Era uma vez na América na volta ao mundo de moto

02/01/2018

Conhecia pouco dos Estados Unidos. Nova Iorque e Boston, de quando vim correr de monolugar à oval de New Hampshire.

Depois de passar o mês de agosto a percorrer o Japão esta minha viagem à volta do mundo levou-me agora a San Francisco para onde a moto foi enviada, de barco, desde o porto de Kobe. Parti de Lisboa num avião da Sata rumo a Ponta Delgada para no mesmo dia seguir para Boston, na costa Atlântica dos Estados Unidos.

Tinha reservado lugar num hostal destes onde se dorme em camaratas, para tentar cumprir o meu “budget” de viagem. Cheguei de táxi a um bairro bastante central mas … um pouco “underground” por volta das nove da noite e decidi ir logo dormir pois teria que acordar às cinco da manhã para apanhar o avião que me levaria a S. Francisco e, com a mudança de hora, para mim já era uma da manhã. Os rececionistas eram um miúdo e uma miúda “African Americans”, como aqui lhes chamam. Ele com um barrete na cabeça a tapar a enorme cabeleira de rastas, ao estilo Bob Marley e óculos escuros, ela, gorducha, com aparência mais natural. Pareciam tirados de um filme. Depois de pagar o rapaz indicou-me um quarto e número de cama.

Na cama por cima da minha estava deitado um miúdo americano de descendência oriental que meteu logo conversa. Era simpático mas eu queria era dormir rapidamente e não lhe dei grande troco. Pus-me a ler na cama quando entrou uma velha, dos seus oitenta anos, mal vestida e despenteada, que olhou para mim e disse: “oh, oh, that’s my bed”. Assustei-me com a ideia que a cena seguinte fosse ela a enfiar-se na minha cama. Rapidamente disse que devia ir à recepção perguntar o que se passava pois fora lá que me tinham dado aquele número de cama para ocupar.

“Wow. This is weird” comentou o meu vizinho de cima quando conseguiu fechar a boca de espanto depois da velha sair, a resmungar, em direção à recepção.

Só voltou um quarto de hora depois quando já tinha apagado a luz e estava quase a dormir. Felizmente trazia um set de lençóis, pediu desculpa pelo barulho e tratou de fazer a cama do outro lado do pequeno quarto.

“This is weird”, repetiu o meu vizinho.

Ainda não eram cinco da manhã quando tocou o meu despertador. Tomei um duche e apanhei um táxi de volta ao aeroporto. Desta vez apanhei um voo da low cost Virgin America. Os aviões são novos e cómodos, mas as refeições são pagas à parte e até os auscultadores para permitir ter som nos filmes ou televisão são vendidos aos passageiros.

San Francisco é uma cidade mais pequena do que estava à espera. O hostal onde me instalei, “Fisherman’s Wharf” era simpático porque arejado, com uma grande sala de estar e junto ao porto onde a rua principal é das mais animadas da cidade com restaurantes e bares, músicos a tocarem nas ruas e museus com figuras de filmes extraterrestres ou artistas conhecidos em cera.

Sendo um país com pouco mais de 200 anos os Estados Unidos não têm monumentos com história e museus interessantes só certamente em Nova Iorque e provavelmente em Washington. Mas fabricam imponentes construções a imitar as romanas de há muitos séculos, como aliás o fizeram os romanos com o Vittorio Emanuele II, acabado de construir já pelo Mussolini. Aqui em San Francisco, quando de uma enorme exposição do início do séculos passado, principalmente focada em novas tecnologias, que festejava a abertura do Canal do Panamá, construíram uma enorme cúpula ao estilo romano e paredes do que poderia ser um antigo palácio em ruínas. Junto a um lago e um pequeno parque o atual monumento imita bem a realidade e tem um ar imponente e atrativo, destacando-se do resto das construções.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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