Apetecia-me dar um beijo à polícia de trânsito japonesa

03/12/2017

Ao fim do dia cheguei à cidade de Kakegawa onde procurei um hotel. Encontrei um de uma cadeia “Smile” que achei graça porque o emblema era mesmo um desses “smile” como os do facebook. Só deixei de rir quando cheguei ao quarto que tinha a alcatifa toda suja e um aspecto bastante desolador, mas não quis procurar outro com medo de não encontrar alternativa. De qualquer forma foi mais barato que o costume e, tal como me dizia um professor em Inglaterra, “you pay for what you get”.

Pelas nove da noite saí à procura de um restaurante onde jantar. À esquina encontrei um único onde duas simpáticas e giras miúdas pareciam esperar o primeiro cliente da noite. Pedi a ementa e um Biru (cerveja) mas a partir daí a comunicação foi mais difícil. Elas não falavam uma palavra de inglês e o menu, sendo numa cidade de província onde não há turistas, estava todo em japonês e não tinha fotografias, como muitas vezes têm. Nem sequer havia outros clientes para eu poder escolher através do que tinham pedido e apontar para o prato deles. Estivemos uns bons minutos a rir os três com a situação até que uma delas se lembrou de procurar fotografias de pratos na internet. E assim escolhi o que queria através das fotografias no telemóvel da rapariga. Original

E já que não havia mais clientes elas sentaram-se na mesa ao lado da minha também a jantarem. Muito engraçado.

Já só estava a duzentos e poucos quilómetros de Tóquio de maneira que marquei pela internet Hotel para os dois dias seguintes na capital e fiz-me à estrada.

A zona que passa junto ao monte Fuji é linda, primeiro com uma estrada no topo da montanha com vista para o famoso monte, com o glaciar no topo, de um lado e um lago em baixo do vale do outro. Infelizmente o céu nublado do dia não me permitiu ver o Fuji mas a vista para o lago lá de cima é espetacular. Além disso, a estrada que desce até ao lago e sobe a montanha do outro lado é linda, com uma vegetação muito densa e grande variedade de árvores. O trânsito é que estava praticamente parado com o que parecia ser um passeio típico para as gentes de Tóquio. Lá fui eu pela faixa contrária a passar o traço contínuo, sempre que a segurança o permitia.

Ao entrar em Tóquio decidi fazer um filme com a Go pro no capacete porque é sempre engraçado a conversa que tenho com as pessoas a perguntar caminhos, comigo a falar inglês e eles a responderem invariavelmente em japonês mas, como a conversa é acompanhada por gestos, lá nos vamos entendendo. Neste caso era para encontrar o caminho para o hotel. Ainda não vi o filme de mais de uma hora mas deve estar giro. Principalmente porque, já no final, passei uma fila de carros que estava parada no sinal luminoso para virar para a rua do hotel e parei à frente deles. Quando arranquei estava uma mulher polícia ao lado de um alto motão, creio que uma Honda 750, a mandar-me parar. Era uma miúda giríssima, mesmo, que não teria mais de 25 anos. Fiquei embasbacado a olhar para ela, fardada e de capacete na cabeça com um enorme emblema dourado na frente. Sexy. Mas fiz um sorriso e disse-lhe que tinha toda a razão em mandar-me parar. O que vale é que ela também achou graça e falava inglês, para minha surpresa. Disse-me que eu tinha cometido uma infração e pediu-me a carta japonesa.

-Não tenho

-Não tem? Como?

-Não. Só tenho portuguesa.

-Não pode ser. E o que faz aqui?

-Sou turista.

-Turista, de moto?

-Sim. Tem matricula portuguesa

-Como é possível?

E para não complicar mais a conversa mudei o tema.

-Ajude-me lá. Sabe onde fica o Richmond Hotel? Disseram-me que era nesta rua.

– Sim. É ali em cima.

-Depois do cruzamento?

– Sim, no segundo sinal luminoso.

-Ah, óptimo. Muito obrigado

E resolvi a questão com mais um sorriso simpático. Apetecia-me dar-lhe um beijo mas achei que me levaria preso e desisti da ideia.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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