Um dia em Jacarta

11/06/2017

A Indonésia é o 15º país maior do mundo, com perto de dois milhões de quilómetros quadrados espalhados por mais de 17.500 ilhas, das quais cerca de 1.000 são permanentemente habitadas. Com mais de 250 milhões de habitantes é o quarto país mais populoso do mundo, a seguir à China, Índia e Estados Unidos. E sentimos isso quando circulamos nas ultra-congestionadas ruas de Jakarta, a capital.

O país é menos civilizado que os vizinhos malaios, tailandeses ou, principalmente, de Singapura. Aqui já se vê muito lixo nas ruas, embora não atinja as proporções indianas, rios transformados em enormes esgotos e um transito caótico onde voltamos a ouvir o barulho das buzinas. Os motoristas de táxi já escarram para fora da janela e dão arrotos.

Os processos burocráticos para a moto entrar nos muitos países que tenho atravessado é o que podemos chamar um 8 ou 80. Na Malásia, por exemplo, mal olharam para a moto e não me pediram qualquer documento. Em Singapura também entrei sem qualquer problema embora à saída me dissessem que deveria ter carimbado o Carnet na entrada. Aqui na Indonésia foi um processo complicado que durou vários dias e incluiu pedidos de papelada a múltiplas instituições. Ontem felizmente resolveu-se, até porque quando estou sem a moto me sinto como que descalço.

Mas o dia não começou bem. Ao sair do hotel de fraca qualidade situado nos últimos três andares de uma espécie de enorme centro comercial para ferramenta e material mecânico e eletrónico, o elevador travou de repente entre dois andares levando a que eu e um casal que também ali viajava, quase fôssemos atirados ao chão. A mulher assustou-se mas o namorado ainda estava com mais medo. O que vale é que a cena durou pouco tempo. Sem tocarmos em qualquer botão o elevador voltou a arrancar e parou tranquilamente no rés-do-chão. Felizmente era a última vez que tinha que andar nele. Apanhei um táxi à porta já munido do que pensava serem todos os papéis necessários para levantar a moto, mas o taxista não deu com o local onde estava a moto no caos que é o porto de Jakarta e acabou por me deixar noutro táxi local, que dizia saber muito bem onde eu queria ir. Não tínhamos andado mais de cinco minutos quando percebi que me estava a levar para longe do sítio previsto. Fartei-me de refilar e insultar o homem, mas às tantas comecei a achá-lo com um ar estranho. Só me dizia “slow, slow”, revirava a cabeça e quando eu me chegava à frente e olhava para ele puxava a camisa para cima a tapar-lhe a cara até aos olhos.

Fiquei preocupado, até porque me estava a levar para uma zona do porto com muito mau aspeto. Comecei então a tratá-lo bem e a dizer-lhe que era exatamente ali onde estávamos que eu queria ficar. “Pode parar aqui que é aqui mesmo”.

“No, no, slow, slow” e o homem não havia maneira de me deixar em lado nenhum. Eu a ver-me cada vez mais afastado do local onde estavam os escritórios da alfândega ia-lhe dizendo para parar junto a cada edifício que eu ficava ali mas o homem não parava mesmo. Sem saber falar inglês só repetia “slow, slow”. Passados três quartos de hora foi ter ao sítio onde eu realmente queria ir e só então percebi que nunca tinha estado perdido nem era maluco, mas quis apenas dar uma martelada no taxímetro.

Cheguei ao escritório da alfândega eram uma e meia da tarde e só tinha tomado o pequeno-almoço. Só consegui sair do porto com a moto às oito e meia da noite. Nessa manhã tinha deixado a mala num hotel pior do que aquele em que estava antes mas mais barato e, quando lá regressei com a moto, duas raparigas que bebiam um chá numa pequena esplanada de rua em frente, meteram conversa e por ali fiquei a beber uma cerveja antes de ir jantar.

Uma delas falava pouco inglês mas convenceu-me que era muito boa massagista, e era. No dia seguinte tinha aprendido a dizer “I want to ride your motorcycle”, de maneira que a levei a dar um passeio pela cidade. Fomos ver um teatro e uma exposição de pintura e a seguir pretendíamos ir até à praia, mas perdemo-nos no caos da cidade. Quando parei para pôr gasolina caiu uma carga de água daquelas que parece que o céu nos vai cair em cima. Fiquei um quarto de hora à espera que passasse, mas um homem avisou-nos que as ruas da cidade estavam a ficar intransitáveis e então lá arrancámos debaixo de chuva torrencial. Talvez por não chover há uns tempos e os esgotos estarem entupidos houve ruas em que a água chegava a meio das rodas da “Cross Tourer”.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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