O elefante e a Go Pro

01/02/2017

Ontem à tarde, quando cheguei à aldeia em que pernoitei, a primeira pessoa que encontrei foi um tipo meio indiano, de ar simpático, que teve curiosidade de saber porque quereria eu ficar hospedado em aldeia tão pouco atraente. Contei-lhe a história da Go Pro perdida na estrada da floresta a poucos quilómetros de ali e propôs-se logo arranjar um grupo de pessoas para me virem ajudar a procurá-la no dia seguinte. Hoje, às oito da manhã, estava a bater-me à porta do quarto daquele mini hotel. Era amigo do dono.

Tomei um chá e um pão com ovo estrelado na esplanada de mesa única, que o dono me preparou enquanto a jovem mulher rezava, na entrada, a um Deus que ela tinha num rudimentar altar de madeira enquanto tocava uma campainha freneticamente, para afastar os maus espíritos, calculo.

Partimos antes das nove para o local onde a câmara tinha saltado. O meu amigo à minha pendura e o irmão, dois amigos e o dono do hotel em outras tantas 125. Estivemos os seis a vasculhar a floresta junto às bermas da estrada durante mais de uma hora sem sucesso até que desisti e disse. “vamos embora, não se encontra”. O meu amigo, sem se dar por vencido respondeu: “então vamos só fazer uma ultima busca nestes cem metros de estrada”. Passados dez minutos encontrei a Go Pro no meio da vegetação.

Todos saltámos de alegria e o meu amigo deu uma explicação para a descoberta que envolvia Deus, as ondas que as nossas mentes transmitiam uma à outra através desta nossa amizade com pouco mais de 12 horas e outras forças ocultas que não soube decifrar.

Fui a casa dele beber um chá e tanto pais como filhos estavam tão contentes como nós por termos conseguido encontrar a câmara. Ligámos a Internet para trocarmos amizade no facebook mas, quando estava a escrever o meu nome, pum, acabou e eletricidade. Trocámos notas com os e emails de cada um e despedi-me. Senti que ficou meio aparvalhado por eu ter desaparecido tão depressa.

Voltei ao hotel buscar as malas e parti rumo a uma “wildlife reserve” que me disseram haver perto. Pelo caminho parei numa pequena oficina de motos à beira da estrada para recolocar os parafusos da carenagem que me tinham saltado no inferno das estradas do norte da Índia.

Cheguei aqui à “Sapana Village Lodge”, um local fantástico junto a um rio no meio da floresta, antes da uma da tarde e pelas três, depois de um almoço com vista deslumbrante sobre o rio em que fiquei à conversa com uma família australiana de enfermeiros que, de há vinte anos para cá, dão assistência às populações aborígenas do interior do país. Estava montado num elefante em safari à procura de tigres e rinocerontes. Não encontrámos os primeiros mas uma fêmea rinoceronte com uma cria passeou-se junto aos elefantes sem qualquer preocupação enquanto veados saltavam pelo meio da selva que os elefantes iam devorando à sua passagem. Espetacular. Amanhã espero finalmente chegar a Katmandu que me têm avisado ser um pesadelo de pó, buracos, população e lixo.