamente, estando os dois em reprodução ao mesmo tempo no ecrã. O seu cérebro não se vai conseguir concentrar em ambos, mesmo que queira apenas focar-se num deles. O estacionamento é igual.

Aliás, noutro exemplo deste comportamento, é comum também aos condutores baixarem o volume do sistema de áudio quando se encontram perdidos ou a ler direções. A razão é, mais ou menos, a mesma: o cérebro precisa de ‘descobrir’ o caminho certo e, como tal, reduzir as distrações.

Problemas de atenção

Sobre a questão da divisão da atenção na execução de tarefas, o malogrado professor do departamento de Psicologia da Universidade John Jopkins, Steven Yantis, indicou que o que acontece é que para o cérebro verifica-se um género de jogo ‘soma-zero’, em que o aumento de atenção num ponto implica a sua subtração noutro ponto.

Falando sobre a comunicação ao telemóvel por intermédio de dispositivos ‘mãos-livres’, Yantis explicava que “direcionar a atenção para a audição baixa a receção da vertente visual do cérebro. As provas que temos neste momento sugerem fortemente que a atenção é estritamente limitada – um jogo de ‘soma-zero’. Quando a atenção é empregue numa modalidade – digamos, neste caso, num telemóvel – ela é necessariamente extraída de uma outra modadade – neste caso, a tarefa visual da condução”.

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