Citroën C4 Cactus: Quase igual e bem diferente

14/02/2018

Dizer que se trata de uma revolução é um exagero. Garantir que se sente a diferença custa pouco depois de três centenas de quilómetros no renovado C4 Cactus. Verdade que o carro é basicamente igual mas, em termos de conforto, temos o regresso a padrões que ajudaram a fazer a história da Citroën. E o carro que nasceu quase um SUV urbano, e até vendeu bem, torna-se agora numa simpática berlina. A suspensão com duplos batentes hidráulicos progressivos ajuda, decididamente, e veio para ficar…

Estreei-me no banco do lado e, pouco depois de arrancar, senti-me a viajar no tempo e a pensar se não estaria num velho DS de suspensão hidráulica, embalado por aquela sensação de leveza inigualável. Na primeira curva, comecei a sentir a diferença. O prometido “tapete voador” afinal não era apenas um confortável colchão de água silencioso. Ganhava outra vida em curva e, em vez do esperado molejamento, revelava-se aquela firmeza que leva a cumprir em curva e a ganhar confiança. Com uma nota especial: mantinha-se o conforto.

A suspensão de duplos batentes hidráulicos progressivos – estreada no “chinês” C5 Aircross – causou-me boa impressão e acredito que, bem depressa, vai generalizar-se na gama Citroën. O sistema é simples, o amortecedor está no meio de dois batentes, um de alívio e outro de compressão. Daí, e de acordo com o momento, mola e amortecedor controlam em conjunto os movimentos verticais sem a intervenção dos batentes, quando a suspensão não é chamada a grande esforço.

Em situações de compressão e alívio mais significativas, como explica a Citroën, a mola e o amortecedor trabalham com os batentes superior e inferior de compressão hidráulica. Retarda-se assim o movimento de uma forma progressiva, evitando e libertando sempre uma parte da energia que o batente hidráulico absorve e dissipa. Não há, por isso, as bruscas pancadas nos limites do curso do amortecedor.

William CROZES @ PLANIMONTEUR

A solução garante equilíbrio tanto em apoio como quando sujeita ao confronto com as irregularidades do piso e mesmo com jantes de 17 polegadas tudo se passa quase sempre naturalmente e em favor do conforto mas também da eficácia. É claro que o sistema não resiste sem queixume a todas as batidas, mas em estradas secundárias, estreitas e sinuosas, alguma “secura” apenas se notou ligeiramente em resultado de um piso mais agressivo, remendado e muito irregular. Era difícil melhor!

Para o conforto a bordo deste renovado Cactus também contam os bancos Advanced Confort que equiparão as versões topo de gama. Têm uma construção diferente, usam uma espuma de elevada densidade e apresentam costas mais largas. A postura é de facto diferente, mas também é verdade que pode sentir-se e falta de algum apoio lateral, nas tais estradas sinuosas por onde a Citroën se atreveu a mostrar as qualidades do carro.

Verdade, não é um desportivo…

Acresce um trabalho razoável no melhoramento da insonorização, que contemplou vidros mais espessos, reforço ao nível do tablier, cuja conceção foi revista, e ainda melhor isolamento do motor e do piso. Pelo menos nas versões a gasolina, nada a dizer.

E falando das coisas menos boas, o Cactus continua, claro, a não ser referência em matéria de espaço no habitáculo. Experimenta-se algum conflito ao nível dos cotovelos, à frente; atrás o espaço é vulgar, tanto para as pernas, como para a cabeça de um passageiro mais alto. Talvez por isso, as versões com tejadilho panorâmico não contemplem a cortina… Reparo ainda para a manutenção do vidro de abertura em compasso nas portas traseiras. O princípio da Citroën é válido, mas custa a aceitar por muita gente. Não deixou de vender por isso!

No que respeita à mala, o espaço (358 litros) anda pela mediania e não compromete. Menos brilhante é a altura do plano de carga e o desnível para o fundo, que torna menos fácil o manuseamento de uma mala mais pesada. Os bancos traseiros rebatem na proporção 1/3-2/3 e a chapeleira continua a ser uma tampa rígida ligada ao portão.

O ambiente a bordo ganha imagem mais rica quando se conta com os bancos Advanced Confort, valorizados também do ponto de vista do design e dos acabamentos. Mas o resto mantém-se, incluindo alguns plásticos que não parecem ao nível do original design do interior, com o porta luvas a sugerir a mala de viagem e as pegas das portas a darem continuidade à mesma ideia.

Interessante é constatar como esta nova realidade consegue ser vivida na ideia de outro automóvel, mais simplesmente como se vestiu a imagem do Cactus enquanto confortável berlina. Antes de mais ficaram reduzidos à expressão mínima os emblemáticos Airbumps, agora discretamente integrados na bordadura plástica que protege todo o contorno da carroçaria, guarda-lamas incluídos. “Caíram” também as barras do tejadilho, baixando assim a silhueta. Diferença maior, a cosmética operada na dianteira que ganha familiaridade com a solução seguida no C3 e no “seu” Aircross. Um toque de irreverência em que se destacam os LED diurnos na continuidade do emblema com o double Chevron, a encimar três planos luminosos – os faróis redesenhados e com uma moldura que os destaca, as luzes de nevoeiro no para-choques.

Mais baixo e com a frente redesenhada, o Cactus parece mais compacto e robusto e também mais largo, principalmente atrás, em função do alargamento das luzes traseiras (dois módulos por ótica), igualmente com nova assinatura. Em termos gerais, operação conseguida, um carro mais sóbrio, adaptado, sem dúvida, à imagem da berlina.

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