Do festival Obon até à fabrica da Honda em Kumamoto

11/10/2017

Já fora da autoestrada encontrei o que eles chamam um “Business Hotel” que são uma espécie de Ibis lá da zona. Há várias cadeias mas têm todos uma coisa em comum. As casas de banho foram certamente encomendadas ao mesmo fornecedor e parecem as dos barcos. Uma espécie de cubos pré fabricados que aplicam num canto do quarto, aliás ao estilo dos Ibis. Mas são funcionais.

Nestes hóteis, o preço por noite ronda os 55 euros mas algumas vezes inclui jantar. Só que a cozinha japonesa de restaurante de meia tigela é mesmo fraca. A sopa é de legumes, sempre igual e má e os restantes pratos à base de arroz temperado com algum molho feito com peixe ou fritos de alguma espécie e legumes estranhos. O que vale é que sou de pouco alimento e por isso durante o dia normalmente compro uma sandwich, um sumo e uma banana no caminho e só à noite levo com a refeição de Hotel.

Quando cheguei as meninas da recepção anunciaram-me que nessa noite havia um festival ali perto dedicado ao Obon que é um período no ano, de três ou quarto dias, em que os japoneses se reúnem em família, normalmente nas suas terras de nascença, para lembrarem os familiares mortos. Embora sejam supostamente budistas a maioria dos japoneses liga pouco à religião mas seguem estes costumes.

Fui assistir a esse festival onde aconteceu um fenómeno estranho. Em Agosto aqui está sempre muito calor e o céu por vezes esta um pouco nublado mas chove pouco. Pois a meio do festival, pelas oito da noite, o céu abriu-se e começou a chover, e forte. Parecia que os Deuses estavam a abençoar a cerimónia. Consistia em danças que parecia misturarem-se com artes marciais iluminada por centenas de tochas carregadas por miúdos. Fantástico.

Gosto de assistir a este género de cerimónias locais, fora dos circuitos turísticos. Nesta ilha ainda não encontrei nenhum estrangeiro e é talvez por isso que me tratam tão bem.

No dia seguinte arranquei pelas oito e meia da manhã, depois de um pequeno almoço de sopa de legumes e arroz pois nestes hotéis de província muitas vezes não há pão, que os japoneses não o comem. Parti por estreitas estradas de montanha, aqui já com pouco transito, até à fabrica da Honda, perto de Kumamoto.

Ao meu encontro vieram o engenheiro chefe do projeto “Cross Tourer” e de outros modelos, outro engenheiro de pesquisa, o chefe de comunicação da fabrica e um ajudante da parte técnica que, já de capacete enfiado, pediu para levar a minha moto. Os outros fomos beber um café e conversar sobre a minha viagem e da fábrica com os problemas que teve com o tremor de terra que praticamente destruiu o seu interior.

Tinham retomado a produção há três ou quatro semanas mas ainda em pequena escala, fabricando cerca de 300 motos por dia em vez das habituais 700. A semana passada tinham estado a produzir a nova Africa Twin que tem sido um sucesso mundial, com milhares de clientes à espera da sua, depois da produção ter parado quase três meses.

Normalmente não poderia ver a linha de produção nas condições em que estava a funcionar mas, perante a minha insistência, lá deixaram. A linha reduzida obriga a que mais peças sejam montadas por cada trabalhador e a montarem as 750 bicilíndricas naquele dia estavam desde uma miúda gira de 18 anos que achou muito divertida a minha visita, até um rapaz dos seus sessenta, todos em perfeita sintonia.

Num local à parte apenas dois funcionários montavam uma das duzentas e poucas RC, réplicas da moto de GP (garantiram-me que o quadro, braço oscilante, etc. são os mesmos, assim como grande parte das peças do motor, suspensão, travões, etc.). 180.000 euros de moto de estrada. A mais próxima de uma MotoGP que alguma vez foi fabricada, garantem.

Ao fim da manhã reunimo-nos para uma fotografia de grupo com o pessoal de desenvolvimento de produto, que adoraram a minha visita e a minha moto onde, para minha surpresa, tinham montado pneus novos, que os que lá estavam já tinham muito pouco piso, proteções de punhos novas, que estavam partidas e um novo vidro de carenagem, a voltar a ser transparente. Fantástico.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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