Pela costa oriental da Grécia

11/12/2016

Esta manhã saí finalmente com bom tempo. Tinha ficado numa pequena cidade a 2/3 do caminho entre a costa Ocidental e a Oriental. Comecei por rodar numa óptima estrada de montanha com bom piso e seco, para variar, e passei depois para uma estrada de campo numa longa planície.

Pelas duas da tarde cheguei a Thessalonika uma cidade costeira onde almocei.

Antes tinha parado numa oficina de tratores que encontrei no caminho para olear a maneta da embraiagem que, com as chuvadas, estava barulhenta. O homem, quando soube que vinha de Portugal, convidou-me para beber um café e, ao ver o trajeto que tinha feito no dia anterior no mapa, disse-me que nas notícias tinham mostrado a grande tempestade que se abateu sobre essa zona. Senti-a no pelo.

Da parte da tarde, quando procurava uma estrada mal assinalada que me levaria a uma península que me recomendaram visitar, andei perdido cerca de 80 Km. Já era tarde e rapidamente anoiteceu. Como circulava nessa altura numa estreita estrada de campo com algum mau piso e curvas com humidade agradeci que na Honda se tivessem lembrado de montar o kit de faróis de nevoeiro que iluminam muito bem as bermas pois o farol de origem da “Cross Tourer” não é grande coisa em termos de luminosidade. Talvez devesse ter montado uma lâmpada mais forte.

O que vale é que estava uma noite de lua cheia, o termómetro da moto marcava 20 º e um céu pouco nublado mas onde, ao longe, se viam raios. Fantástico.

Depois de conhecer um pouco melhor este país e ter falado com várias pessoas penso que a situação é ainda mais preocupante de que parece. Nos muitos quilómetros que fiz pela Grécia não vi uma única industria. De facto a Grécia vive praticamente do turismo, para além da exploração da sua frota marítima, que já foi das maiores do mundo, no tempo dos Onassis e Niarchos.

Os gregos parecem não ter bem noção da situação em que vivem pois a vida é mais cara que na Croácia, por exemplo, que estou certo vai ficar com muito do turismo grego e até Portugal, principalmente se soubermos explorar bem três zonas de enorme potencial e que ainda não estão estragadas: a região interior norte, incluindo o Douro, a Costa Alentejana e a zona do Alqueva.

Por outro lado em Portugal já estávamos habituados a viver com pouco dinheiro e por isso vamos aguentar melhor o esforço que os gregos que têm ordenados médios bastante superiores aos nossos e vão obrigatoriamente sofrer reduções drásticas. Penso que a situação aqui vai piorar muito nos próximos dez anos e quem emprestou dinheiro ao país, incluindo alguns bancos portugueses, que o esqueçam porque nunca o vão poder pagar. Estou convencido também que, por mais engenharias financeiras que a Europa faça, é uma questão de meses para entrarem em incumprimento.

Enfim, foi só um desabafo. Penso que muito bem estamos nós quando comparados com eles.

Tessalonika. 29 de outubro de 2012

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica diariamente o seu livro de bordo

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