A infernal e apaixonante Mumbai

12/01/2017

Desde o dia em que cheguei à India e depois daquela má experiência que tive com o taxista que me trouxe do aeroporto, passei a circular de “rickshaw”, estes triciclos em que o condutor vai à frente e os passageiros num pequeno banco corrido na parte de trás.

Antes estes veículos eram movidos a pedais e força humana, mas agora têm o requinte de um motor Vespa 125 e caixa de 4 velocidades no punho, à antiga. A maioria dos motores ainda são a dois tempos e os pilotos destas máquinas infernais guiam-nas descalços, com o pé direito sempre em cima do pedal de travão e o punho do mesmo lado na posição “full throttle”.

Quando aquilo embala atinge aí uns 60 Km/h que à primeira vista parece pouco mas, com as razias que fazem a passeios, carros e camionetas, nós, passageiros, vamos sempre com o coração na boca. Tenho a sensação que arrisco aqui mais a vida que em toda a viagem de moto desde Portugal.

Estou há quatro dias em Mumbai e tenho mudado de hotel todos os dias. Não só por serem maus de mais, mas também para ir conhecendo diferentes partes da cidade. Ontem fui parar a um local agradável, em cima de um monte com vista para um lago mas não tinha espaço para dar a volta dentro da casa de banho e também não me atrevi a ligar o esquentador eléctrico, com um aspecto decrépito, com medo de ficar electrocutado.

Para fechar a porta do quarto uma tranca tipo porta de castelo e um comum cadeado. Só visto.

Hoje apanhei outro “rickshaw” e desci para sul rumo a uma parte mais civilizada da cidade. Nesta península perto de Colaba o trânsito é vedado a estas infernais viaturas, já se vêm bons blocos de apartamentos, Hoteis de luxo, stands de Rolls e Porsche e não há lixo espalhado pelas ruas. Parece que entramos noutra cidade. Não deixa, no entanto, de haver miséria nas ruas. Junto ao hotel, no passeio, vive uma família, com uma mãe e quatro filhos. Sempre que passo a senhora manda um filho diferente pedir-me dinheiro. Vou dando gorjetas, mas como não se dá dois passos sem nos pedirem alguma coisa deixo pouco a cada um. Hoje levei os vizinhos do passeio a comer um gelado aqui ao lado e adoraram.

De manhã um outro miúdo andou comigo durante horas. Não teria mais de seis ou sete anos. De vez em quando, sem qualquer razão aparente, fazia uma roda completa no passeio, tipo artista de circo. Os pais põem-nos a fazer estas habilidades para cativar as pessoas e para eles aquilo passou a ser quase uma necessidade.

Já não andam na rua sem fazerem qualquer malabarismo. Mais tarde vi uma miúda de quatro anos a equilibrar-se numa corda estendida a dois metros de altura, com a irmã mais velha a marcar o ritmo com um tambor.

É nesta zona da cidade que estão museus e galerias de arte e onde se joga criquete de calças e camisa branca e golf no único campo existente na cidade. O criquete é o principal desporto na India. Está para eles como o futebol para os portugueses. À noite havia um jogo importante num Estádio aqui perto e era a loucura nas ruas, antes de entrarem para o recinto, com vendedores de buzinas e bandeiras a fazerem enorme estardalhaço.

Aproveitei o dia para fazer visitas turísticas e passear um pouco a pé pela Marine Drive, a marginal cá do sítio.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica diariamente o seu livro de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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