Os acidentes rodoviários registados em Portugal no ano de 2019 tiveram um custo económico e social para o país estimado em 6.422,9 milhões de euros, valor que representa 3,03% da riqueza criada no país nesse ano. Esta é uma conclusão retirada do estudo sobre ‘O Impacto Económico e Social da Sinistralidade Rodoviária em Portugal’, desenvolvido pelo Centro de Estudos de Gestão do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) e apresentado pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).

O estudo procurou identificar as consequências para a economia e para a sociedade da sinistralidade rodoviária, havendo uma redução desse mesmo impacto nos últimos anos, embora fique a certeza de que é possível fazer mais para reduzir ainda mais a severidade em termos económicos e sociais dos acidentes rodoviários.

Do valor total apontado pelo estudo, a maior fatia (83,5%) é referente a acidentes com vítimas, totalizando 5.362,7 milhões de euros (2,53% do PIB), respeitando os restantes 1.060,1 milhões de euros (0,5% do PIB) a acidentes sem vítimas e que geraram apenas danos patrimoniais.

Rui Ribeiro, presidente da ANSR, sublinha que “assistimos, nas últimas décadas, a uma redução importante da sinistralidade rodoviária, em Portugal, e isso deve ser assinalado. É notável que em 25 anos tenhamos passado de custos económicos e sociais que representavam 7% do PIB para um valor que se situa em torno de 3%, a preços de 2019 e que tenhamos reduzido em mais de 70% o número de vítimas mortais no mesmo período”.

No entanto, refere ainda o mesmo responsável, “estamos ainda a uma distância considerável do nosso objetivo maior: o da sinistralidade zero e esse deve ser um desígnio nacional!”. E, aponta ainda Rui Ribeiro, “o investimento em segurança rodoviária tem de ser um desígnio nacional. Portugal tem tudo o que necessita para ser um exemplo a nível europeu nesta matéria, mas para isso são fundamentais um claro compromisso político e o envolvimento de toda a sociedade”.

Entre os acidentes com vítimas, a maior componente do custo total, representando 64,7% desse valor, respeita aos custos humanos, estimados em 3.471,1 milhões de euros (1,635% do PIB). A segunda componente mais expressiva (representando 26,8% do total) refere-se à perda bruta de produção, estimada em 1.438 milhões de euros (0,677% do PIB) em 2019.

No seu conjunto, os custos humanos e a perda bruta de produção representam 91,5% do custo total dos acidentes rodoviários em Portugal.

Os danos na propriedade causados por acidentes rodoviários com vítimas são estimados em 263,9 milhões de euros (0,124% do PIB). Os custos com os tratamentos médicos das vítimas de acidentes rodoviários são estimados em 84,6 milhões de euros (0,04% do PIB), enquanto os custos administrativos são quantificados em 78,5 milhões de euros (0,037% do PIB).

O valor dos outros custos ascende a 26,6 milhões de euros (0,013% do PIB). Se considerarmos também os acidentes apenas com danos materiais sem vítimas, os danos na propriedade resultantes de acidentes rodoviários com e sem vítimas são estimados em 1.324,1 milhões de euros (0,62% do PIB).

Sinais positivos

Apesar destes números, nos últimos 25 anos, assistiu-se a uma significativa redução do custo económico e social da sinistralidade rodoviária com vítimas em Portugal, de um valor anual que chegou a ultrapassar 7% do PIB para um valor que estabilizou nos últimos anos em torno dos 2,5% do PIB a preços correntes de 2019.

O principal contributo para a redução anual do custo económico e social dos acidentes rodoviários foi dado pelos ganhos significativos registados na redução do número de vítimas com maior grau de gravidade, assinalando-se em particular a redução de 70% no número de vítimas mortais neste período e a diminuição em 80,7% no número de feridos graves.

Outras conclusões interessantes deste estudo apontam que os atropelamentos constituem a natureza de acidente com o custo económico e social médio mais elevado entre as diferentes categorias, com um valor estimado em 161.737 euros por acidente, embora seja outro tipo de acidentes, os que resultam em vítimas por intermédio de veículos agrícolas, os que mais custo aportam à sociedade, estimando-se em 466.998 euros por acidente.

Entre 1995 e 2019, Portugal investiu cerca de 33.682 milhões em infraestruturas rodoviárias tendo no mesmo período evitado 174.810 milhões de euros em custos económicos e sociais, valor que corresponde a cerca de 82,3% da riqueza criada em Portugal em 2019, e que é mais de cinco vezes superior ao valor investido. Também neste período foram evitadas a perda de 24.140 vidas, de 170.456 feridos graves e de 211.615 feridos leves.