Na selva da Malásia não encontrei tartarugas, mas um miúdo com a camisola do Ronaldo

21/05/2017

Sem encontrar qualquer tipo de macaco, arranquei daquela espécie de Hotel pelas 9 da manhã a caminho da ilha de Penang que fica perto da costa e onde também se pode chegar através de uma longa ponte. Fiz o trajeto por estradas secundárias e optei pelo ferry, por ser a primeira alternativa que me apareceu. Entrei no meio de uma enchente de “scooters” e estacionámos com muito pouco espaço entre as motos, apenas o suficiente para desmontar e esticar as pernas. Ao meu lado direito estava um casal em que a mulher trazia um bébé ao colo que não teria mais de um mês. Ficou em pé entre a minha moto e a “scooter” do marido que preferiu ficar sentado ao volante. Quando o barco ia para atracar na outra margem eu estava em pé do lado esquerdo da moto, à conversa com outro homem e com uma mão no punho da moto. Ao atracar, o barco bateu com tal força no cais que a minha moto, que estava no descanso lateral, se desequilibrou para o lado contrário, onde estava a mulher com a criança ao colo sem espaço para onde fugir. Como tinha a mão já no punho puxei-a com quanta força tinha e consegui, não sei como, voltar a pô-la direita, evitando que caísse para cima da mulher e do bébé. Acho que se eles não estivessem ali não tinha tido força para a levantar.

A Malásia tem uma população de 28 milhões de habitantes dos quais 22 milhões se encontram na parte continental ou West Malaysia, que faz fronteira a norte com a Tailândia e a Sul com Singapura. A outra parte do país, East Malaysia, com uma área aproximada à da parte ocidental, encontra-se na ilha de Borneo, que reparte com a Indonésia e o pequeno sultanato do Brunei.

A maior originalidade do sistema político é que têm um Rei mas que é eleito a cada 5 anos, de entre os descendentes hereditários dos monarcas de 9 dos 13 estados que formam o país. Na prática têm um sistema de rotatividade, de maneira que o rei muda a cada 5 anos.

A população é uma mistura de raças com influencias mais fortes tanto de Indianos como de Chineses.

Quando cheguei à ilha de Penang, ainda era uma da tarde e decidi começar por dar uma volta à ilha. Pelo caminho almocei num restaurante junto ao mar e, da parte da tarde visitei uma quinta de frutos tropicais, onde bebi um sumo.

Pelas quatro e meia da tarde estava em George Town, a cidade desta ilha com 290 Km2. É uma cidade gira por ser tão cosmopolita, misturando zonas de prédios e Hoteis modernos com bairros típicos que nos transportam no tempo.

Instalei-me numa Guest House dum destes bairros. A rua chama-se Love Lane porque em tempos era onde os empresários locais tinham os apartamentos onde instalavam as suas amantes, apartamentos esses agora transformados em pequenos Guest Houses e Hostais que albergam a maioria dos jovens ocidentais em viagem por aquelas bandas. A rua é muito animada, com bares bem arranjados e algumas lojas de tralha antiga muito giras. Parece estarmos nos anos 70.

Ali a dois passos visitei o bairro chinês com ruas típicas e a atração de “grafitis” extraordinários, por vezes em três dimensões, aproveitando partes de bicicletas ou outros materiais.

No dia seguinte decidi fazer uma caminhada através da selva de um parque natural existente na ilha que me levaria à “turtle beach” onde supostamente avistaria enormes tartarugas. O trajeto de quatro quilómetros através da selva, com subidas e descidas acentuadas em carreiros disformes é cansativo e acabei por conseguir uma boleia de barco para voltar da praia de onde as tartarugas tinham emigrado. Pelo caminho através da floresta encontrei muito pouca gente mas qual não foi o meu espanto quando vejo um casal de miúdos em que ele tinha vestida uma camisola da seleção portuguesa de futebol. Perguntei-lhe se sabia que camisola era aquela e o rapaz respondeu-me: “Claro. Sou um grande fã da seleção portuguesa”. Tem graça mas acho triste sermos só conhecidos nestes países longínquos através do futebol. Ninguém tem ideia onde fica Portugal e muitos nunca ouviram sequer falar no nome.

______________________________________________________________________

*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

ler + em Volta ao Mundo em Crosstourer