Butão, o lugar da felicidade tem um preço

09/02/2017

Ontem à noite, tinha adormecido há pouco mais de cinco minutos no pesadelo daquele hotel quando dei um salto da cama ao acordar com uma enorme explosão. Pensei que fosse uma bomba terrorista junto à esquadra da polícia, ali perto. Saí do quarto em calças de pijama e tronco nu e vim cá abaixo ver o que se passava. Os empregados estavam calmos e um deles disse-me que deveria ter sido um pneu dum camião a rebentar. Nunca vi nada assim.

Esta manhã voltou a reunir-se uma multidão à porta do hotel para me verem partir, ainda não eram 9.00h.

Segui pela estrada de ontem a caminho da fronteira com o Butão com a grande vantagem de esta parte da estrada ter muito menos camiões. Depois, à medida que o trânsito diminuía, também o piso ia melhorando. A uns 40 Km da fronteira vi um letreiro a anunciar um Lodge numa reserva animal, no meio da floresta. Entrei para beber uma água e ver como era. Ainda pensei ali ficar dois dias a descansar da “sova” que tinha levado no dia anterior, mas quando me disseram que a época de safaris estava fechada e só abria dentro de dois dias, decidi arrancar.

Na alfândega de saída da Índia perguntaram-me se já tinha o visto para o Butão e quando disse que não, disseram que não me podiam carimbar a saída. O oficial indiano informou-me que teria que tratar pela internet e demoraria 15 dias.

Decidi então ir falar com os homens da alfândega do Butão. Pedi aos guardas que me deixassem passar e expliquei ao chefe da alfândega que não poderia esperar quinze dias. Simpático, mandou-me ir ter com uma agência de viagens do Butão, do outro lado da rua, que não acreditaram que o chefe da Alfândega me tivesse lá enviado. A dona mandou um empregado comigo junto de chefe confirmar a situação e depois disse-me que conseguiria o visto em duas horas. Não se lembrou foi que é feriado no Butão este sábado e segunda pelo que só o terei na terça.

O Butão é supostamente o país onde a população é a mais feliz do mundo. A brochura que me entregaram sobre o país tem mesmo uma frase elucidativa: “A felicidade é um lugar”. Tenho muita curiosidade em saber se sentimos essa felicidade nas ruas. Só que a curiosidade paga-se caro e ali não querem visitantes pobres.

O visto custa 40 dólares o que é um valor normal mas, por cada dia que um turista passa no país cobram, logo à entrada, 290 dólares. Sim, 290 dólares americanos. Sabia que havia uma verba a pagar ao redor de 200 dólares mas não pensei que fosse tanto. Viajantes em grupo pagam “só” 250. Tinha ideia de ficar três ou quatro dias mas, tendo em conta o valor, pedi visto só para duas noites. Entro na terça e, quinta feira ao final do dia tenho que estar de saída. Espero que a ideia não pegue noutros países.

A boa notícia é que com esse valor não gastamos mais um tostão. Ele inclui o hotel, a alimentação, entradas em espaços públicos como museus, etc. e até um guia para nos acompanhar, que vou pedir que esteja só nas cidades que vou visitar. Até a gasolina para a moto está incluída no pacote. Não deixa de ser muito caro. Os naturais dos países vizinhos, Índia e Bangladesh, estão isentos deste pagamento para além dos das Maldivas, vá-se lá saber porquê. Provavelmente é onde o rei do Butão costuma ir passar férias.

Lá deixei os 620 dólares com a dona da agência e voltei cerca de 30 Km atrás para o Lodge na floresta, onde me instalei.

Aqui não há internet e para conseguir ver os mails desloquei-me à aldeia mais próxima onde um miúdo tem um “internet café”, com um único e velho computador que me parece estar livre a maior parte do tempo só que, estava há pouco mais de 20 minutos na internet, prestes a mandar uma mensagem à minha filha, quando a eletricidade acabou na aldeia. O miúdo disse que às vezes era só durante 15 minutos, mas como não regressou passada meia hora voltei ao Lodge e tento novamente amanhã.

Este Lodge, que pertence ao estado, não tem o “charme” daquele em que fiquei no Nepal mas pelo menos tem bons quartos e relativamente limpos, boas refeições e custa o equivalente a 25 euros por dia em pensão completa. Sou muito bem tratado e agora até me vieram perguntar se queria que levassem amanhã o pequeno almoço ao quarto.

Nada mau.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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