Descobri um Mini Moke português no Japão

10/10/2017

O Japão é composto por 6.852 ilhas mas quatro delas ocupam 97% do território. A maior, Honshu, é onde está Tóquio e Kobe, o porto onde a moto foi parar, vinda da Austrália.

A fábrica da Honda em Kumamoto na ilha de Kyushu é onde produzem as motos de grande cilindrada. Na altura em que iniciei esta viagem, há quarto anos, o engenheiro chefe do projeto “CrossTourer” tinha-me convidado a visitar a fábrica quando por aqui passasse e, como eles fecham para férias no dia 11, combinei lá ir direto, mal chegasse. Arranquei, no segundo dia pelas nove da manhã em direção a Kyushu sempre debaixo de um calor abrasador e por estradas com uma única faixa para cada lado.

Os arredores das cidades mais movimentadas são cinzentos e tristes. As construções são feias e desordenadas e o aspeto desolador.

De repente, no meio daquele cinzento, vejo uma oficina de minis dos antigos que parecia tirada de uma fotografia inglesa. Parei curioso. O dono, um japonês dos seus 50 anos que não falava uma palavra de inglês, veio cá fora receber-me e mandou-me entrar para um escritório/stand onde um Frogeye fazia companhia a uma carrinha Mini e um Cooper. À volta armários com peças Mini em exposição e nas prateleiras uma completa coleção de livros sobre Mini em … inglês. Não tive lata para lhe perguntar se já tinha aberto algum.

Quando lhe disse que era português apontou para um Moke que tinha na garagem e arranhou: “made in Portugal”. Disse-lhe que as rodas não eram de origem, que os portugueses vinham com jante doze e não dez e ele confirmou a troca e olhou-me com ar de respeito, a achar que estava perante um entendido na matéria. Ofereceu-me uma pequena placa metálica da sua atrativa oficina e, vinte minutos depois, voltei a arrancar em direção a sul.

Perdi o meu GPS antes de partir para a Austrália e, não o tendo ainda substituído, tenho-me guiado por mapas, à antiga. O problema aqui foi ainda não ter encontrado um mapa com os nomes em inglês de maneira que é difícil guiar-me por eles. O que me vale é as estradas estarem numeradas.

Assim fui seguindo o trajeto que me levava para sul e, à medida que o trânsito e as construções diminuíam, o verde da paisagem sobressaía.

Quando atravessei a ponte para Kyushu pareceu-me ter entrado noutro Japão. Um país com uma paisagem deslumbrante, sem muita concentração de gente nem construções nestes locais mais afastados das grandes cidades. Enfim, finalmente o país que tinha imaginado. A ilha de Kyushu é muito montanhosa, como a maioria do Japão.

Sendo um país vulcânico com importantes rachas tectónicas estão sujeitos a tremores de terra de grandes dimensões a uma cadência de um a cada cerca de cinco anos. No de Kobe, em 1995, morreram 6.000 pessoas.

Este ano o centro do tremor de terra foi precisamente na cidade de Kumamoto. As paredes exteriores da fabrica não caíram, mas o interior ficou destruído e a produção parou por dois meses até conseguirem pôr parte da linha a funcionar. Os homens da Honda tinham-me recomendado que fosse pela autoestrada pois muitas das estradas da montanha ainda não estavam transitáveis.

Nas autoestradas circula-se bem mas o sistema de portagens não está previsto para as motos, por serem escassas, no país que as produz em maior quantidade.

Assim, quando chego à portagem de saída vem sempre um homem ou uma mulher fardados, com um capacete de plástico na cabeça e um bastão luminoso numa mão a abanar muito. Correm em pequenos saltinhos, como vemos os japoneses nos filmes e parecem saídos de uma comédia.

Pedem para estacionar no parque e perguntam-me pelo “ticket” de entrada, sempre muito sorridentes e a falarem muito. Depois seguem para o escritório com o dinheiro ou cartão de crédito, sempre aos saltinhos, não sem antes fazerem dez vénias. Regressam dois minutos depois a entregarem-me o recibo e despedirem-se com outras dez vénias, um hábito por estas terras muito engraçado e simpático.

No Japão são todos extremamente simpáticos, pelo menos com os turistas e, cada vez que peço uma informação a alguém, desdobram-se em amabilidades e vénias e, mesmo sem falarem uma palavra de inglês, pois quase ninguém fala senão japonês, vão imprimir mapas ou procurar locais através da internet dos telemóveis mas ajudam sempre, seja o empregado da bomba de combustível, o simples transeunte ou a recepcionista de loja ou Hotel.

Saí da autoestrada uns 40 Km antes de Kumamoto para procurar por ali um hotel e no dia seguinte seguir por estradas secundárias até à fabrica.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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