Atravessar Monument Valley de moto como num western

28/04/2018

Quando deixei Salt Lake City, onde montei o novo jogo de pneus na moto, fiz cerca de 200 quilómetros em direção ao Sul e fui ficar na pequena cidade de Price onde tinha combinado jantar com a Filipa, uma rapariga de Braga que o Ross tinha conhecido em Portugal e que ajudou a que fosse admitida na Universidade de Price para estudar Engenharia Espacial, um sonho de criança. A Filipa, de 19 anos, é a única europeia a estudar naquela universidade e estou certo que se vai formar com ótimas notas. Quando a fui buscar para jantar e lhe propus chamarmos um táxi porque estava frio disse logo que não, que gostava imenso de andar de moto. Muito simpática a desembaraçada, como boa nortenha que é.

No dia seguinte, antes de deixar Price, fui a uma bomba de gasolina para levantar dinheiro numa máquina ATM. Ao meu lado, no seu Chevrolet preto, parou o xerife local, um rapaz alto, com menos de 40 anos, cuja farda eram uns jeans, uma “T” shirt do Trump e um boné da sua equipa favorita de Baseball. Entrou atrás de mim na bomba e ficou, nitidamente, a ouvir a minha conversa com a menina da bomba a perguntar onde haveria outra ATM, com o ar de: “o que é que este forasteiro anda a fazer na minha terra?”. Pensei em pedir-lhe para tirar uma fotografia com aquele traje junto ao carro de xerife mas tive medo que levasse a mal e desisti da ideia.

Continuei rumo ao Sul, a caminho dos National Parks “Canyonlands” e “The Arches”. O primeiro é um parque com um enorme vale ao estilo do Grand Canyon e quase tão monumental quanto aquele. O segundo, a meia dúzia de quilómetros tem, tal como o nome indica, uns arcos em rocha que formam uma espécie de pontes naturais. Sensacional.

Nesse dia saí do parque já de noite e instalei-me num hotel da cidade de Moab para no dia seguinte continuar para sul, agora a caminho de Monument Valley. Cheguei lá pelas duas da tarde e como o único hotel no local era caro e estava bom tempo optei por acampar no parque. Aqui já é Arizona e terra sobre o domínio dos índios que não só cobram a entrada no parque como estão na receção do Hotel ou parque de campismo, bombas de gasolina das redondezas, etc. Têm até a sua própria polícia e a dos estados vizinhos não se mete na vida deles.

A paisagem em Monument Valley parece de estátuas que se elevam no meio do deserto. Enormes rochas encarniçadas que atraíam John Ford a ali filmar os seus westerns com John Wayne e outros atores da época.

Depois de montar a tenda fui percorrer a estrada de terra que dá uma volta pelo parque mas, com a suspensão traseira em mau estado, tive que rodar devagar. Quando, três dias antes estava a substituir os pneus, o mecânico veio chamar-me para ver a suspensão traseira da moto.

O rolamento do apoio inferior do amortecedor traseiro já não estava lá, certamente devido ao tratamento que a moto levou, com muito peso em cima, nas esburacadas estradas da Índia e Birmânia. Não há nada que aguente. Assim o amortecedor andava apoiado no parafuso, evidentemente com uma enorme folga. Vinha há tempos a sentir a moto com um comportamento em curva deficiente, mas sempre pensei que seria por desgaste do amortecedor. O parafuso terá agora que aguentar mais cinco dias, altura em que chego a St. Louis e para onde, desde Portugal, me mandaram as peças de substituição.

Jantei no restaurante do hotel e fiquei na sala de entrada ao computador até cerca das dez da noite, altura em que fui para a tenda montada num parque de campismo original, numa inclinação em terra com pouca vegetação a dar para as elevações principais de Monument Valley.

Enganei-me a entrar dentro do saco cama ficando na posição para verão, com menos proteção. De noite a temperatura desceu para uns sete ou oito graus e passei um frio de rachar, mesmo depois de estender o blusão por cima de mim a fazer de cobertor extra. Só quando o sol nasceu a temperatura subiu um pouco e, depois de constatar que estava na posição errada do saco cama, consegui dormir um pouco melhor. Quando finalmente acordei já eram nove da manhã.

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